sábado, 19 de abril de 2014

Sebastião José Soares

Muito elegante meu avô, Sebastião José Soares, o Sô Soares. Na foto acima, ainda jovem, este carioca de Morro Agudo que chegou ao Carmo e conquistou minha vó Alice. Para ela, ele escreveu o verso:

ALI SE TEM SÓ ARES DO CAMPO!
Sô Soares 

Sebastião José Soares, o Soares, marido de Alice Figueiredo era carioca, do Rio de Janeiro, de Morro Agudo, Baixada Fluminense. Veio para o Carmo para trabalhar como gerente do Vapor Francisco Feio. O Vapor Francisco Feio desembarcava neste porto, onde o Sô Soares tinha o escritório de café.Tinha um escritório no Porto Carrito. Já casado com Tia Alice, com a crise do café de 29, ele perdeu dinheiro. Vendeu a fazenda no Sapucaí, foi para Nova Iguaçu, Morro Agudo, plantar laranja. Depois, retornou ao Carmo. Tia Alice conheceu os pais de Sô Soares, Dona Joana e Sr. Luiz.  Era telegrafista, sabia as notícias antes de todos, captando sinais do telégrafo no rádio. A família morava no Porto Carrito, onde tinha uma hospedaria. À frente, havia uma grande paineira. Vô Soares, ao voltar ao Carmo, trabalhou na prefeitura.

Curioso!

Na foto acima, as irmãs Figueiredo ainda jovens. Na debaixo, elas já velhinhas: Tia Carmelitana, Tia Lourdes, Tia Rosina, Tia Corina, Vó Alice e Tia Dalica (acho que acertei os nomes). O que eu acho mais interessante é que a foto da vovó Alice, a terceira mulher da direita para a esquerda (no alto) revela nossa semelhança. O tempo passa....

Para encher os olhos com o céu do Carmo...

Foto de Eugen Emmerick, um lapso da beleza em Carmo do Rio Claro!

Lá do Carmo, fotos do César Marinho, o Boquita...


Olha a cara boa do César, tá no Carmo, tá no céu...


Semana Santa em Carmo do Rio Claro

FAZENDA ÁGUA LIMPA - antes e depois

CHÃO

Venho de estrada de terra vermelha
De café e bolo de fubá na varanda
De berrante
Boiada
Rodeio
Venho de tardes sonolentas
Onde zumbido de mosquito é música
Que embala sono
E cigarra tanajura aleluia paturi
Tatu galinha cavalos manga de vez vacas mochas mojando, papai sorrindo
Cheirando à tinta de pena
a suor de campo
 vaca parida na várzea.
Mãe lavando roupa com anil
Cheirinho roxo quarando ao sol
Panelinhas e a gente criando a casinha
Colhendo ovos e alfaces
Matando frangos que saíam pulando sem cabeça porque eu não conseguia não ter dó
então eles pulavam,
mas na hora de dividir
o santo antônio era meu
e o jogo brigado aos gritos
até papai decidir a questão.
Venho de orvalho molhando pés
Leite fresco de vaca
Pai e mãe rezando terço
Desejando boa noite
Barulho de cobras, grilos e sapos
Lá fora no meio do mato.












Os santos da Família Pereira.

Nesta Páscoa, resolvi lembrar pessoas que realmente foram cristãs. Eu tive um tio que era santo. Chamava-se João Teixeira. Era irmão da mãe da mamãe, minha avó Beatriz, também uma santa. Nesta semana santa, vou reproduzir um artigo que sua prima, Rosalda, escreveu em Cascatinha (deve ser alguma fazenda de Barro Preto), em 19 de dezembro de 1934.  João Teixeira era para mim é uma foto que tinha na casa da Tia Anésia e do Tio Evaristo. Eles moravam em um sítio ali no São Benedito. A foto me encantava, coloria os meus domingos, quando deixava meus pais lá fora chupando laranja e ia contemplar aquele moço lindo na parede da Tia Anésia.
Vou reproduzir o português da época:

“TUDO TRISTE
(Pela morte de João Teixeira)

