quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Pela humanização do nascimento!

Participação da ong Bem Nascer durante a exibição do filme O Renascimento do Parto, neste sábado, no Usina Belas Artes.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

O Carmo já teve e nunca vai esquecer!

Ali foi o primeiro cemitério de Carmo do Rio Claro. Resolveram transferir os ossos para o outro cemitério, o atual. Dona Nicotinha, primorosa senhora, uma dama do teatro, estilista... plantou as árvores deste jardim, que eu tive a honra de conhecer e o desprazer de vê-lo abaixo. Era prefeito Zeca Santana. Por que derrubaram? Até hoje eu me pergunto. A geração mais nova não sabe desta história. Quando foi derrubado, achou-se de tudo por ali, relógios, dentes de ouro e brincava-se de jogar bolas com crânios ali encontrados. Uma verdadeira profanação. O Job brinca: se revirar ainda sai osso. E ali onde  havia pinheiros, flamboaiãs  bancos de praça há hoje bancos de dinheiro, a rodoviária e a prefeitura, que podia estar em melhor lugar. A história tem que ser contada para que todos saibam. Depois de derrubado, plantou-se um estranho jardim só de rosas, tristes rosas. O Carmo nunca vai esquecer!

O Carmo já teve!

ORQUESTRA TIRA TEIMA

Tom deu o tom da PALAVRA

PALAVRAS



Palavras onde me escondo
Onde me revelo
Onde deságuo as pequenas
e as grandes dores e amores.
Solto a palavra
e já não sei aonde elas vão me levar.
Perscruto os sentimentos
Que me calam dentro
Para fazê-los virar

Palavras.

Elas se deságuam pelas minhas sagradas mãos
A quem foi confiado fluir o mundo
Do Verbo.

Palavras


Hoje é o que se chama
Partiu para o andar de cima
Abotoou o paletó
Foi embora.
Tudo para evitar a Palavra
Morreu.
Mas  uma morte lembra as outras
Contam do fim.
E pergunta: tudo é ilusão, então?

Tom faleceu e virou poema
Faltou-lhe o ar há poucos dias
Faltou-lhe saúde
Morreu a vida..
Em minha vida, foi tão fugaz!
Em 3 anos, o vi três vezes.
Bastou para que vivesse em mim
Intensamente!
Porque também ele era a Palavra.
Trocamos Palavras completas
Sem a pressa do Face
Em português correto
Nada abreviado.
Não havia pressa em nossos e-mails
Que agora se tornaram ainda mais importantes!
O que ele falou de mim?
O que eu falei pra ele?
Trocamos Palavras
Poesias
Contos
Romances
E amor de prima
De ser do mesmo sangue
Da mesma árvore.
O acolhemos no seio da família.

Ele vinha de longa caminhada
E aportou no Porto Carrito
No útero da família Figueiredo.
Da sua caminhada
não sei quase nada!
Sei de um contador de casos.
De um primo querido!
Que um dia chegou ao Carmo
Carregando 70 anos de história.
Ares de carnaval
Encontros na Pousada da Mavi
Frequentou com prazer declarado
A casa do Job.
A casa do Dito.

Viveu a Fazenda Água Limpa
Onde passou o seu último réveillon.
Lindo neste dia!
Um sensual senhor jovem
Tom Figueiredo!
No meio da publicidade
Mais conhecido por GaTon.
Olhos azuis. Sorriso aberto 
franco e sensual.
Celebrou aquela noite com sua numerosa família
Todos os prazeres que a ocasião permitia.
Cantou.
Bebeu vinho.
Degustou o seu charuto
em solene ritual.
Amanheceu ouvindo e contando casos
com o Tião, os últimos a irem dormir.
Falou poemas
Ouviu histórias e rememorou.
Lembranças dali da fazenda
Onde viveu dias na juventude.

PALAVRAS

Perda
Saudades
Recuerdos!
A ausência é maior que a presença!

