domingo, 7 de dezembro de 2014

É Natal!



Nos meus tempos de criança, quem trazia os presentes de Natal era o Menino Jesus. Existia o papai Noel, tínhamos vontade de acordar de noite e vê-lo colocando os presentes.  Assim que descobrimos que papai Noel não existia - eu, Carla e Cláudia - nos sentimos muito importantes. Fomos com o papai e mamãe comprar presentes na Castelã. O Natal, as poucas luzes coloridas das fachadas e uma árvore da praça toda enfeitada eram mágicas para nós. Eram suficientes para colocarem um clima novo na cidade. Subimos de mãos dadas até a Castelã, às dez da noite, depois que os outros irmãos já tinham dormido. Nós três ganhamos velocípedes. Descemos a rua da Capela no brinquedo, saboreando a novidade de estar a noite acordados. Depois, ajudamos meu pai Edmundo e minha mãe Nivalda a colocar os presentes no pé de cada cama. No outro dia, acordamos vendo a surpresa deles e compartilhando da gostosa mentira do Papai Noel, até quando fossem mais grandinhos e pudessem também dividir com os pais a compra dos presentes.


Natal também trazia para as casas a Companhia do Menino Jesus e a Folia de Reis. A primeira mora no meu coração. Vó Alice cumpriu por dez anos uma promessa de dar almoço para a Companhia. Assim, durante toda a minha infância pude presenciar a trégua dos cantadores. Era feito arroz de forno, frango, maionese e servido um galão de vinho tinto.

Sempre me emocionei desde as primeiras notas - 'a chegada nesta casa, chegamos com alegria, aqui está o Menino Deus filho da Virgem Maria... aqui está o Menino Deus filho da Virgem Maria, vinde contentes, alegres pastores..... É os anjos que cantam na glória de Maria Virgem Pura, de Maria Virgem Pura...

No meu cantinho, já com minha alma de poeta, guardava na memória a cantoria. "Adeus ó gente boa, devotos de São José, adeus ó gente boa, para o ano se Deus quiser... adeus ó gente boa para o ano se Deus quiser....

Cada um de nós beijava a fita da casinha do Menino Jesus e a casa estava abençoada.
Este ano, passo o Natal no Carmo, ao lado da minha família, na Fazenda do Tião da Lola, meu irmão. Nosso Natal é uma celebração ao amor entre nós.


FELIZ NATAL E UM ANO NOVO REPLETO DE ALEGRIA, CONSCIÊNCIA E REALIZAÇÃO!

domingo, 30 de novembro de 2014

Homenagem ao Cruzeiro - um dos seus mais ardentes torcedores


Janelas Janelões



Visão de dentro da Fazenda Água Limpa, de algumas das 39 janelas do casarão. Mostra os muros de pedra. Os telhados feitos "nas coxas" dos escravos, o pôr do sol. Sempre à tardinha, milhares de garcinhas cruzam o céu indo para seus ninhos. Quando há água na baixada, na chamada várzea, migram para lá as colhereiras, que tingem os céus de cor de rosa. Até tuiuiu  já apareceu por lá. Muitas vezes descemos à várzea para observar os passarinhos. No fundo do quintal, as centenárias paineiras, que são um show a parte.

"Poesia é quando a tarde está competente para dálias.
É quando
Ao lado de um pardal o dia dorme antes.
Quando o homem faz sua primeira lagartixa.
É quando um trevo assume a noite
E um sapo engole as auroras."
(Manoel de Barros)

Viva a Poesia!

      Homenageio neste post a Manoel de Barros, falecido recentemente. Acima de tudo, homenageio a poesia. Por volta 1978/1979, participava ativamente dos movimentos poéticos de Belo Horizonte. Fazíamos Varal de Poesias na Praça da Liberdade, onde distribuíamos folhas em branco para as pessoas escreverem poesias, depois dependurávamos. Tínhamos megafone e tudo para convidar os passantes a participar da intervenção.
    Muitas vezes fazíamos sarau nas praças. Um deles foi em Diamantina e, entre outros, estava meu amigo poeta Régis Gonçalves. Esta foto acima mostra uma intervenção que fizemos em bares de BH no Dia Internacional da Poesia. Chegávamos de máscaras e recítavamos trechos de poemas, selecionados na casa de um dos poetas, salvo engano de Wanderlely Batista - a foto abaixo mostra o momento em que fazíamos a seleção. Eu me lembro que a minha fala, aí nesta escada, ao tirar a máscara foi: " e neste momento, os homens da minha cidade amam suas mulheres sem nem ao menos saberem do que é feito o amor". Ganhamos de tudo - de palmas a vaias - mas éramos a transformação, estávamos agitando a cidade. Tempos bons da FAFI BH, onde estudávamos jornalismo. Eu não sabia que havia sido documentado, até que meu amigo escritor José Alexandre Marino postou estas fotos que registram um momento muito especial na minha vida. Na foto, Wanderley Batista (em pé, de barba) e Sérgio Fantini (agachado à direita).  Viva a poesia! 



Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas
mais que a dos mísseis.
Tenho em mim
esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância
de ser feliz por isso.
Meu quintal
É maior do que o mundo.




Fui criado no mato e aprendi a gostar das 
coisinhas do chão – 
Antes que das coisas celestiais.

Eugen Emerik - Entardecer na Fazenda Água Limpa


Ando muito completo de vazios.
Meu órgão de morrer me predomina.
Estou sem eternidades.
Não posso mais saber quando amanheço ontem.
Está rengo de mim o amanhecer.
Ouço o tamanho oblíquo de uma folha.
Atrás do ocaso fervem os insetos.
Enfiei o que pude dentro de um grilo o meu destino.
Essas coisas me mudam para cisco.
A minha independência tem algemas.


Foto "Prece" - Ed Figureido

"Face" a Face

Paulo Jacob, Pedro Augusto Correa, Juca (Antônio Damasceno) e Nemércio Ávila no Bar Pinguim. Foto gentilmente cedida por Clarice Vieira D Avila - cedida ao Coró e repassada por mim, com a licença de todos.

O Bar Pinguim e tradicional reduto dos carmelitanos. Antigamente era uma bar, hoje foi revitalizado pelas filhas do Zecão - segundo o Coró - e promove eventos. Mas está na memória de todos.

Foto do acervo do César Marinho - seu pai, no Bar Pinguim.

domingo, 23 de novembro de 2014

Antes e depois

A família Figueiredo. O tempo passa. Na foto, as irmãs Carmelita, Lourdes, Rosina, Corina, Alice e Dalica.

Neblinas da Água Limpa


Hoje o dia está para esta foto. Uma chuvinha gostosa e continuada. A chuva sempre me lembra meus tempos de criança. Logo depois da chegada da água, chovia cântaros. Dias enfiados e sem luz. Era relampear para a força cair. Dias inteiros dentro de casa. A criançada jogava dama, ping pong, dicionário... Ou líamos debaixo das cobertas. Era a chuva começar e os trovões a retumbar, para a Elisa, nossa mãe mulata, ir acender palha benta e rezar para Santa Bárbara! São Jerônimo! Meu avô paterno, pai da minha mãe, o português Pedro Pereira tinha pavor a tempestades e raios e se escondia debaixo da cama.

Quando a chuva era na fazenda, aí sobrava para os casos ao pé do fogão de lenha, de preferência, de assombrações. Na fazenda, grande, dava para brincar até de pique. Os dias era mais tristes. Eu sempre gostei do dia de cara emburracada, sempre achei mais inspirador.

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Saudades gustativas

É TEMPO

É tempo de goiabada

De Marmelada

De Pamonha

É tempo de saudade!

Pau a pique
Biscoitão
Pão de ló

Goiabada no prato de leite.
Omelete com cebolinha verde
Limão china
Doce de leite.

Queijo Minas.

Carmo do Rio Claro
Terra de sabores 
Requintes.

Educação italiana para os homens.
Educação Francesa para as mulheres


Na foto, Dona Nicotinha Paiva, um ícone da cultura carmelitana.

Carmo do Rio Claro
Em palavras:


Cultura
Beleza
Hospitalidade

Estava fazendo este post, quando passou na rua de casa, aqui em Belo Horizonte um carro de som gritando: olha a pamonha, o milho verde, o bolo de milho, o suco de milho....
Agora, tenho pamonha na geladeira e um autêntico bolo de milho verde mineiro na geladeira. 

