domingo, 31 de outubro de 2010

O PV FAMILIAR

Olha aí, que chic, o João Henrique, marido da Alice (minha irmã) ao lado da ex-candidata Marina Silva. Ele sempre trabalhou com o ex-deputado federal, Leonardo Mattos e militou no Partido Verde. A bolsa que ela está usando é da Evelise, esposa do Joaquim José (mais conhecido por Quinzé). Esta foto eu peguei emprestada da minha querida nana.
VISITE www.nanademinas.com.br

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

VOCÊ CONHECE A BANDEIRA DO CARMO?

Símbolos Municipais

A Bandeira do Município

A bandeira do município de Carmo do Rio Claro foi criada pela Lei Municipal 605 de 1969. Conheça o seu signficado:

Cor: azul celeste, da beleza constante do nosso céu e que é espelhado nas águas da hidrelétrica de Furnas que se espalha pelo nosso município.

Estrela de cinco Pontas: em ouro claro, no alto e do lado esquerdo, tendo a inscrição 05-11-1877 (em cor branca) data da Emancipação Político e Administrativa do nosso município.

Frase em latim: “FLUCTUAT NEC MERGITUR” que circunda a estrela se traduz: “FLUTUA NÃO AFUNDA” (obs:tudo a ver com a nossa história!)

(está no portal da prefeitura de Carmo do Rio Claro) www.carmodorioclaro.mg.gov.br

terça-feira, 26 de outubro de 2010

FURNAS DA NOSSA HISTÓRIA


Eu já contei na literatura toda a história da chegada da água, do impacto sobre nós ribeirinhos do Rio Sapucaí, Rio Grande, Rio Claro... no livro Hortênsia Paineira - Inventário das Águas. O Job Milton me contou como tudo se passou. Foi assim: Juscelino Kubitscheck sobrevoando a região com dois engenheiros, observou uma curva e o estreitamento do rio em determinado lugar na altura da "corredeira", pras bandas de Alpinópolis, carinhosamente, Ventania. A idéia de Furnas nasceu dentro da campanha "Energia e Transporte", desencadeada pelo então governador. Mas foi como presidente, em 1956, em abril deste ano, que ele assinou o decreto para o início da construção da Usina de Furnas.
O "progresso chegou". Com ele, máquinas imensas e mais de sete mil homens, que migraram de todo o país para trabalhar na Usina. No Carmo, houve uma total invasão da privacidade e tranquilidade da pacata cidade no sul de Minas. Além da perda de cerca de 212,12 km quadrados, as suas melhores terras, a sociedade tradicional ainda teve que conviver com homens rudes, que criavam brigas de facas, engravidavam as meninas desavisadas. Uma vez vi o nosso Jé (do Bar XV) contar que -nessa época - ele criou o reservado do XV para acolher a sociedade acuada. Outra providência foi não vender cachaça.

A água foi mudando tudo, transmutando. Mais ratos - fugiram das águas para as cidades, mais pernilongos, mais chuva e a natureza toda em transmutação. Nadávamos no aterro, de uma árvore morta para outra e, em alguns lugares, a paisagem era como de um pântano. A Elisa e nossas mães tinham razão de ficar com o coração na mão quando íamos nadar no aterro.
- Meus Deus! Podia voltar morta.
Quantos voltaram! Quantos afogados enterramos! No começo, desavisados, mal sabiam nadar... e o chão, ah! o chão era um perigo. Podia ter buraco de tatu, cerca de arame farpado, redimunho...

Muitos partiram para outras terras. Muitos foram para São Paulo. O rádio convidava - São Paulo é São Paulo. Terra do dinheiro. O povo de São Paulo é muito hospitaleiro. Eu vim para São Paulo e não vou sair daqui, São Paulo conte comigo enquanto eu existir...
Na cidade, ficou o banzo...A perda..
Ali cresci, numa Carmo naufragada, ressurgindo. Hoje, olhando para as águas azuis, agradecemos a água que nos trouxe um ar de mar, de Guanabara. A visão da Serra da Tormenta é magnífica!!!

ENFIM! MUSEU DO INDIO EM CARMO DO RIO CLARO.

