quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Um pouco de poesia!

O MEDO

No dia em que comunguei pela primeira vez

A hóstia não sangrou

Dissolveu no céu da minha boca

Mas começou a chover

E três dias choveu em seguida

E não adiantava ramo santo ou gritos de Santa Bárbara

Era preciso confessar e guardar a alma

Pra livrar-me do fogo do inferno.

- Padre, perdoe-me os pecados esquecidos.

Aquele sobre o qual não tinha controle

E haveria de pecar de novo

Mas quando a chuva começava

Eu levava lá para dentro

Soldadinhos de chumbo, bolinhas de gude, músicas de roda, cecelêcelêpacê cecelêumpédelê

Onde tu vais toco de mio, onde tu vais toco de mio..

Bonecas de pano,

Lençóis na cabeça.

Não levava o medo

Até que o livro ilustrado vinha parar na minha mão

Purgatório inferno fogo

Purgavam minha inocência

Eu me benzia o credo em cruz

Beijava o escapulário de Maria

Pra não ver o escuro de sombras que se formava

Em torno da luzinha de azeite.

Meu pai e minha já dormiam de mãos dadas

Sorrindo

Eu escutava quatro galos cantando

Sons de assombrações

Até mexer na cama com bastante descuido

Pra acordá-los inocente

Aí, enquanto eles pelejavam para dormir de novo

Eu sonhava com barquinhos de papel

Boiando na enxurrada

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