terça-feira, 17 de abril de 2012

Histórias do Cine Guarani

O projetor do Cine Guarani está no Museu Carlota Pereira.
Meu querido amigo, Coró. Tomei a liberdade de salvar suas histórias do Cine Guarani (com i ou com Y???) e transcrever aqui no blog. Sinto muitas saudades dele, principalmente, da música que tocava antes do filme, o prefixo. Acho que o único lugar que tinha prefixo do filme era o Carmo. A música cobria a cidade e fazia com que todos se apressassem. Na íntegra, as lembranças do Coró, filho do Tãozinho, saudoso também. ´Coró, o Cine Guarani era igualzinho ao Cinema Paradiso do filme...
Cine Guarani - Carmo Do Rio Claro - História verídica
No cinema do Carmo normalmente os filmes "passavam" (eram exibidos) por 2 dias. Quando a luz acabava no primeiro dia, não havia problemas, pois o papai dava uma senha para cada pessoa e elas voltavam no dia seguinte. Ninguém saía no prejuízo. Mas quando acabava no segundo dia o papai ficava "p" da vida, pois ele tinha que arcar com todos custos, pois tinha que dar senha para as pessoas e elas na verdade iriam ter direito de assistir a outro filme. Naquele dia, porém havia mais um agravante: o filme estava no final, só faltava praticamente o beijo, isto é, era o segundo dia de exibição, o carvão que gerava luz para exibição já havia sido gasto e era muito caro, o papai não teve dúvidas: subiu lá com um lampião de gás e disse para o pessoal: "...gente, olha, só faltava o beijo para terminar o filme, eles se olham e se beijam. Então eu não vou dar senha." Apagou o lampião e foi se esconder atrás da bomboniere... coisa que ele sempre fazia quando o filme era ruim para não ter que ouvir as reclamações das pessoas... era muito engraçado... E foi assim que de fato aconteceu mesmo e entrou para a história de nossa cidade...

E por falar em cinema, há uma boa história do cinema do Carmo também. Desde os primórdios cinematrográficos, sempre houve no Cine Guarani os famosos intervalos. Mais ou menos no meio do filme, tinham que parar a exibição para ajustar os carvões (geradores de luz para a projeção). O carvão parecia uma lápis, mais ou menos uns 18 cm, e era mesmo um carvão envolto por uma película de cobre. Eram 2 e eles iam queimando e gerando luz, até que chegava um ponto em que a máquina não conseguia empurrá-los mais e aí tinha o intervalo e manualmente eram ajustados e depois recomeçava. Mas durante os intervalos o pessoal aproveitava para fumar, comprar balas, conversar, etc. Lembro-me sempre do Fazinho, que não perdia um filme. Ia até nas reprises e nos intervalos fumava aquele cigarro fininho e comprido. Tinha também o Dr Jorge, sempre explicando os filmes para os demais. Era um momento de convivência, bate-papo, reencontros, paqueras, etc, pois no intervalo todos se viam. Pois bem, veio o progresso e não era mais necessário haver intervalos. Papai anunciou isto como uma grande novidade e, a princípio, todos achavam que seria mesmo ótimo. Filmes sem intervalos... maravilha. Depois de uma semana mais ou menos, começaram as reclamações. Primeiro o Fazinho que queria fumar e conversar, depois outros e outros e as reclamações foram aumentando. Teve um dia que reclamaram durante a exibição do filme: "...e aí Tãozinho? Cadê o intervalo?...". Conclusão: a partir desse dia, papai resolveu voltar com os intervalos mesmo que eles não fossem mais tecnicamente necessários. E todo ficaram felizes…

Certa vez, em um verão escaldante, Tãozinho resolveu instalar um ventilador no cinema. Sem nenhum cálculo, até mesmo sem muita noção do que esperava, chamou o João Lagda (é assim que se escreve Angelo Leite Pereira?) e resolveram construir o ventilador. Tãozinho comprou um motor de 10cv imenso e João Lagda fez o restante (hélices, correias, polias, etc.). Ficou enorme, mas enorme mesmo, e foi instalado debaixo do palco e da tela. Pois bem, Tãozinho fez muita propaganda do ventilador novo, muitos dias antes já anunciava a novidade, alugou um filme famoso e o cinema lotou. Todos esperando pelo ventilador. Depois que o filme começou, deram um tempo, e logo ligaram o dito cujo. No início o barulho foi baixo, mas foi aumentando e daí a pouco estava ensurdecedor. Parecia que tinha um jato dentro do cinema. O povo assustado, sem saber o que fazer, ninguém mais prestava atenção no filme, até que alguém gritou: "... as paredes estrão trincando...". Voou gente para tudo quanto foi lado. Pessoas correndo em cima das poltronas, gente caindo, arrancaram a cortina de veludo... foi um Deus nos acuda. Maior perigo, mas nada de grave aconteceu. Nunca mais o ventilador foi ligado e por muitos anos ficou lá empoeirando...
Eu estava no cinema e posso atestar que a história é verdadeira.