Ao centro, Antônio Adalto, ao seu lado, a prefeita Cida Vilela e o arquélogo Edson Luis Gomes.


O SITE DO CARMO ANUNCIOU; CRIAÇÃO DO MUSEU ANTÔNIO ADAUTO LEITE

No último sábado, dia 16 de outubro, sob a presidência do arqueólogo Edson Luís Gomes, reuniram-se a Prefeita do Município Cida Vilela, o Promotor de Justiça da Comarca Cristiano Cassiolato e o Sr. Antônio Adauto Leite, proprietário das terras em que foram encontradas mais de 3.000 peças históricas, para deliberar sobre a criação do “Museu do Índio”. Durante a reunião, foi lançada a idéia de se criar também a associação de voluntários, a qual se chamaria “Amigos do Museu” para zelar e fiscalizar o funcionamento do mesmo, estabelecendo cronograma para realização dos trabalhos com previsão de inauguração em 20 de Abril de 2.012. Além das peças do Sr. Antônio Adauto Leite, o Museu contará com peças já inventariadas do Sr. Emanuel Aparecido Mendonça (Santinho) e será sediado no prédio da antiga Câmara Municipal, que passará pelas adaptações necessárias. Também fora sugerido o nome para o Museu e acordados por todos, cujo será “Museu Antônio Adauto Leite”. Também estiveram presentes a Dra. Camila Rey Resende Balla (Procuradora do Município), Omar Nogueira (Chefe do Departamento de Cultura) e Suzana (filha do Sr. Antônio Adauto), juntamente de seu advogado Dr. Elder.

Texto: Everton Vinícius Teodoro Silva

MUITA JUSTA A HOMENAGEM A ANTÔNIO ADAUTO LEITE!

domingo, 24 de outubro de 2010

BISNETA DA VÓ ALICE DANÇA BALÉ CLÁSSICO NO CURSO DE FORMAÇÃO DO PALÁCIO DAS ARTES.



Muito orgulhosa, fui ontem assistir à suíte Dom Quixote do curso de formação de dança da Fundação Clóvis Salgado, no Teatro Municipal de Nova Lima. Entre as bailarianas, minha filha Ayrá Sol Soares Coelho com Renato Coelho. Bisneta de Alice Figueiredo - de Carmo do Rio Claro - e da vó Maria Ferreira - do bairro Sagrada Família, Belo Horizonte. Ela nasceu com a dança dentro de si. Sempre dançou espontaneamente. Com 4 anos, paramos uma festa em nossa casa de temporada no Rio Grande do Norte para ver a performance que ela fazia. Agora, faz aulas de balé clássico, moderno e popular e se prepara para um futuro promissor.

EPITAFIOS DO JOB!

Quando comecei a entrevistar o Job Milton, ele disse que nunca tinha escrito um livro, plantado uma árvore e tido um filho. Hoje, um livro ele publicou - O Livro Não Autorizado dos Epitáfios - Encontre o epitáfio certo para seu sono eterno. É hilário. Vou dividindo aos poucos com vocês. Olha o que ele sugeriu para seu epifáfio:

ÁRVORE ELE NÃO PLANTOU
LIVRO ELE NÃO ESCREVEU
FILHO ELE NÃO GEROU]
ENTÃO, ELE NÃO VIVEU...

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

CASOS DO JOB - CURIOSIDADES

quem se lembra da jardineira?

O tio Milton de Araújo Pereira chegou em Carmo do Rio Claro de cavalo para lecionar, em 1917. Era de Guaratinguetá. Dava aulas de português e matemática na escola do Dr. Lincoln de Souza, que ficavana praça do Fórum. Sempre de terno, impecável, era de uma disciplina excelente. Fundou o primeiro time de futebol do Carmo. Morreu com 95 anos.

Os Figueiredos de Carmo do Rio Claro vieram de Guaratinguetá, São Sebastião do Paraíso, Mococa, Alfenas, Elói Mendes e Varginha.

Carmo já teve: tiro de guerra e banda de música.