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Um tributo a irreverência! Toninho Soares

Toninho Soares - um personagem

A paineira da Fazenda Água Limpa

Esta é a famosa paineira da Fazenda Água Limpa. Quem a conheceu, sabe que ela tinha um tronco enorme. Nas fotos, ela está protagonizando uma morte bela e lenta. Veja que numa das fotos ela se tornou um portal. Em uma outra, que infelizmente não localizei, ela fez um coração. Mas a sua morte tem histórias que passam pelos planos da fantasia e da realidade.

Há muitos anos, na década de 80, decidimos limpar a casa. Uma casa antiga devia guardar muitas energias negativas, espíritos escuros. Enfim, várias mulheres toparam enfrentar a empreitada de limpar a Fazenda Água Limpa.

Eu comecei a maratona de limpeza varrendo a casa toda, enorme...Depois varrendo o ar com vassourinhas de alecrim. Aí veio a Toninha, dona da casa, jogando sal bento por um padre nos quatro cantos da casa. Minha irmã, Tata, rezou o exorcismo católico - arrepiando-se - em todos os quartos. Enfim, Elisa, minha mãe mulata, veio com uma frigideira queimando palha de alho.
Foi muita "bruxa" junto. Havia que transmutar aquilo tudo.

Tata foi embora para casa - sua fazenda fica ao lado - cheia de arrepios e presságios. É um pouco sensitiva. À noite, ela sonhou que de todos os cômodos da casa, dos porões e das casas dos camaradas saíam espíritos e sombras entravam dentro da paineira e saíam por cima.

Passou um tempo, caiu o primeiro galho. A paineira morreu. Transmutou aquela energia toda? Creio que sim, deu a vida pela Fazenda Água Limpa.

As paineiras sempre fizeram parte da família Figueiredo. Meu avô Pipoca, pai da Vó Alice plantou uma paineira em frente a casa do Job, que deu abrigo a muitos namorados, amigos nos tempos mais antigos. Também no Porto Carrito, onde Vó Alice e Vô Soares viveram, à beira do  Sapucaí, conta o Job, que havia uma imensa paineira, onde a criançada almoçava. No tempo ainda do Vapor Francisco Feio.
Foto de Ed Figueiredo. Fazenda Água Limpa.

Na foto acima do banner do blog se vê a paineira do Vô Pipoca.

"Sou uma doce paineira
e teço espinhos e painas 
às vezes me tinjo de rosa
cor rosa nas minhas vestes
ou espinho 
e seco.
Sou paineira
tempo
tempo."

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Casos do Coró


A Churrascaria Tocha, do Moacir Campista César.
"No Carmo havia um dupla que não se entendia, pois eram inimigos políticos. Um de direita e outro de esquerda. Um era o Moacir Campista e o outro o Nicolau do Geraldo Monteiro. Bastava se encontrarem ou estarem em uma roda de amigos e lá vinham as ferpas. Mas ambos tinham uma coisa em comum: eram extremamente sistemáticos, o que reforçava a rivalidade entre eles. Moacir, pai do Tão e do Cizinho, infelizmente já nos deixou. O Nicolau, bem mais jovem, permanece entre nós. Um dia o Moacir ganhou um cachorro muito sofisticado, com pedigree, muito empinado, origem francesa, quase fresco e que veio com o nome no registro de "Nicole". Passeando um dia pela praça o Nicolau ouve o Moacir chamar o refinado canino pelo nome "Nicole". Imediatamente deduziu que o Moacir havia colocado esse nome para provoca-lo. Mas não se fez de rogado. Procurou até encontrar um vira-latas bem feio, deu banho, comprou uma coleira nova e foi para a praça levar o bichinho para passear. Ao avistar o Moacir - que saía de casa - fez questão de passar perto dele com o cachorro e a chama-lo pelo nome que lhe deu: "Moacile, vem, Moacile".

(Mensagem '"Face" a Face)

sábado, 8 de novembro de 2014

A Ação Combinatória - Movimento tentou deter Furnas

 \O livro 'Mandassaia', escrito por um funcionário de Furnas, Ildeu Manso Vieria, retrata exatamente a situação da região do Carmo e demais cidades diante da 'tragédia' de Furnas. É um documento histórico que eu divido aos poucos com vocês. 
JK visita Furnas


"Alfenas, Campo Belo, Carmo do Rio Claro, Guapé e Pium-I, os municípios mais belicosos da beira do rio Grande e Sapucaí, entram em 'Ação Combinatória' movida contra a União, a Central Elétrica de Furnas, demais interessadas e diretores da empresa.