PALAVRAS

Sei que são muitas 
Que não as podo concretamente
E, por isto, não sei se elas
As Palavras
As minhas Palavras
Servem pra mais alguém além de mim.
Hoje o Tom
Dá o tom da Palavra.
que para mim são

Essenciais.

Palavras

Elas vão te contar
Tom Figueiredo
Cada vez que eu mergulhar
Na mente e nela doer a sua ausência
Por certo,
Palavras vão desaguar sentimentos
Pra ficar mais leve
Porque sempre
Depois da Palavra
Do desabafo
Do desagravo
Da explosão de Palavras
Vem o silêncio!


Repercussão no FACE

Voltei a postar no blog www.senhoradocarmo.blogspot.com
Coloquei mais uma homenagem ao primo Tom Figueiredo.
E foto de grandes fotógrafos do Carmo. Sua visita será bem-vinda.

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Lua de todos!

Minha filha, Iana, acaba de fotografar a lua, da nossa janela, no bairro Cruzeiro
A lua de hoje está bombando no Face. Esta foi fotografada pela Elza Lúcia, lá no Carmo.
Lua do Carmo aos olhos de Eugen





Igreja do Rosário

 Eugen Emmerich Horváth fez esta foto da Igreja do Rosário. Ele é húngaro. Jornalista, publica pequenas revistas sobre o Carmo. Mora lá há bastante tempo e já faz parte da família carmelitana.

Magia das Noites

Olha só a imagem que Lucas Soares captou na noite. Uma foto mágica, que ganhou o nome de Magia das Noites. Ele tem o dom de tornar visível o mágico que há na natureza. Ele é sobrinho do Renato Soares, fotógrafo perfeito, que foca suas lentes nos índios do Xingu. Lucas é filho da Andreia, filha do Jair Soares e Claudete Vieira Soares. É bisneto do Tio Toninho, um verdadeiro personagem da minha família. Toninho Soares, suas histórias parecem até uma lenda! Lucas Soares, tão novo, e já é um mestre na fotografia.
Segue o contato feito no Facebook.

Cleyse, fica dentro de um camping, nas extremidades dele. Essa cachoeira fica dentro do perímetro de Furnas mesmo. Fica próximo ao paraíso perdido.
alguns segundos atrás
20:11
(35) 8883-8309 / 3561-1370 Boa noite Cleise
Obrigado

Silhuetas da Serra da Tormenta e do Pico São Gabriel

Foto de Edmundo Figueiredo

Homenagem ao Tom

Texto enviado por minha irmã, homenagem de um amigo a Tom Figueiredo, meu primo, que partiu recentemente para as terras do nunca mais.


Meu grande amigo TOM FIGUEIREDO, jornalista, filosofo, escritor, poeta, publicitário, já não está mais entre nós. No último dia 14 ele não resistiu aos problemas respiratórios que o levaram para o hospital. 
Tom foi um segundo pai pra mim, foi o meu guru, exemplo de dignidade, honradez e da boa malandragem que existe na cultura brasileira. Aos 19 anos comecei a frequentar o apartamento dele na Rua Artur de Azevedo, bem ao lado do clube da Medicina da USP. Era uma espécie de mascote entre os amigos que frequentavam a casa dele. Como meu pai, Tom era um socialista convicto, culto, inteligente e apaixonado pela cultura de seu povo. Tocava contrabaixo e cavaquinho.
Durante as noites, nos reuníamos para falar de política e da luta contra a ditadura. Nos fins de semana, íamos pra chácara dos amigos: Rubão, Ercílio, Sampaio e Fernando Pacheco Jordão , jogar futebol e curtir uma boa roda de samba. A diferença de idade nos aproximou ainda mais, ficamos amigos inseparáveis. Nos anos 80, quando eu estava morando em Paris, uma amiga comum morreu repentinamente. Tom me ligou para dar a má noticia e terminou a conversa dessa maneira: "Florestan, volte já para o Brasil. Não quero mais você longe dos amigos." Voltei e abrimos uma linda livraria na avenida Faria Lima. Lógico que não deu certo, não nascemos com talento para os negócios. Mas foram anos memoráveis, com noites de autógrafos de marcar época, Chico Buarque, Florestan Fernandes, Montoro, Waly Salomão, Lilia Schwarcz, Marta Suplicy e tantos outros. 
Para vocês terem uma ideia da nossa amizade, quando meu pai faleceu, o corpo foi retirado pela policia no crematório bem na hora da cerimônia do adeus. A solenidade foi feita, mas em seguida o corpo foi levado para o IML para passar pela autopsia que indicou o erro médico. No dia seguinte, fui sozinho ao crematório e dei de cara com dezenas de colegas jornalistas. Solitário, daria tudo para ter um amigo naquela hora. E quem não me sai no meio dos carros? Tom Figueiredo! Me abraçou e disse: "faltei no trabalho por que sei que hoje você vai precisar de um amigo". Então é isso: Tom se foi mas continuará vivo em minhas lembranças para sempre.