Job Milton tinha 16 anos quando fez a primeira letra do Hino do Carmo. Quem fez a música foi seu irmão, Lourenço.

Tia Carmelita Figueiredo foi uma das primeiras mulheres a dirigir carro na cidade.

Casa da Nivalda

A "Casa da Nivalda" - na porta mamãe, Quinzé, Edmundo, ??? e eu. Estamos em frente a atual loja dos artesãos do Carmo. A casa ao lado pertence a Ana Maria Vilela Soares.

Fátima
Na falta de fotos dos personagens descritos, publico a foto dessa festa de aniversário, com a saudosa vó Alice e os ainda pequenos Quinzé, Marília, Beto e Valerinha, no colo da Toninha. Lá na Casa da Nivalda.

Minha irmã querida, Fatima Melo, a Fatinha, escreveu esse texto lindíssimo para a comunidade Casa da Nivalda, no Orkut. ctrlC ctrlV. E aí está um presente para vocês. Deu saudades!

DR. MONTE RAZO 55

BELINHA este era seu nome, diziam que havia sido bela, quando moça a mais bela.

Quando a via agachada junto a um poste com seu surrado casaco que lhe cobria todo o corpo, lembrava-me sempre que havia sido bela, talvez por isto o nome Belinha.
Mas era o mistério que me ligava a ela. Para mim Belinha era alguém que planava sobre cidade, não morava, não comia e com certeza mijava debaixo daquele casaco. Sua voz nunca ouvi, seu cabelo, me lembro de um castanho liso talvez enrolado em um coque, acocorada sempre com o olhar perdido em um tempo qualquer.
Quando deixou de ser bela? Não sei.
Misteriosa belinha que até hoje povoa o meu imaginário, procurei respostas? Nunca. Belinha não tinha respostas, os mistérios são assim. Medo, curiosidade, fascinação rodeavam Belinha acocorada junto ao poste.
Volto da escola faminta, entro em casa, ainda sinto o frescor das tábuas de madeira, a liberdade daquele labirinto de esquerdas e direitas para se chegar à cozinha. Passo pela sala de mesa e cadeiras pintadas de verde, atravesso a porta da cozinha, e lá esta ela, acocorada em um canto , encostada a parede sobre o brilho do piso de vermelhão.
Meu Deus, o mistério entrou pela minha porta, sentou-se no meu chão, absorve o cheiro da comida da Elisa e aguarda o que instintivamente já sabia, um prato de comida lhe seria servido. Sem perguntas, sem interrogações, sem respostas. E assim se sucedeu, Belinha comeu e partiu no seu silêncio coberto pelo seu casaco de lã.
Voltaria muitas vezes, dividiríamos com ela nossa comida, comeríamos observando-a com um sentimento no coração que só Belinha despertava. Que só as belas despertam.
O Carmo de minha infância era assim, povoado por figuras que no meu entender de garota, não pertenciam a este mundo, hoje vejo que pertenciam sim, pertenciam ao mundo daquela Carmo do Rio Claro.
O Delegado, o Bráz, Seu Chiquinho, o cego, que morava no fundo da casa paroquial.
Seu Chiquinho, assim como Belinha, aparecia para almoçar.