Outra do Cine Guarani - Carmo Do Rio Claro
Quando ainda morava no Carmo, adolescente, uns 14 ou 15 anos de idade, os falecimentos e algumas notícias importantes eram transmitidos no auto-falante do cinema, pois ainda não existia a Rádio Difusora. Tãozinho adorava anunciar filmes, mas detestava anunciar falecimentos. Um dia me ensinou como falar, como pronunciar corretamente o texto, que música deveria ser tocada, anunciar o falecimento 2 vezes para o lado da Tormenta, 2 vezes para o lado da Rua Nova e 2 vezes para o lado do Tetelo, em frente à venda do Quirino. O auto-falante era móvel. Aprendi tudo direitinho. Esse serviço era pago, ou seja, as pessoas pagavam para que fosse executado. Se não me engano eram CR$ 30,00 (trinta cruzeiros). Tãozinho me pagava CR$ 10,00 e o outros CR$ 20,00 ficavam para o cinema. Conclusão: eu adorava fazer os anúncios, pois era muito dinheiro para mim na época. Mas passava o tempo, o dinheiro ia acabando, e logo eu me via torcendo para alguém morrer para eu anunciar... ai, que absurdo!! Hoje rio muito disso, mas era trágico, não era? kkkkkk…..

Sô Milton e João Lagda (Famosíssima!! Vocês devem conhecer, mas vou contar só para registrarmos para a posteridade...).
Dizem que a primeira panela de pressão que existiu no Carmo foi comprada pelo Professor Milton Araújo. Foi uma sensação na época, afinal, cozinhar feijão tão rápido era algo inimaginável. Todos foram ver a tal novidade. Sempre tinha gente na casa do Sô Milton na hora de cozinhar o feijão. Mas uma coisa estava implicando Sô Milton, aquele vazamento de vapor. Como não tinha assistência técnica no Carmo, claro, Sô Milton chamou João Lagda para ver o "defeito" da panela. "Compadre..." disse Sô Milton para João Lagda, "...esta panela está com este "defeitinho", fica vazando, o que você acha? João Lagda, muito surdo, apertou os olhos, olhou bem a válvula da panela de pressão e já diagnosticou o problema: "...compadre Milton, esta válvula está furada. Nada que um pinguinho de solda não resolva." Levou a peça para oficina, tampou o buraquinho e pediu a comadre para usar a panela que não iria mais ter problema. Resultado: o feijão foi cozinhando, a panela sem soltar o vapor foi comprimindo, acabou virando uma caldeira e foi a maior explosão. A tampa foi projetada para cima, quebrou o forro e as telhas e nunca foi encontrada... Muito tempo se passou até que alguém no Carmo comprasse outra panela de pressão….

E mais outra do Cine Guarany - Carmo Do Rio Claro
Um dia no cinema, estávamos sentados tio Lulu (Lucas Ferreira, irmão do Tãozinho) avo do Nicolau Achcar Santos Junior (Juninho) naquelas duas cadeiras pretas, pregadas uma na outra e que ficavam na entrada do cinema, e eram reservadas para o Vôzinho e Vózinha (não lembro o nome deles) e que eram altas, pois Vôzinho gostava de ficar com os pés suspensos. Estava lá o tio Lulu fumando um Hollywood com piteira, bigode fininho muito bem aparado, barba muito bem feita também, muito bem vestido com calça de tergal riscado, camisa de seda verde, sapato de pelica San Marino (um charme finíssimo na época), muito "alinhado" como diria o Tãozinho, e de repente fez uma constatação, muito sério: "Paulinho (eu), há anos vejo os casais entrarem e sairem do cinema. Quando começam a namorar estão abraçadinhos, de mãos dadas, um amor belíssimo, entram e saem do cinema sempre cochichando, juntinhos... mas depois que se casam, o que eu mais vejo é que estão sempre separados, pelo menos um metro longe do outro. Por que será?..." e deu mais uma baforada no hollywood com piteira….