Florestan Fernandes Júnior




sábado, 17 de agosto de 2013

O ÚLTIMO REVEILLON

  As duas grandes mesas foram colocadas, uma ao lado da outra, na cozinha do casarão, na Fazenda Água Limpa. Ares de 1.900, mobiliário de época, museu de histórias. As mulheres decidiram: a festa será na cozinha. Escreveram uma faixa: "Sala de visita de mineiro. Alguém sentiu falta da sala?
A família - avós, pais, filhos, sobrinhos,primos, amigos, agregados, em volta da mesa. E foi na cozinha, numa noite memorável e inesquecível, que ele passou o seu último reveillon, cercado pela família. 

Meu primo, Tom Figueireiro, que nos deixou.

Depois de andar o mundo, de galgar os maiores degraus da Publicidade, ser premiado. Quem se lembra do cotonete que morria de cócegas, com esta propaganda, ele ganhou prêmio internacional. Casou, teve filhos, netos. E, aos 70 anos, voltou às origens. Passou a ir ao Carmo, para nossa alegria. Pele clara, olhos azuis e um sorriso iluminado, lembrava o seu pai,  Coronel Job Figueiredo, irmão da Vó Alice. Job Figueiredo é nome de rua em Campinhas, onde foi o fundador da hípica.

Um primo "idoso", mas jovem, inteligente, engraçado. Foi o brilho do carnaval de 2011, quando nos reuníamos no Bar do Caruncho, que virou o reduto dos músicos. Ele tocava cavaquinho, mas não nos deu uma canja, infelizmente. Ele no meio, ao seu redor, reunia-se a família, tios e sobrinhos para ouvir os seus casos, muito engraçados.

Neste dia, ele comentou:
Depois de velho, deixei de ser perigoso. Com essa barba, na ditadura eu era um perigo! Parado em todas as blitz. Hoje, vejo uma blitz, faço cara de mau, desta vez eles me mandarão parar, eles me mandam passar. Primo, disse-lhe, experimenta ficar nu no aeroporto e você será preso. Que nada, não adianta, prima, eles vão perguntar cadê o remédio de Alzheimer do velhinho.

Ainda no Bar do Caruncho, ele reclamou para os sobrinhos:
- Velho é invisível. Já entrei no elevador com uma mocinha e ela mal me viu. Uma delas quase trombou comigo na praia. Não adianta. Velho é invisível.
Contestei veementemente: "Primo, posso lhe garantir que você ainda é bem visível!
Porque conservava a sedução que o levou, na juventude a ser chamado de GaTom.