Dele me lembro da voz, forte e também da um pedaço de pau que lhe servia de bengala. Mas seu Chiquinho não era Belinha, menos misterioso, endereço fixo, respeitado, podia frequentar as casas de família. Exigente, dia de almoço de seu Chiquinho, a comida tinha que ser especial, não gostava de ser recebido sem certa pompa. Pompa que naquele tempo significavam macarrão e frango, comida de domingo, de visita importante.
O Delegado também teve sua passagem, de novo voltando da escola, lá o encontro, dormindo no sofá da minha casa, se recuperando de mais uma de suas bebedeiras.Lembreo-me também de uma negra alta e esguia que morava perto da igrejinha de Nosso Senhor dos Passos, um dia quente de muito sol, fui impossibilitada de entrar em casa pois ela estava caída na porta num sono profundo, disseram que havia bebido. (a Lúcia)
Geralda, odiada pela minha cadela Pit, não Bull, vira lata mesmo. Ia tomar seu caneco de leite todos os dias, e uma vez teve um ataque epilético na sala. Já havia visto outros na rua. Dava-me um pouco de nojo, não maior que a curiosidade por este mundo habitado por pessoas tão impressionantemente fascinantes.
O que levava estas pessoas a entrarem em minha casa, será o fato de estar em uma rua perto da praça, perto da igreja, será o fato de sua porta estar sempre aberta?
O que pensou Belinha quando sentiu fome e escolheu aquela casa para entrar e nenhuma outra da rua? Que fascínio esta casa exerceu sobre o delegado para que se sentisse tão a vontade a ponto de dormir no sofá?
Uma casa é uma casa, feita de tijolos, madeira e cimento, coberta de telhas, umas maiores, outras menores, umas bem melhores que as outras. Mas é quem as habita que as tornam especiais, que lhe enchem de luz, de perfume, que a fazem pulsar como um coração.
São três mulheres que se tornaram o coração desta casa e o fez tão grande que o seu pulsar era ouvido por todos, pelos loucos, pelos bêbados, pelos jovens, por todos que conseguiam ouvir.
Atraindo-os como uma aranha atrai um inseto para a sua teia. Mas quando enveredado nesta teia não eram digeridos por ela, eram alimentados. Recebiam ali o que não se encontra em qualquer lugar, o mais puro amor e generosidade.
Vivi ali os mais felizes anos da minha vida, carrego comigo lembranças preciosas.
Na Dr. Monte Raso 55 com ações e gestos me ensinaram o que é o respeito, o carinho, a aceitar o mistério, o diferente, com uma tocante simplicidade.
D. Alice. Nivalda e Elisa, de algumas sou parte da carne, de outra sou parte do espírito.
Vocês estão em mim pois sou quem me ensinaram a ser. Obrigada.
A vocês que agora estão no céu e aos que ainda estão na terra e nesta comunidade. Felicidades.

CASOS DA ÁGUA LIMPA!


Em Minas Gerais, ouvi muitas histórias, principalmente as que se passaram na Fazenda Água Limpa. Com a licença poética, recriei a história de uma mulher que passou por aquelas paredes e lhe dei um outro nome:

OLONTINA

Tudo isso se passou por volta de 1897. Era uma vez dois irmãos: um muito bom, um muito mal. João Tromba, o bom, era amoroso com os negros. Zeca Tromba era uma peste. Olontina, filha do coronel vizinho da fazenda, amava João Tromba, mas seu pai resolveu dar sua mão para Zeca Tromba, porque era ele o mais velho.

Olontina, com os mais fundos olhos possíveis e a mais terrível das emoções no peito, prepara-se para se casar com Zeca Tromba. Homem ríspido. Duro de roer. Andava com um laço manejando-o no ar e ai de quem tivesse na frente. Se João Congo passava mesmo ao lado, o chicote lambia o lombo do negro sem dó nem piedade.

Maeva, a pajem, prepara um banho para Olontina, em água perfumada de colônia. A moça, em lágrimas. A ama conforta:

- Sinhá, num adianta chorá o seu destino. Aceite esse traste e tente depois domá ele.

Maeva era mãe preta, foi ela quem deu de mamar a Olontina, a tinha por filha e no coração carregava uma mágoa profunda pelo coronel que fez isso com a pobrezinha. Veio do Congo e era cativa, mas permaneceria na Fazenda Água Limpa mesmo depois de alforriada. Olontina não se conformava, perderia definitivamente João Tromba. O mundo era negro para ela. Ainda aquela noite seria de Zeca Tromba, que de fato a possuiu rudemente, sem cuidados, na secura dos humores, depois se virou para o lado e dormiu e roncou alto em seus longos bigodes, deixando a flor aberta em dor, em sangue, profanada, dolorida.

- Tina, sua mãe trouxe-lhe a roupa. É linda, toda bordada, foi feita pela Dona Nicotinha, o ateliê mais chic da cidade.