Dodora, Cinema Paradiso conta a estória de praticamente todos os cinemas das cidades do interior no mundo todo. Desde o auge, quando era a diversão quase única e preferida até sua completa decadência com a chegada da televisão. Todos, sem exceção, começaram a exibir filmes de kung-fu, depois pornográficos, até seu completo fechamento. Cinema Paradiso narra isso com riqueza de detalhes e, como citou a Mônica, até as estórias se repetem, pois os problemas eram os mesmos. E o filme, belíssimo - estou emocionado aqui agora - termina com as cenas de todos os beijos colecionados por ele durante toda a vida, presente do seu grande amigo (o impagável Philippe Noiret) que trabalhava no cinema. Um pérola esse filme... no Carmo também, meus amigos, o Tony principalmente, viviam pedindo para cortarmos pedaços dos filmes com as imagens dos nossos atores/atrizes preferidos... Aí eu ficava lá em cima, na sala de projeção, com umas tiras de papel de caderno na mão. Quando passava uma cena que a foto interessava para algum amigo/amiga, eu punha o papel no rolo de filme que ficava rodando para marcar o lugar onde devíamos tirar um slide do filme. Todos os filmes tinham que ser rebobinados para devolver ao distribuidor. Quando isso era feito, naqueles lugares onde tinha tira de papel o Ademir (filho do Nenem dos Taque (Neném do Eustáquio)) ou o Cláudio (Fordinho, hoje advogado no Carmo) cortavam pedaços para nós. Era um sucesso…

Outra do Coró:

Como todos sabem, os filmes vem com certificado de censura. No caso dos filmes do Cine Guarani, naquela época, eles chegavam pela jardineira do Batista, em latas, normalmente 10 latas, e em uma delas vinha o Certificado de Censura. Nesse certificado constava para qual idade o filme era permitido. Por exemplo: censura livre, 14 anos ou mais, 18 anos ou mais, etc. Só para esclarecer, os filmes vinham em latas e o operador montava essas 10 latas em um único rolo (carretel) para ser exibido, como pode ser visto no Museu Carlota Pereira.
Pois bem, um dia chegou por lá o filme “Olhai os Lírios do Campo” do livro homônimo de Érico Veríssimo. E o Tãozinho não encontrou o Certificado de Censura. O que fazer? Ele não conhecia o filme e não sabia como proceder em relação qual idade colocava para censura – se era livre, 14 anos ou 18 anos. Não podia assistir o filme, para ele mesmo censurá-lo, pois o carvão era caro, como já foi dito e não compensava.

Era um filme nacional que acho que vários conhecem: “Olhai os Lírios do Campo” como já citei. O Luiz meu irmão então falou para o Tãozinho que consultasse o prof. Milton (melhor professor de português de nossos tempos) pois provavelmente ele poderia conhecer a história e avaliar se o conteúdo do filme era impróprio ou não para menores. Tãozinho não teve dúvidas: "você deu a idéia, você vai lá perguntar." E lá foi o Luiz no cartório encontrar-se com Professor Milton e perguntar sobre o livro. Sô Milton a princípio estranhou um pouco, mas atendeu-o muito bem. Coçando o queixo, como sempre fazia, passou a contar a estória toda do livro sugerindo que pudesse deixar a censura livre mesmo. Luiz acabou tendo uma excelente aula de literatura.... e Tãozinho ficou feliz pois poderia colocar o filme como livre expandindo assim as chances de uma bilheteria maior.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Ai que saudades do Bar XV..

Na foto: a Helena, a Salete, a Cecília, a Kátia e Aurinha

Estava comprando pão na padaria lá da Rua XV de Novembro, hoje Camilo Aschar, quando resolvi me lembrar que ali ficava o Bar XV. Está tão descaracterizado que havia me esquecido de vislumbrar ali o velho Bar XV, onde passamos uns dos melhores momentos da nossa vida. O bar era a nossa casa, o amendoin liberado, as Cubas Libres dos carnavais, os beijos deliciosos nos gatinhos da época. Tudo acontecia ali.

A presença simpática das três irmãs - a Helena, a Marly e a Chiquita. Tenho saudades até das batidas fortes com as bebidas do Jé sobre a mesa, quando os beijos estavam muito apimentados. O XV é um patrimônio cultural da humanidade de Carmo do Rio Claro.

Quem tiver fotos ou "causos" do XV, favor mandar para compartilhar.