Policena de Jesus

Ele teve no Carmo uma vivência transcendental. Era ateu convicto. Perdeu seus documentos e passou a dar baixa nos cartões, preocupado. Encontrou com a minha irmã, Tata, que pegou em suas mãos e disse: vamos rezar para Policena. Policena é a mais nova santa da família. Ela foi descoberta em uma caminhada de minhas irmãs, no Caminho da Fé. Encontraram uma galeria de santos negros. Entre eles, Policena de Jesus. 
Rezaram sua oração: Das profundezas do escondido / Policema trás a luz /  Encontra o objeto perdido / Policema é de Jesus. Estavam na esquina da Madrinha Tata. No outro dia, ali mesmo naquela esquina, um homem vira a esquina, depara-se com ele e grita. Você é jornalista? É Tom Figueiredo? Estou à sua procura desde ontem. Aqui seus documentos. Esta experiência rendeu ao ateu até um artigo para o Expresso Carmelitano. Depois comentou, ele me encontrou na esquina que fizemos a oração e era negro. E o taxista disse que nunca vira aquela esquina para ir para casa.

Um noite inesquecivel!

Depois, o vi mais uma vez no Tião, na Pousada da Mavi, quando do lançamento do livro Genealogia da Família Vilela, de minha irmã, Ana Maria Vilela Soares, grande amiga do Tom. Havia passado por um enfarte, estava de sobreaviso, por isto, viajando pouco. Quando foi no fim do ano, ficamos sabendo que ele passaria o reveillon conosco. Ficamos super felizes.  Eu faço um oráculo com frases e coloquei pedacinhos da história da família. Ali rememoramos os tios, os avós, os ancestrais. Depois, fomos à hortinha da Valerinha e pegamos folhas de alecrim, mirra, hortelã, orégano, curry etc e fizemos um festival de aromas, passando as folhas pela mesa. Não me lembro com qual oráculo o meu primo saiu, disse depois que analisaria para compreender o significado, mas que guardaria a caixinha em um lugar especial em sua casa.

Vinho rolando, ele declarou: o médico disse que posso beber de vez em quando. Elegeu aquele dia e, boêmio de uma vida, se embriagou na delícia daquela noite. Contou casos, riu, falou poemas no reveillon da Fazenda Água Limpa. Beto, meu sobrinho, puxou no violão o hino da família: viver e não ter a vergonha de ser feliz....Então, solenemente, ele retirou uma caixinha do bolso e disse: agora vou fazer uma coisa que há muito tempo não faço, eu mereço. Tirou um fino charuto e tragou com uma expressão de supremo prazer. Ele que tanto amou os prazeres da vida! A caixinha vazia, ele me deu.

Vai com Deus!

Agora, a Carla me conta ao telefone. Ele foi embora. Seu e-mail se calou, onde trocamos contos, conversas, considerações. Silêncio no Linkedin...Antes de partir, há cerca de dois anos, lançou um livro, O Perseguidor. Achava seu jeito de escrever muito parecido com o meu. 

No natal de 2012, não sabíamos que estávamos nos despedindo da prima Maria Alice. Neste reveillon, de Tom Figueiredo. Compartilhamos com ele o melhor de Minas, a sagrada mesa de alimentos, o amor da família, os causos, as músicas, o fogão de lenha, as histórias de todos nós naquele casarão, que também fez parte da sua infância, no tempo do Joaquim, meu irmão. 

Ao final, ele voltou às origens. E nós, tivemos a oportunidade de conviver com ele. Seu sorriso ficará eternamente nas nossas lembranças. Que Deus o tenha! Meus sinceros sentimentos!
Tom Figueiredo com Tião da Lola. Eles dois passaram a noite acordados e conversando  neste reveillon inesquecível!


Abaixo, o artigo que o primo Tom, saudosíssimo, publicou no Expresso depois da experiência da Policena:

Identidade perdida (e reencontrada)