Dona Nicotinha aprendia as novidades no Rio de Janeiro e em Carmo do Rio Claro era a dama mais elegante e fina. Conta-se que um dia a cidade se preparou para receber uns militares, que ironizaram pensando que estavam indo para um lugar atrasado, na roça. Pois Dona Nicotinha se esmerou e preparou mesa com copos para água, vinho e talheres perfeitamente postos e até lavabo, para espanto das visitas, que acabaram bebendo a água do lavabo e a água da Jacuba, de fato.

A roupa lá, esperando. A ama derramando a água perfumada sobre a sinhá, vestida de camisola sobre a água. Nem ela ainda conhecia seu corpo em flor. Os sapatos finos vieram do Rio de Janeiro, eram brancos de pelica, ornados em delicados desenhos dourados e em um pequeno salto. A calda tinha mais de 10 metros de tule, trabalhados em lantejoulas. O enxoval chegou da Europa e desembarcou pelo Vapor Francisco Feio, que cortava as águas do Rio Grande e Sapucaí antes da hidrelétrica, que chegaria tempos depois.

- Maeva, será que ele vai deixar o chicote fora do quarto?

- Que é isso, sinhá. Homem nessa circunstância pode até se acalmar, quem sabe ele pode ser bom com você.

- Acabou. Rios de lágrima.

- Acabou, minha vida acabou. Terei que deixar João Tromba, o meu amor.

Sua mãe entrou no quarto, distinta, finíssima, como todos daquele lugar. Estava por um lado feliz, sua filha se casava na família Tromba e isso era distinção social, por outro, coração de mulher, temia pela filha, dar sua flor ainda mocinha para aquele homem rude, que todos conheciam por ali e sabiam dos seus procedimentos. Que idéia do Senhor Estevão meu marido, pensava. Por que não deu ela a João Tromba?

- Filha, chegou a hora.

Linda em detalhes e requintes, a mais linda flor da sociedade. Levantou-se e declarou:

- Estou pronta para os sacrifício.

Suas palavras ecoam até hoje naquelas paredes antigas. Conta a história da Frazenda Água Limpa que depois daquele dia e daquela noite, Olontina se matou.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

CASOS DO JOB


O Job conta a DONA NICOTINHA:

Dona NICOTINHA foi convidada para preparar o coquetel para uns militares na prefeitura. Enquanto eles não chegavam, AMADEU (um verdadeiro personagem-depois transcrevo os casos dele), que trabalhava na prefeitura, a pedido do prefeito (o Nonô) foi ver se ela estava chegando. Ao vê-la caminhando, ele voltou cantando a Marselheza. Ironizava a finesse de Dona Nicotinha. Já os militares estavam criticando, achando que aquela era uma cidadezinha pequena e ignorante. Dona Nicotinha se esmerou e até água de lavabo ela colocou à mesa do banquete. Eles - tão finos - acabaram tomando a água do lavabo e a da jacuba de fato.

Segundo Job, Dona Nicotinha fez teatro - como atriz e diretora. Dirigiu,entre outras, a peça"O Feitiço" de Oduvaldo Viana Filho. Ela era auto-didata. O pai era exímio musico, violinista, Seu Quinzinho (Sr. Joaquim Paiva). Ela frequentou muito o Rio de Janeiro, as operetas do Teatro Municipal.
Dona Nicotinha era estilista e tinha no antigo Carmo um elegante ateliê. "O povo prestigiava".

PODE UMA CASA HABITAR UM CORPO?


COPOS DE LEITE

É tudo assim ou é imaginação?

Será que a poesia toma conta de mim

a tal ponto que ela exista para mim

em tudo

Antes da vida ser o que ela é?

Às vezes, penso que não vejo o mundo como ele é,

mas o imagino.

Não vejo com os olhos.

Mas com os olhos dos olhos.

Hoje agora aqui a poesia me visita

E os copos de leite de Fazenda Água Limpa

Brancos se fazem,

habitando o dia em Belô.

Nessa manhã de frio.

As geadas do sul de Minerais.

Onde até hoje os carneiros pastam

e os homens casmurros vestem mantôs

de lã de carneiro.

Tempo frio e distante.

Um frio que corta.

E esfria meus pezinhos de criança

Em plena maturidade

Pode uma casa habitar um corpo?