A ação, firmada por Noé Azevedo e João Franzen de Lima, encaminhado ao Juízo de Direito da 1ª Vara dos Feitos da Fazenda Pública de Belo Horizonte, pretendia impedir os réus de executarem as obras, abstendo-se das expropriações. A ação considerava nulo todo o empreendimento, e ainda condenava os réus ao pagamento de custas por vários danos causados.


Os advogados dos municípios contestadores encerraram a petição encaminhada à Vara dos Feitos...
A entrada da ação em juízo a 28 de maior de 1958 esquentou o inverno montanhês. Manoel Taveira não perdeu tempo. Voltou a inflamar seus pares na Assembleia Legislativa de Minas Gerais.
Do alto da Serra da Tormenta se vê as águas ao redor da cidade. Carmo do Rio Claro foi a cidade que mais perdeu terras para Furnas. As melhores várzeas. Ela veio, foi difícil de engolir, levou muita gente afogada em suas águas. Trouxe muita tristeza, deixou muito banzo. Acostumamos e aprendemos a amar o lago. Agora, sofremos por ver a sua evaporação. A 'caixa d´água do Brasil' como foi chamada à época 'não queremos ser a caixa d´água do Brasil., está secando. É triste. O Carmo terá que se reinventar.


"A barragem de Furnas senhores deputados, não foi idealizada, na verdade, como tenho dito nesta casa; unicamente para gerar energia elétrica na própria barragem e somente nela. Furnas tem como escopo beneficiar os trustes internacionais, as companhias estrangeiras que exploram outras usinas no rio Grande, situadas abaixo do canyon escolhido para esta barragem".

O advogado Geraldo Freire, de Boa Esperança, interessado no aumento da clientela e nos votos para futuras campanhas políticas, já não discursava somente na sua cidade. O eloquente orador subia nos barrancos dos vilarejos de beira rio e pregava inflamado:

"Com a Ação Combinatória impetrada pelo professor Noé Azevedo, Furnas não poderá prosseguir as obras, dar continuidade ao ato criminoso que vem colocando o nosso povo em polvorosa".

movimento dos mineiros contra Furnas foi se avolumando e Alfenas, Campo do Meio. Carmo do Rio Claro e Guapé projetaram-se no noticiário nacional. Os pacatos serranos ganharam manchetes nos jornais:

"Furnas será detida pela ação combinatória"
"Furnas vai paralisar as obras"

O prefeito de Alfenas, João Januário Magalhães, o Janjote, médico dos mais ilustres e culto, sorridente, como signatário da Ação Combinatória, visitava os formadores de opinião de sua cidade e presenteava-os com um livreto de autoria de Noé Azevedo e João Franzen de Lima, intitulado "O Caso da Central Elétrica de Furnas".
Na capa cinzenta do livreto o professor Noé Azevedo sintetizava a história de Furnas:

'Não se trata de um caso comum de desapropriação, em que o interesse público prevalece sobre o particular, mas de um empreendimento colossal que afeta toda uma região, determinando o deslocamento de mais de trinta mil pessoas, a submersão de algumas cidades e supressão de vários municípios. Tem-se conflitos de interesse igualmente públicos, que, em bom direito, só o pode ser dirimido por via de plebiscito. O mínimo de garantia exigido pelo interesse da região, seria o de uma Lei do Congresso Nacional prevendo sobre todas as consequências de ordem social, administrativas e econômica desse empreendimento. Envolvendo a desapropriação de bens públicos dos municípios, dos Estado e da própria União, a mesma só poderia ser feita mediante leis do Congresso Nacional e da Assembleia Legislativa, de acordo com expressas disposições do decreto-lei 3.365 de 1941, que disciplina a matéria. Nulo, portanto, é todo o empreendimento baseado exclusivamente em decretos do poder executivo". 

terça-feira, 4 de novembro de 2014

A VIDA SOCIAL NO CARMO DOS ANOS 60

Está é minha eterna professora de Português -  Literatura e que me ajudou a iniciar nas letras. Ela dava diferentes temas para que escrevêssemos livremente,  eu viajava, sempre gostei de escrever. Ela me valorizava. Lúcia Carielo, na foto com meu primo, o genial, Gabriel Vilela.
Abaixo, transcrevo um artigo seu, publicado no Expresso Carmelitano de 12 de junho de 2014. Uma verdadeira viagem aos anos 60. Fiz uma mesclagem com fotos.  Dá uma saudade! Degustem!