         Posso dizer que em Carmo do Rio Claro passei o Carnaval mais feliz de minha vida que, em 2010, tem o rastro de uma longa estrada. Não, não foi na avenida. Explico: enquanto se brincava no festejo oficial, primos e amigos nos reuníamos no bar do Caruncho (olha o comercial!). Nunca vi tantos talentos à volta de consagrados sambas, carinho e cerveja. Faltavam instrumentos. Não me atrevi, é lógico, ao cavaquinho. Que eu presumia tocar,  até aquelas noites mágicas.
         Mas há outras razões para a felicidade. Relato só uma que, de longe, vale por todas, pelo seu sortilégio. Se me permitem, foi quase uma epifania.
         Vinha eu com meu primo Dito e familiares da fazenda Água Limpa. Voltava de um banho de memórias, pura dádiva de meus parentes que sabem o quanto preciso delas.
         Deixo o carro diante do hotel. Ao quarto e, súbito, o pânico! Onde foi parar a carteira com os documentos que a vida vai botando no bolso da gente? O primo Dito, convocado ao telefone, revira o carro do avesso, por dentro e por fora. Nem a Polícia Federal faria melhor. Nada!
         Aflito, sou amparado pela prima Ana Maria Soares que consegue
bloquear os cartões perdidos. Devo a ela a compreensão e a conta do
telefone. 
         Enfim, é a amargura dos  que conhecem os que perderam seus documentos. Terei de fazer de novo o serviço militar? Nascer de novo, talvez?
         Benedito me acalma. No dia seguinte ao infausto, ele me acompanha
em um périplo pela burocracia da polícia. Meu primo, que mais do que um sábio é um homem de bem, consegue o recorde mundial de obter um BO em plena terça-feira de carnaval. Milagre!
         De posse do documento, sinto-me de novo um cidadão. De segunda classe, é verdade. Mas ao menos poderei entrar em um ônibus para São Paulo.
         Mas o milagre verdadeiro ainda estava por vir. Aqui me permitam uma breve digressão, para o entendimento do que segue.  Meu querido primo, Joaquim José, adoece. Sua irmã, Tata, interrompe a peregrinação
que fazia a pé e volta ao Carmo.
         Ela nos relata que conheceu, a partir de Ouro Fino, um trecho
do trajeto dedicado a beatos negros, pontilhado por homenagens. A
primeira é dedicada à negra Policema (quem teria sido?). Em sua modesta ermida de pedra está gravada a quadra: Das profundezas do escondido / Policema trás a luz /  Encontra o objeto perdido / Policema é de Jesus.
Tata, generosa, diz que me fará esta prece.
         À noite, indo para a casa de Ana Maria, bem em diagonal à casa de
Tata,           pára ao meu lado um belo carro. O motorista, profissional tranqüilo, põe a cabeça para fora do lado do passageiro de me pergunta: “O senhor perdeu uma carteira?” Não tive a dignidade de desmaiar. Em seguida diz: “Entre que o levo até a sua carteira”.
         Um percurso rápido até um bar, em uma tal rua da Cobra.
Diante dele, o motorista chama um amigo: “ O jornalista está aqui!” Geraldo, esse é o seu nome, havia gravado o meu rosto na foto de minha carteira funcional. Os faróis do carro haviam, felizmente, me delatado.
         Gentil, alma elegante, Geraldo me devolve (com a carteira!) bem à frente da casa de Ana Maria. Ainda tem tempo para me dizer que habitualmente não viraria à direita, uma vez que mora perto do cemitério. Seguir em frente seria o mais lógico. Mas dobrou à direita, “só por dobrar”, segundo ele. Será mesmo?
         Só me resta ir para o bar do Caruncho e conter o choro. Que lindo Carnaval, graças a gente como Tata, Geraldo, Dito, Ana Maria e tantos outros!

                            Antonio José de Figueiredo
          Paulistano do Brás e carmelitano de coração, se me aceitarem.
   
Nós não só o aceitamos, como aprendemos também a amá-lo.




quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Crônicas de viagem a Carmo do Rio Claro

Amanheci em Belo Horizonte, mas cheguei com olhos de carmelitana. Vi estas ruas, tão familiares, com olhos outros. Uma parte minha ainda está no Carmo. A experiência ali vivida em férias de duas semanas, vista de outro lugar se reveste de importâncias. Tantas vidas vi e vivi nestes dias. Experiências interessantes. Acordei às 7h e subi para a praça disposta a ir para qualquer lugar que o coração e a liberdade das férias sugerissem. Vislumbrei as lindíssimas palmeiras da praça, que fizeram parte da minha adolescência como pequenos arbustos ainda jovens. Portanto, ao olhar da Igrejinha de Nosso Senhor dos Passos para a cidade, elas se deslumbram em bloco, em frente a igreja. Caminhar em volta da praça é muito prazeroso. Em cada curva, nos deparamos com a Serra da Tormenta, majestosa, a 1.250m do  nível do mar. Um tesouro verde que se dá a cada amanhecer.