A casa da Fazenda Água Limpa é parte do meu corpo.

Nela nasci e cresci, como uma casca em volta de mim.

Não existo sem suas longas paredes

E sem suas 39 janelas de puro espaço e visão.

Esquecer a Fazenda Água Limpa é como esquecer o começo

Menina de pés no chão

Cheiro de esterco! O fogo apagô cantando eternamente na Várzea

Dos meus sonhos.

Tempo de pai vivo.

Até hoje as paineiras imensas

Matronas e grotescas olham para mim

De dentro do tempo.

Elas, os muros de pedra, o adobe das paredes

Tudo me fala de mim, meu sangue, dos meus ancestrais.

E consigo acordar de novo meu pai Edmundo

Minha mãe Nivalda e a renca de irmãos

e com eles correr

pelas grandes tábuas largas cheias de um ventinho gostoso

Que vem lá dos grandes porões.

Os porões, os morcegos. Os negros.

Imensas toras contam caladas.

As pedras vindas de longe confirmam.

O pé direito alto dá testemunho de um tempo bem mais espaçoso

e fresco

Um tempo onde todo mundo tinha tempo.

A casa conta coronéis e sinhazinhas.

Conta fantasmas.

Mitos e mistérios.

Fazenda Água Limpa.

Seu nome retumba pela região.

Na várzea, tuiuiús, garças brancas e cor de rosa, patos, marrecos... Gaviões, tucanos, maritacas, papagaios... Ainda se vê lobos por lá. Capivaras, Tatus.

O Lago de Furnas na paisagem

lembra que a água veio,

mas não chegou na fazenda.

Lá deságua o Rio Claro.

Lá corre o reguinho de águas puras

Um dia um beija-flor do rabo branco me visitou.

Estava meditando na beira de um riacho.

Três vezes voou sobre a água, diante de mim.

Na família anuncia morte.

Mas desta vez, tinha certeza

Anunciava vida.

Que Deus, no beija flor,

era resposta às minhas orações.

E me presenteava com aquele sinal,

só entendido por alguém

que um dia teve o privilégio de conhecer Alice Figueiredo.

Ela tinha premonição dos beija-flores.

O beija flor apareceu ali mesmo,

entre os copos de leite da Fazenda Água Limpa.

24 de junho de 2009.

O POR DO SOL DO CARMO É


mais bonito que o pôr do sol de Cordisburgo de Guimarães Rosa...

SOU PEIXE DE REPRESA!


Sou peixe de represa

Água profunda

Mistérios de água doce

Ondas pequenas ao sabor do vento

Tilápia bagre piaba lambari

Sou peixe fedorento de água represada.

Trago marcas escuras de sol sem sal

Cor sem o tempero do mar.

Cheiro à minhoca

Tenho um mar de água doce me afogando

E um domingo gordo

e calmaria.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

MEU AMOR!


Quero aqui declarar meu amor pela minha querida família e minha cidade de Carmo do Rio Claro!

O NOSSO GABRIEL VILELA!


O grande Gabriel Vilela, um verdadeiro gênio como cenógrafo e diretor, nasceu em Carmo do Rio Claro. A sua avó Carmelitana é irmã da minha avó Alice Figueiredo. Quando pequeno, ele ia lá para a Fazenda Água Limpa, onde brincávamos de cavalo pelos montes de Jerônimo, o Herói do Sertão. Ele começou a dirigir teatro cedo, logo que saiu do Carmo para estudar teatro em Sampa. Lá, começou a ganhar prêmios. Seus espetáculos são barrocos e contam todas as histórias com um gosto de Minas Gerais, de Carmo do Rio Claro, das águas da jacuba. Para nós, ele é Biel.

CASOS DO JOB


Falando em advogados:

O pai do Moacir - Dr. Sebastião Campista César, nascido em Itajubá, foi promotor no Carmo em 1920. Era um advogado que tinha uma argumentação irresistível. Conta o Job, que numa demanda em que ele defendia o dono de um gado, que invadiu o canavial. Ele provou que o canavial que foi ao gado...