Eu me lembro de quando o bar era na frente da casa da Chiquita. Tinha ao fundo um reservado. O Jé conta que à época de Furnas, a tradicional família carmelitana ficava ali, preservada, reservada das centenas de candangos que invadiram a região na construção da hidrelétrica e da estrada. Outra providência deles foi não vender cachaça, tentando selecionar um pouco os visitantes, que viviam criando brigas de facas e toda ordem.

O Job contou uma do Gabrielzinho no Bar XV. Ele chegou e pediu um suspiro. Trouxeram um suspiro enorme. Ele comentou: eu pedi um suspiro e não um gemido.

Outra. Ele estava comendo brevidade, adorava. Meu pai passou e disse: entrando na brevidade Seu Gabrielzinho. Ele disse, você se engana, ela que está entrando em mim.

Lembram-se da Represa, que se chamava Olívia. Ela trabalhava de dia e à noite bebia à vontade. Dizem que a Noeli passou e a viu virando um copo de cachaça. Comentou: e aí, Represa, tá ardendo? Ao que a Represa respondeu: A do Luizito arde?

No Bar XV... nos saudosos anos 60/70/80

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Celebração do batizado do Ian

Esse é o meu querido primo, Tom Figueiredo, filho do tio Job Figueiredo, irmão da Vó Alice, junto
com o Tiãozinho, super irmão e muito querido. Tom é publicitário premiado e só o conheci há dois anos, com 70 anos. Cabeça boa, filósofo, uma excelente companhia! Haja causos para contar! O Tião, o Joaquim e o Tom levaram ótimas prosas nesta noite memorável.
Minha irmã, Tata, eu e a Carla na festa do batizado do Ian, filho da Valerinha e do Edu, lá na Pousada do Tião, mais conhecida por pousada da Mavi. A festa foi ótima, regada à dança e alegria.




O casamento na Igreja contou com um ritual bonito. Os padrinhos estavam elegantes e radiantes: a Fatinha e o Batata.

Os papais - Valéria e Edu - do lindo e queridíssimo Ian, que por sinal nasceu aqui em BH. Todos estavam de brancos na cerimônia de Batizado do Vento, que contou com a presença de vários voadores. Ao final, foi feito um minuto de silêncio em homenagem ao australiano, que faleceu, infelizmente, na Serra da Tormenta (postagem anterior).
As lindas sobrinhas: Bruna, Lucília e Rani, no alto da Serra da Tormenta. Olha só o visual, a paisagem que se descortina abaixo, maravilhosa!

A família reunida, todos em volta do Ian, super festejado. Lá atrás, o mar de Minas.
Flores para encher os olhos.

As fotos foram emprestadas pela Nana.
Visite o site www.nanademinas.com.br e fique sabendo tudo o que acontece em Carmo do Rio Claro.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

A Serra da Tormenta está de luto!


"Assim que cheguei ao Carmo nesta madrugada tive a triste notícia da morte do voador australiano, David Charles Seibe, que disputava o Super Race Brasil - Campeonato Brasileiro de Vôo Livre, na última quinta feira. O campeonato foi cancelado em decorrência da tragédia. Aqui, não só toda a população está chorando, como também as montanhas de Carmo do Rio Claro. A nossa querida Serra da Tormenta. Ele veio de tão longe voando nas asas dos ventos, seguindo o rumo dos urubus, chegando tão alto como eles. Ele saltou para a vida e com certeza chegou voando a uma outra dimensão. Eu, que convivo com os "asa" por meio do Batata, meu cunhado, que foi um dos primeiros a voar nesses ares azuis, vislumbrando o mar de montanhas e águas do Lago de Furnas... Nós, carmelitanos, nos acostumamos a mirar o ar e vê-los voando, há vinte anos... Carmo do Rio Claro chora e dá sinceros e dolorosos pêsames à familia australiana, que já acolheu o Batata e a Fatinha, pela perda irreparável. Minha sexta feira é santa e é triste."

Esta notinha foi postada também no site da Nana. Ela estava no alto da Serra da Tormenta, quando presenciou o acontecido. Ficou super chocada e acabou sendo o contato sobre o caso para toda a imprensa nacional. Nós, que convivemos de perto com os voadores, por causa do nosso cunhado que foi um dos primeiros voadores de Carmo do Rio Claro, o Batata, ficamos muito chateados.

O Batata e a Fatinha, minha querida irmã, subiram a montanha no sábado para o batizado no vento, do Ian, filho da Valerinha e do Edu. Um ritual celebrou o batizado com uma chuva de pétalas. Ao final, foi feito um minuto de silêncio pela morte do voador australiano.

Veja mais informações e fotos no site www.nanademinas.com.br