Badaladas do tempo

Ouço o sino da igreja matriz e  me faz mais retroceder no tempo, batendo as horas em badaladas. Para nós, que moramos fora dos seus ritmos, em ritmos bem mais acelerados das grandes cidades, o som do sino repercute no nosso ser.
A igrejinha de Nosso Senhor dos Passos está aos pés da Tormenta. Hoje, em marrom e bege, guarda a imagem de um Cristo barroco, igual aos de Ouro Preto. Sempre tive medo desta imagem, coberta de capa roxa. Para mim Cristo é vivo. Gosto mais da igrejinha em cores mais fortes. Nesta pracinha, há muitas casas grandes e bonitas. Mas uma se preserva intata e, assim, mantém o passado bem agarradinho no presente. Um casarão antigo de janelas azuis, as mesmas árvores no  quintal, as vacas ao lado. Esta família é a guardiã da chave da igrejinha de Nosso Senhor dos Passos e, não sei se ainda é, a guardiã da chave da igrejinha do alto da serra. Muitas vezes, nas madrugadas, entre neblinas, subíamos a serra. Antes, batíamos à porta para pedir a chave. A igrejinha de Nossa Senhora Aparecida, no alto da serra, é guardiã de retratos, ofertas, pedidos, agradecimentos, votos em gessos de inúmeros peregrinos que ali sobem buscando Deus.




Soltem os doidos

Próximo à Igrejinha de Nosso Senhor dos Passos, subindo em direção a serra, está a ermida da Mãe Rainha, cuja guardiã é minha irmã, Tata. Fomos lá numa agradável tarde azul e nos encontramos com o Benedito, o Dito, irmão do Tim e do Paulão, filho da Penha e do Valadares, que era irmão da minha segunda mãe, Elisa. E nos revelou que há 20 anos sobe a serra uma vez por semana para levar uma vela de sete dias. Disse que subiu uma vez e viu que não havia velas. Então, resolveu cumprir sua humilde e, antes anônima, ação. Que esta luz ilumine os seus dias e os da sua família. O Paulão, seu irmão, é um personagem atual das ruas de Carmo do Rio Claro, não faz mal a ninguém. Ele, no seu entender, é rico e empresta dinheiro até para o Antônio Carlos Pereira, o maior fazendeiro da região. Anda benzendo os espaços, andando de um lado para o outro, cumprindo a sina de “louco”. Eu, que coleto histórias de outras personagens do Job, acho que os loucos devem enfeitar as ruas. Alguns, são pontos de lucidez, como era o caso da Represa, resposta espirituosa na ponta da língua.

Onde comer?

O Carmo oferece inúmeras opções, em alguns quesitos. Restaurantes, há dois restaurantes a quilo ótimos – o Casarão e o Bom Prato. Grande parte dos carmelitanos já não cozinha em casa. A Celenice se esmera nos pratos e oferece um agradável ambiente no casarão, que fica na Wenceslau, na esquina da praça debaixo. Conta com a presença simpática do Omar. Pode-se comer na varanda vislumbrando a cidade e a Serra do Tabuleiro, também majestosa. A paisagem do Carmo é sempre de montanhas, vales e águas. Fui conhecer a Pousada da Teia, próxima aos cânions do Lago de Furnas. Minhas irmãs, Alice e Cláudia, viciadas em caminhada, foram conhecer e contar a distância, dispostas a irem a pé em outra ocasião. Contaram 7 km da ponte torta até lá. O que eu mais gostei é que, além da água, tem galinha, vaca, marreco, um clima de fazenda. Tem aquele cheirinho de bosta de vaca que só quem é da roça conhece e gosta.