"    A década de 60, conhecida  como anos rebeldes ou anos dourados, foi rica em todas as áreas do conhecimento e marcou, definitivamente os rumos da humanidade. O mundo já não era o mesmo. Novo tempo, nova mentalidade e muitas mudanças. Quem viveu nos anos sessenta tem muitas histórias para contar. Histórias que trazem saudade!
   Nessa década, a  estilista britânica, Mary Quant inventou a mini-saia. O mundo conheceu o monoquini e a pílua anticonceptiva. O movimento hippie ganhou força. Os Beatles gravaram o primeiro disco. O homem foi à lua. Realizou-se o primeiro transplante do coração. Em 1965 foi transmitido o primeiro Festival de MPB. Fatos importantes como a construção do Muro de Berlim, a Guerra dos Seis Dias, os acirrados protestos contra a guerra do Vietnã e os assassinatos do ativista americano Martin Luther King e de J.F.Kennedy marcaram essa época. No Brasil, teve início a ditadura militar e a capital do país foi transferida do Rio para Brasília.





A chegada da água

 Para os carmelitanos, o início dos anos sessenta foi uma conturbada época que marcou a história, modificou a paisagem e a vida. Com a força de um vulcão, impetuoso mar azul invadiu nossas melhores terras e se alojou tranquilo por sobre verdes pastagens. Os corações encheram-se de medo de incertezas, de desesperança e de revolta contra o inevitável. A razão pós-se à frente,  tentando convencer o homem de que não lhe deveriam faltar pespectivas e confiança no futuro; o progresso chegaria através de rodovias asfaltadas e o mercado de trabalho estaria aberto ao carmelitano. O êxodo rural fez com que muitos se desesperassem e partissem rumo a outras terras, em busca de melhores dias.
O Itaci, do lado do Rio Sapucaí, antes das águas.
O Vapor Francisco Feio cortando as águas do Sapucaí, aportando no Porto Carrito, no Porto Belo, no Porto Ponte (Itaci)
E chegou o tal progresso!



O jardim do Carmo era assim. Atrás, a igreja antiga que foi ao chão no tempo do Padre Marcelo, em nome da modernidade. Casarões à esquerda já foram ao chão. A Capela ao fundo, ainda está ali, um pouquinho mais alta, sofreu uma intervenção na época do Ângelo. Ela tem símbolos maçônicos.

Não bastasse tudo isso, um incêndio destruiu a sede do único clube recreativo da cidade: o Grêmio Esportivo Carmelitano. No pouco que sobrou, por algum tempo, ainda foram realizados muitos bailes.
Naquela época, bailes eram marcados com muita antecedência e aguardados com ansiedade. Havia um ritual de preparação. As moças iam atrás de costureiras para confeccionar seus vestidos. Parentes e amigos que moravam fora eram convidados, e a cidade ficava movimentada. O salão do clube era decorado para cada baile. Obra do talento e da criatividade do artista carmelitano, Antônio Adauto Leite. Tudo era feito com muito requinte.
Bel Azevedo, modelito anos 70.


Para sair da rotina dos finais de semana, a mocidade promovia brincadeiras dançantes em casas de família. Bastava que na casa tivesse um aparelho de som, bons discos, e alguém que gostasse de dançar que ela era  solicitada. Estava armada a brincadeira. Uns avisavam aos outros e logo todos ficavam sabendo. Muitas brincadeiras foram realizadas na casa da Zirica, uma casa antiga na esquina em frente ao Colégio das Irmãs. Havia bons dançarinos naquele tempo. As músicas italianas (de Sérgio Endrigo, Peppino de Capri, Nico Fidenco e de Rita Pavone) e as orquestradas (de Ray Connif, Billy Vaugh e Paul Mauriat) eram as mais apreciadas. 
O sonho da juventude era o ter um clube recreativo novo. O povo logo começou a se movimentar, promovendo festas com o objetivo de arrecadar fundos para a construção de uma nova sede para o GEC.



A TV estava chegando ás casas.