Sr. José de Castro, em uma defesa sua como advogado, citou o nosso Gabrielzinho Vilela, com essa pérola: "o povo só dá razão a quem não tem, quem tem já tem, não precisa mais."
Alguns carmelitanos tiveram sonhos mirabolantes


Alguns carmelitanos sonharam muito alto para Carmo do Rio Claro, contou o Job. "Pedro Tito Pereira planejou fundar uma nova Carmo no Paraná. Era um idealista. Meu pai (Edmundo Soares) ia ser o gerente do banco.


Francisco José Macedo, mais conhecido por Francisquinho, queria levar o Flamengo para o Carmo e instalar ali uma base aérea. Detalhes: "nem campo de aviação o Carmo tinha"

PERSONAGEM

MOCINHA

Ela andavan trajada de saias longas e com as mãos cheias de anéis de pedras de todas cores, anéis antigos. Mocinha morava no maior e mais imponente casarão da Praça da Matriz. Tinha os cabelos bem curtos, cortados rente ao couro cabeludo e todo branco. Os olhos eram azuis. Mas cegos. Mocinha quando era mais nova era completamente normal e aprendeu a escrever. Depois, ficou cega, surda e muda. Era brava, em sua quase incomunicabilidade.

Cuidava dela a preta Quirina, de dentadura vermelha e dois bons olhos sempre marejados. As duas pareciam sair de dentro da história. Já então, personagens. Mocinha ficava brava e batia a bengala para todos os lados, quando a criançada puxava suas saias, quando andava pelo jardim.. Nossa vontade era entrar no quarto de Mocinha, onde só Quirina entrava e de vez em quando, sua sobrinha Size, pulava suas janelas. O quarto de Mocinha que vive em mim está cheio de baús e prendas, de broches, colares, camafeus, anéis, lenços e sedas caindo pelas arcas. Diziam que só ela limpava seu quarto. Então, imaginávamos baratas, aranhas e morcegos no quarto de Mocinha.

Ela era uma das amigas de vovó Alice. E de vez em quando pedia, escrevendo em nossas mãos, sabonete. Perfumados, cheirosos. Restava-lhe o olfato.

TERRA DE VOADORES!

Um dos primeiros a voar no Carmo foi o "Judeu". Ele levou o Batata, marido da Fatinha para voar no Carmo. Atualmente, são muitos os voadores que saltam da Serra da Tormenta.


Uma vista de tirar o fôlego! (foto da Iana Otoni Pereira Soares)

A SUA CALMA!

Foto do César (Boquita)

CASOS DO JÓ!

Esta foto mostra o jardim que Dona Nicotinha plantou em Carmo do Rio Claro e que foi desmanchado para nada, apenas para cumprir o dito um prefeito faz, o outro desfaz. Que saudades do flamboyand do centro da praça, dos pinheiros lindíssimos. Dizem que cada machadada dada em cada árvore, foi um golpe no coração da Dona Nicotinha. O Jó me contou histórias maravilhosas dessa mulher finéssima, culta que habitou Carmo do Rio Claro.
Hei de chorar sempre a perda desse jardim!

UMA JORNALISTA DE PAPEL EM PUNHO...

Nos últimos cinco anos, tenho tido o privilégio de puxar a língua do Jó. Job Milton de Araújo Pereira, meu querido primo, personagem do meu livro (Jasão), da mais fina mente. Foi ele quem compôs, junto com seu irmão Lourenço, o hino de Carmo do Rio Claro e deu os ditos da bandeira,que tem tudo a ver com a história da nossa terra: Flutua, não afunda (em latim)
Sempre que vou visitá-lo, levo um caderno e uma caneta. E foi assim que coletei histórias hilárias do Carmo, personagens engraçadíssimos, espirituosos que habitaram as suas ruas. Criei esse blog com o intuito de dividir com vocês, que amam Carmo do Rio Claro, como eu amo, as histórias, os causos, os casos do JOB.