Carmo Zen

Impressionou-se a quantidade de lojas no Carmo, a Teia mesmo tem uma loja na cidade. Tem nutricionistas, Pilates e um fisioterapeuta maravilhoso, conhecido por Butina. Despojado, atende a muita gente e com muito carinho as velhinhas, como pude constatar em conversa com a Tia Rita e com a Bebel, irmã da Elisa. Todos o amam. O preço é hiper camarada, R$ 17,00 e proporciona acesso a todo. Um achado! Já me tratei com ele e também a Carla, minha irmã. Tem ótimas meditações, promovidas pela minha irmã, Ludi, psicóloga, que também atende pelo SIM. Veio acrescentar ao Carmo, traz grande conhecimento adquirido no Instituto Renascer da Consciência, do qual fez parte por muitos anos. É também formada pela Universidade Cidade da Paz.

Filé de lambari?

No quesito comida, vou falar das que experimentei. Fui ao Tempero de Minas. Não conhecem? Na Kátia e no Mané, agora sabem onde é. Ele é meu primo e um exímio pescador e cozinheiro de peixe. Come-se lá o inédito Filé de Lambari, o delicioso quibe com molho da casa e um especial escondidinho de frango ou carne. Kátia contou que atendeu a uma cliente do Hotel Varandas, com duas filhas muito bem trajadas. Ela experimentou vários pratos. Ao final, disse que adorou o peixe e o escondidinho. No outro dia, o Hotel reservou para mais 10 pessoas. Cada um já disse o que iria consumir, para adiantar o serviço, mostrando o profissionalismo da Marly, proprietária do hotel. Ao final, chamaram a Kátia. Ela foi aplaudida de pé. Acharam, também, baratíssimo! Ospreços no Carmo são convidativos.

Pra quem gosta de vinho...

Temos agora uma opção muito interessante. Para aqueles  que, como eu, não gostam da música sertaneja atual – curto as modas antigas – o Marco Túlio oferece uma ótima opção, em um bar na Rua Nova. Não guardei o nome do bar. Mas as músicas são da melhor qualidade, popular brasileira e, muitas, dos anos 70. Ele disse que sentia falta de um lugar assim no Carmo. Na parede, imagens de Elis Regina, Chico Buarque, Os Beatles. Ele também inovou, oferecendo a Casquinha de Tilápia, tudo de bom! De sobremesa, brigadeiro de cachaça, delicioso! Ele é muito educado e o tempero da sua companheira, muito bom. Só uma crítica, já levada a ele e recebida com atenção, o vinho, precisa ser de boa qualidade. Eu e a Valerinha, minha sobrinha, que viu o Ian, seu filho, degustar duas casquinhas de tilápia, sugerimos nomes de bons vinhos. Marco Túlio disse que já havia recebido esta demanda da Marta. Enfim, teremos a opção de tomar um bom vinho no Carmo, onde é mais tradicional a cerveja.





Nova opção: a velha Fazenda Água Limpa

Na primeira semana, fiquei na Fazenda Água Limpa. Ela se abriu para visitação pública, oferecendo também almoço com a culinária mineira rural e o café colonial. Os visitantes são convidados a fazer um “tour” pelo casarão, guiados pelos proprietários, Toninha e Joaquim José. Andam pelos cômodos, salões e porões, um verdadeiro museu vivo, com móveis da época. É uma experiência única conhecer a Fazenda Água Limpa, entra-se dentro do tempo, em outro tempo. Ali fui criada, portanto, para mim, é entrar no tempo da infância. Casa de pé direito altíssimo,  39 janelões, com enormes toras de madeira na fundação, totalmente preservada. 

Minha sobrinha Valerinha está entregando os produtos “Dagualimpa”, ovos caipiras e queijo frescal.  Contato visitação: 35 | 9902.4479 35 | 9992.0402 (com Valerinha).