Em julho de 1966, um grupo de jovens decidiu promover três dias de festa para ajudar na construção do clube. Eu fazia parte deste grupo. Fomos conversar com Dona Lourdes Palacine, diretora da escola Cel. Manuel Pinto, para ceder seu pátio para a realização da festa. Fomos temerosos e com a certeza de que receberíamos um 'não', porque Dona Lourdes tinha fama de brava e a escola havia sido pintada naqueles dias. Para surpresa de todos, ela abraçou a nossa causa e nos cedeu o pátio. A festa foi um sucesso. Do dinheiro arrecadado demos uma porcentagem para a caixa escolar e repassamos o restante ao clube. Quem animou a festa foi o conjunto musical 'Robertinho de Santos', se não me falha a memória. Esse conjunto já havia tocado aqui antes. Um dos seus integrantes era o Cleveland (filho do Sr. Onofre), um carmelitano que morava em Santos.

Nos anos de 1966 e 1967, o presidente do clube era o Sr. Lúcio Lemos. O vice-presidente. Sr. Moacir Vilela César, foi um dos idealizadores  do JECA NO GEC EM JULHO; uma festa que era realizada anualmente e que se tornou famosa pela animação e pela presença de tantos visitantes. Milton Luís Figueiredo Pereira, jovem carmelitano, com espírito de liderança e apaixonado por sua terra natal, teve papel importante na organização da feesta e em sua divulgação enttre os carmelitanos em São Paulo e em outros estados.

Joaquim e Toninha com seu irmão e  prima, no GEC.

    O tempo passou, o que um dia foi apenas uma ideia, um projeto, ganhou forma, tornou-se tradição e ponto de referência: o Grêmio Esportivo Carmelitano, orgulho do povo desta terra. 
    Muitos eventos programados para serem realizados à noite, deixaram de acontecer porque chovia, a cidade ficava sem energia elétrica e só no dia seguinte ela voltava. Por esse motivo, os bailes foram cancelados e muitas festas adiadas. As moças choravam de raiva e de decepção.

Edinho e seus Brasinhas 

    A vida social da cidade, aos poucos, foi se tornando mais intensa. No Cine Guarani, conhecemos os grandes sucessos do cinema. Às vezes, o filme era interrompido por algum defeito técnico, mas nada disso importava, apenas aumentava a ansiedade. Se alguém estivesse atrapalhando a ordem, vinha tal qual um vagalume, o 'lanterninha' , chamar a atenção. Havia um intervalo  rápido, no meio da sessão, para quem quisesse se levantar e ir até o hall de entrada comprar balas.

Nas imediações do Cine Guarani fazia-se o 'rela', nos finais de semana. Moças de braços dados desciam e subiam , num eterno vai e vem, flertando com os rapazes que se alinhavam um e de outro lado da rua. Muitos namores começavam ali. 
Foto do acervo do César Marinho, seu pai e um amigo, no Bar Pinguim.
BAR XV - O bar das nossas saudades.

O Bar XV era lugar agradável. O bom atendimento e a simpatia da Família Barbosa cativava
 os clientes, que eram muitos. Lá eram tocadas as músicas que faziam sucesso no momento. Serviam aperitivos e bebidas para todos os gostos. Foi no tempo da Cuba Libre, do Hi-Fi e do wisque com guaraná.
As roupas e os acessórios usados são lembrados, hoje, nos bailes 'Anos Sessenta'. São desta época a camisas de fios sintéticos da marca Valisére , as camisas 'Volta ao Mundo', os conjuntos de 'ban-lon' e as blusas de bouclê; depois vieram as calças de tergal, as calças de nycron, as calças jeans da marca Lee e as calças de boca de sino.

A MODA DOS ANOS 60

 As batas e as roupas de tons extravagantes (verde limão, laranja, azul turquesa e rosa shocking), sempre combinando com os sapatos faziam sucesso. NO final da década de 60, já estavam na moda as saias midi e maxi usadas com meias pretas. Brilhantina nos cabelos, correntes grossas no pescoço são algumas das marcas desta época.
Vestidos Tubinho

As mini-saias das graciosas garotas dos anos 70.