Fecho-me sósinha em meu quarto silencioso e triste para mais uma vez meditar sobre a sua morte tão prematura.
É sob a influência do triste aspecto de um dia de chuva que escrevo estas linhas, parecendo que a natureza toda se compraz em argumentar a minha tristeza...
Quis ver-me antes de morrer... Chamaram-me às pressas. Fui. Quando cheguei, todos me abraçaram chorando e eu tive que me deter na sala atè que passasse um pouco a emoção. Enxugando depois as lágrimas que teimavam em saltar-me dos olhos tomei alento e entrei. Parecia já um cadáver,  mas se a matéria sucumbia o espírito não fraquejava ainda: porque quando abriu os olhos, os grandes olhos, fitou-me tristemente e disse:
- Você chorou; e porque? Isto não é nada., O que poderá acontecer è eu morrer, mas para isso  já estou preparado. Confessei-me hontem e Deus està commigo. E como eu lhe pedisse para não falar em morte elle continuou: - Creia minha prima, que nunca desejei a morte, porque isto não é digno de um christão, mas sempre pensei nella e nunca me esqueci destas palavras da Sagrada Escriptura: - “Lembra-te que és pós e que em pós te tornarás”. E continuou ainda: Deus era Senhor do meu destino por isso o aceitei resignado.
Sahi da casa de meus paes procurando luctar pela vida e fui buscar a morte. Deus assim o quis e eu dou-lhe infinitas graças por me ter permittido regressar com vida a casa paterna, concedendo-me a suprema ventura de morrer no regaço materno, recebendo a benção de meus paes e o beijo de meus irmãos.
Tentei animal-o para a vida, dizendo-lhe que estava muito moço ainda para pensar em morrer e que tomasse com regularidade os remédios para que sarasse e sahisse logo da cama. Respondeu-me: Sahirei amanhã cedo se Deus quiser.
E  com efeito, ás sete horas da manhã do dia seguinte entregou sua alma a Deus. Sim, pode-se ter quasi a certeza de que Deus o recebeu em seu Reino porque sabe que foi um santo e morreu com as melhores disposições de espírito.
Para provar esta verdade copio aqui um trexo de uma carta escripta por elle.
Trexo de uma carta  escripta em 9 de março de 1934:

Sempre bondosa prima,
Recebi tua carta que, como sempre veio dar-me immenso prazer, mormente agora que ando doente e aborrecido.
Tudo para mim tem se tornado nubloso, parecendo que um véu espesso turva a minha existência. Há momentos em que vontades exquisitas.
Estar em um logar ermo, onde só exista o meu Eu, Deus e a Natureza.
Minha prima. Bem sabes que sempre confiei em ti e por isso tomo a liberdade de contar-te todos os meus pensamentos, porque sei perfeitamente que os sabes comprehender. É verdade que nada tens com meus pensamentos, ou melhormente com a minha vida, mas, como já te disse, és a minha confidente e sinto-me feliz em relatar-te os meus sentimentos. O meu ideal, de certos tempos para cá, è ser padre; mas é um ideal que me preocupa seriamente.
Já sou um tanto idoso (25 anos) mas isto não me empediria; o maior impedimento é o meu estado de saúde que não é muito bom, devido aos grandes abalos moraes porque tenho passado de alguns mezes para cá; insucessos em negócios e sobretudo a deslealdade de alguns amigos iníquos.
Tenho pensado que não haverá mais sublime que ser um guia da humanidade. Sim; dessa humanidade actual que irrefletidamente segue a vida a seu bel prazer, esquecendo-se que existe um Deus a quem todos nós temos que prestar contas um dia. Sabes perfeitamente que o século que atravessamos tudo admite e, eu, nas minhas horas de reflexão, penso que se fosse um padre saberia arrebatar essa humanidade perdida do caminho do mal para o caminho do bem; não como um sábio, mas como um devotado ministro de Christo, mormente na actualidade que vejo mundo composto de hypocrisia e falsidade.
Que dizes das minhas ideias? Sinto deveras não gozar boa saúde, sinão poderias contar que daqui a uns oito annos tinhas um primo padre. Mas sei que o meu esforço por mais que seja irá sempre prejudicando e não chegarei a realizar o meu desejo; de formas que contentar-me-ei em ir alimentando os meus doces ideaes.”

João Teixeira não foi um poeta, não foi um artista, não foi um sábio e nem foi um santo. Mas foi tudo isto ao mesmo tempo, porque soube sempre comprehender e admirar o que é bom e bello.
Foi mais ainda um amigo de todos; pobres e ricos, sábios ou nescios. Estimava os ricos e amava os pobres. Admira os sábios e compadecia-se dos ignorantes. E mais que tudo isso, ainda, a sua alma soube sempre compreender o poder supremo do nosso Creador e procurou sempre incutir aos descrentes sua fé inabalável.
Que Deus o tenha em Sua Eterna Glória gosando a recompensa das virtudes que praticou cá na terra. “
Rosalda
Cascatinha, 13 de dezembro de 1934

Publicado no jornal O Carmo do Rio Claro , domingo, 23 de dezembro de 1934
Deixo aqui minha homenagem à família Pereira, meus queridos, avós, meu amados tios. Na família Pereira, além do Tio João Teixeira, muitos outros foram poetas e alguns foram santos. É o caso do Tio Nilton, que padeceu 18 anos em um sanatório para tuberculosos. Como Tio João, saiu para o Rio de Janeiro para buscar a vida e encontrou a dor, mas entre poesias. Escrevia poemas para o jornal local. As cartas da Vó Beatriz para Tio Nilton converteu um colega de quarto a Deus. Dela veio a fé de minha mãe Nivalda, a Mamãe Noela do Carmo, uma das fundadoras do Lar Nossa Senhora do Carmo, ministra da Eucaristia. Ela, veio a minha fé. Nesta Semana Santa, reverencio a minha genética de santos e mártires da família Pereira de Carmo do Rio Claro.

FELIZ PÁSCOA! LEMBREM-SE, PÁSCOA É MUITO MAIS QUE COELHINHOS E CHOCOLATES.