Profissionalismo

A Pizzaria Gerbeli é uma ótima opção no Carmo, oferecendo cerca de 40 tipos de pizzas. Entre elas, a de abobrinha, muito gostosa, massa leve. Atende em casa com presteza e agilidade.Segundo o Joaquim, meu irmão, o melhor delívery do Carmo é de cerveja. Eles atendem até nos ranchos, há até um Tele Sanduiche. Mercado promissor, já que há 1.600 ranchos à beira d´água, sem contar as fazendas.

Comi, e não vou citar o nome, em dois restaurantes à beira do lago. Em um deles, chegamos às duas da tarde e já não havia saladas. Em feriados, devem se preparar mais.  No outro, o azeite era misto com soja e ainda estava rançoso.  Disse à proprietária que era preciso caprichar no azeite, que o Carmo sempre recebeu e, agora, mais ainda, um público exigente. Hoje, todos prezam um bom azeite. Mas é sempre maravilhoso comer com a vista para o lago e as montanhas.

Antônio Adauto, um verdadeiro arqueólogo.

Tesouro arqueológico

Visitei desta vez o Museu do Indio Antônio Adaulto  um tesouro para o Carmo e para a humanidade. Igaçabas, urnas funerárias, algumas com ossadas, utensílios domésticos, inúmeras flechas de cristal. O acervo conta com cerca de 3 mil peças. Nas paredes, fotos do Xingu, do primo Renato Soares. Um banner mostra as primeiras escavações no sítio arqueológico na fazenda do Antônio Adauto. Uma boa opção para os turistas. Ouvi dizer que o promotor cobrou do atual prefeito o retorno do museu para o Antônio, nada mais justo. Este homem é um verdadeiro arqueólogo e teve o respeito de um índio preservando sua história e retirando do seio da terra, os preciosos pertences de outros povos, dizimados pelos bandeirantes.

Recordações

Encontrei com a Carmelita do Ari do Bala...e ouvi lindas histórias de amor. De sua janela, ela vê o GEC antigo e relembra as inúmeras vezes que ali bailou. . Ela, de cabelos bem arrumados, óculos escuro, moderna, conservada em seus 80 anos. Lembra-me muito minha mãe, elas são primas. Atualmente, ela vive de boas lembranças.

Casos do Job

Adiantei com o Job o livro de casos. Fui lá e me deparei com os primos – Milton Luiz, Dito e Job Milton, que trio! O Milton Luiz conserva ainda aquele vozeirão e aquela presença! O livro, por recomendação do Job, vai se chamar “Risos do Carmo – A Farsa alegre de uma cidade centenária”. Ainda, como se diz, no prelo.

Solidariedade e mistério

Fui à Festa da APAE e, pela primeira vez, ganhei doces no bingo. É bom para encontrar outros carmelitanos. Uma festa de solidariedade!  Na Fridoce, encontrei com o primo Dilton, que mora na casa da serra. Levava duas fotos na mão, em uma, via-se um objeto voador não identificado perto da serra, em outra, crianças estavam sendo fotografadas e a máquina registrou bolas de luz. Mistério! Ficamos de algum dia ir ver o arquivo que ele tem, pesquisador de UFO há muitos anos.





Sonhar pode

Voltando ao começo da conversa, subi às 7h e, da praça, ouvi a missa, que me chamou. Fui, comunguei e gostei de celebrar com meus irmãos carmelitanos. Lembrei-me da minha mãe, Nivalda, que era ministra da eucaristia. O coro estava bonito e contava com a voz do Jair Soares, meu primo.  Só gostaria que as músicas fossem mais alegres. Há sempre uma tristeza pairando sobre a igreja de hoje, sombras da igreja antiga. Por isso, o Papa Francisco tem chamado à alegria. Será que as palavras do Papa repercutiram na igreja do Carmo, transformando em ação para os pobres a sua missão?E em alegria o discipulado?

Enfim, acho que eu moraria tranquilamente em Carmo do Rio Claro, Mas tenho ainda coisas a cumprir por aqui, Belo Horizonte, minha segunda cidade, muito amada! Mas venho tecendo sonhos para o futuro, não tão distante!