CIDADE DA MÚSICA

   Faziam  sucesso por aqui os conjuntos musicais: Ases do Ritmo (Job Milton e outros músicos carmelitanos); Robertinho dos Santos, Edinho e seus Brasinhas (hoje, Edinho Santa Cruz) de Passos. As orquestras Laércio de Franca e Cassino de Sevilha.
    Na cidade havia muitos seresteiros. Com voz e violão, ou com eletrola portátil era possível fazer uma serenata. Nas tardes sem fim dos domingos havia sempre uma eletrola e um papo amigo.
Quando teve início a construção da barragem de Furnas e das rodavias adjacentes, o Carmo renasceu. Funcionários de Furnas frequentavam a cidade e nos finais de semana as noites tornaram-se mais movimentadas. Foi nessa época, também, que o Carmo recebeu as mãos de obra do progresso: os candangos. Vindos de diferentes lugares, acamparam-se no bairro que ainda hoje é chamado de 'Acampamento'. Desfilavam pela cidade de sandálias havaianas, de óculos escuros e radinhos de pilha colados ao ouvido. Grandes sucessos da época. Eram funcionárias da companhias de pavimentação, Alcindo Vieira, Sotenco e Servienge, encarregadas de construir a rodovia que liga Passos a Alfenas. 


    A cidade não estava preparada para receber tantas pessoas: faltava água, faltava luz, mas não faltava hospitalidade. Animados frequentadores dos bailes da garagem do Zé Matildes, os candangos foram contagiados pelo sonho de um grupo de carmelitanos que queria construir um clube para os operários, a SOC. 
Um dos idealizadores da Sociedade Operária Carmelitana. 
Era o momento de começar a luta. Trabalhar, angariar fundos e concretizar o sonho. Foi nesta luta que encontramos a Maria Teixeira, a Maria do Chicão, a Ifigênia e a Dona Olívia a fazer tira-gostos e o Zé Matildes e outros a promover bailes e a pedir, aqui e ali, material para construir o clube. Não lhes faltou a ajuda do povo e das companhias de asfalto. E assim foi surgindo, pouco a pouco, na rua Cel. José Bento, com o suor do trabalhador, a Sociedade Operária Carmeleitana (SOC), cuja história é a história de um povo que batalhou para a realização de um sonho. Os dois clubes da cidade, o GEC e a SOC eram adversários nos estádios de futebol, mas unidos na mesma responsabilidade: a de promover a vida social de Carmo do Rio Claro. 

EDUCAÇÃO EUROPÉIA


A educação também movimentou a cidade. O Carmo era polo cultural da região. Difundia a melhor cultura, vinda da França e da Itália, através das irmãs da Providência e dos Irmãos de São Grabriel. Aqui estudavam, além dos carmelitanos, alunos vindos de outras cidades da região que moravam nas escolas, em regime de internato. Nessa época, chegavam ônibus lotados, vindos de longe trazendo jovens para prestar exames de Madureza, no Colégio dos Irmãos. Da cidade de Caconde, interior de São Paulo, vinha muita gente. A maioria hospedava-se no hotel do Marcílio.
     Havia o Seminário de São Gabriel, que ficava na rua Getúlio Vargas. Em regime de internato, jovens ali se prepararavam para um dia serem Irmãos de São Gabriel. Todas as manhãs subiam, em fila, rumo ao Colégio Montfort onde estudavam.
      Havia uma grande liderança jovem, idealista e atuante no Carmo dessa época. Muitos desses jovens faziam parte da União Estudantil Católica - a UEC - e  promoviam muitos eventos no meio estudantil. Para quebrar a monotonia da cidade, mal a tarde caía e a noite chegava, começava a funcionar, no antigo ponto rodoviárioa, o serviço de alto-falante da UEC, que tocava os sucessos musicais do momento.

O FUTEBOL
     O futebol carmelitano ganhou destaque na região. O Centro Esportivo Carmelitano Montfort (CEM), incentivado pelos irmãos de São Gabriel, especialmente pelo irmão Alberto, pelo Milton Luís e Leonardo Carielo (técnicos e treinadores) e Chico David (massagista), revelou muitos jogadores de talento. A escola promovia ora manhãs, ora tardes, ora noites esportivas, e a animação era grande.
      Havia também o time do GEC e posteriormente, o da SOC. Domingo à tarde, vindos dos quatro cantos da cidade, torcedores desciam para o Campo do GEC, para assistir as animadas partidas de futebol. 
     Foi neste tumultuado contexto que vivemos os melhores dias da nossa juventude. Hoje, as lembranças são tantas, uma puxa a outra, se atropelam, provocando uma grande saudade. Foi um tempo bom que marcou a história do Carmo e a história de nossas vidas".
Maria Lúcia de Oliveira Carielo