Em 22 de julho de 2003, perguntei ao Job:

- Assim como o personagem bíblico, você tem paciência?
- Às vezes, nem sempre, depende da hora, da ocasião. Às vezes sou Jó, às vezes sou Milton.
- Quanto anos hoje?
- 75 anos mais ou menos bem vividos.
- O que ainda deve à vida?
- Dizem que para passar pela vida se deve plantar uma árvore, ter filhos e escrever um livro. Estou devendo tudo isso.

Hoje o Job tem 82 anos e já editou um livro - O livro NÃO AUTORIZADO Dos EPITÁFIOS - Encontre o epitáfio certo para seu sono eterno. Por esse livro, recebeu um convite para ir no JÔ. Não aceitou, disse que o Jô iria gozar dele em rede nacional. Eu não tenho tanta certeza! Daria tudo para ver o Jó com o Jô.
Ter filhos a essa altura é impossível. Mas, plantar uma árvore. Que tal prefeita, deixar o Jó plantar uma árvore, ele que tantos frutos plantou de conhecimento em Carmo do Rio Claro
Nesse blog, vou publicar aos poucos os Epitáfios não autorizados do Jó.

UM POUCO DA HISTÓRIA DO JÓ

Jó, na década de 50/60, trabalhou em vários rádios, entre elas, a grande Rádio Difusora Tupi, em São Paulo, onde fez o histórico REPORTERESSO. Fez rádio/teatro.
Conheceu Hebe Camargo, Roberto Carlos , o pai do Vianinha, Oduvaldo Viana Filho, Dionísio de Azevedo, Cassiano Gabus Mendes, Homero Silva.
Ele abriu para mim uma escrivaninha cheia de fotos amarelas. As coisas guardadas sempre me impressionaram. Lá de dentro, tirou a Revista do Rádio de 1950, ao lado de Mazaroppi, quem estava lá - o nosso Job Milton Pereira.

Quando veio Furnas, muitas vidas mudaram, entre elas, a vida do Job, que precisou voltar para Carmo do Rio Claro, para ajudar o pai - Milton de Araújo Pereira - no cartório, cheio de processos movidos pelos fazendeiros pelas perdas para a hidrelétrica.
O Carmo ganhou e muito com essa presença nos últimos 47 anos. Pertenceu ao Rotary Clube, onde recebeu uma comenda especial "Companheiro Paul Harris", a maior homenagem que um rotariano pode receber. Também ajudou sempre a Conferência Vicentina.
Hoje, habita só no casarão da praça. Vale a pena ir lá visitar o Job e aprender muito sobre a história da cidade, sempre num ponto de vista espirituoso e inteligente. Sentirei sempre a ausência da Deolinda, na cadeira ao lado do Sofá, ao lado do Job. Ainda não a vi vazia e já temo esse momento: a ausência de Deolinda, que deve ser ainda mais forte que a sua presença.

Job Milton fez o primário com a dona Delorme. O nome dá uma saudade! Eu nem a conheci, mas o nome eu conheci. Delorme Freire, Maria José Cardoso e Dona Suraia eram as professoras. O colégio se chamava Ginásio Barros Leal. Depois fez apenas o metade do Clássico. "Depois, a vida me ensinou".

SAUDOSA TERRA!



'Saudosa terra em que nasci,
que mal te fiz,
que me obrisgaste a sair de ti?
Nesta terra que se diz maravilhosa,
sinto-me exilada,
perdoa-me e deixa que meu último suspiro,
seja em teu seio, ó terra amada.
Revejo palmo a palmo os teus encantos.
A tua calma, que mais parece magia.
A Tormenta, a igrejinha branca,
balbucio uma prece
Ave Maria!
E essa prece que dirijo sempre
a essa mãe, que é o meu conforto,
espero retorne a minha embarcação
ao meu saudoso e almejado porto.

Ai que saudades dos meus netinhos
que eram a alegria do meu viver
que, com suas graças e tagarelices,
não me davam tréguas a entristecer.

Relembro minha mãe velhinha,
deitada em seu leito branco,
tão distante,
derramada em pranto.

As badaladas desse sino amigo,
chamando os fiéis à oração.
São como oorvalho que alimenta a planta,
revivendo a saudade no meu coração.

(Alice Figueiredo Soares)