quinta-feira, 24 de março de 2011

MEMÓRIA DE FURNAS - GUAPÉ EM PÉ DE GUERRA!

Foto: Edmundo Figueiredo
PARA FICAR NA HISTÓRIA
A antiga Guapé ficava localizada numa confluência dos rios Sapucaí e Grande. O nome deriva da palavra aguapé (planta aquática de raizes flutuantes). A cidade foi decretada à morte pela Hidrelétrica de Furnas. O povo decretou guerra e vozes se levantaram. Não adiantou nada o engenheiro de Furnas, Reginald Cotrim mostrar a planta da nova cidade que seria construída no alto. Eram belicosos. Descendiam do lendário Capitão José Bernardes Ferreira, que nos idos de 1856 cercou sua fazenda com muralhas de pedra e para ostentar para os portugueses, ferrou seus cavalos à prata.
Naqueles dias, uma faixa estava esticada na frente da igreja, colocada por um padre prussiano de fala enrolada e dizia: Nossa Senhora, livrai-nos do flagelo de Furnas".

Quando José Alves começou a ouvir os bochichos sobre Furnas, lá no Barranco Alto, primeiro duvidou do que começou a ouvir, mas foi conferir de perto:

"Pelos cálculos aproximados, Guapé vai perder pelo menos 206 Km quadrados de suas melhores terras" (prefeito Vicente Azevedo de Araújo)

Como tinha parentes para aquelas bandas,José Alves pegou seu jippie e foi conferir de perto. Em São José da Barra, encontrou com o dono do posto de gasolina, Anibal Peres:
"Zé Alves, isso aqui vai acabá, homem de Deus! Vai ser o fim do mundo. As Furna vai jogar água na nossa cidade. Até a torre da igreja vai ser coberta pela maldita represa!"

Ouviu o pescador Wilfredo clamar a calamidade " vai acabar a pescaria e São José vai ser submersa. Vamos ter que mudar daqui... Vão transformar o nosso paraíso terrestre em um inferno".
Informou que "os fazendeiros de Carmo do Rio Claro pensam em resistir.
"Eles vão organizar protestos, tentar impedir a construção da barragem. Mas sei que tudo vai dar em nada..."
José Alves ouviu tudo e "... naquele dia carrancudo, sem sol e fresco, sacramentou:
"tá danado, tudo vai ficá isguelepado, siô!"

Não adiantou, a água veio, cobriu Guapé. Nossa região viveu naqueles dias as dores das perdas e danos. Vimos nossas casas, terras, pertences e pertinências serem naufragados pela água. Vivemos ali realmente um "fim do mundo". O fim do mundo dos rios Sapucaí e rio Grande com seus arrozais pelas beiradas, seus peixes - dourados, bagres, jaús , seus vales férteis..


RENASCEU
Mas é inegável, que dessa destruição e perdas, nasceu o mundo do Lago, o nosso querido Lago de Furnas. O mar de Minas. Com ele, vieram mais visitantes, cresceu o turismo.

Deixo, no entanto, aqui registrado o grito da população de São José da Barra e do Guapé, para ficar na história. Nós, do entorno do Lago de Furnas, contribuímos muito para iluminar este País. Merecemos ser olhados com cuidado pelo poder estadual. Que o governo de Minas patrocine e promova o Lago de Furnas, assim como fez com a Estrada Real. Promovendo o turismo e, assim, reparando em parte os dando causados pela hidrelétrica em um tempo tão ecologicamente incorreto.

(As informações históricas foram tiradas do livro Mandassaia, de Ildeu Manso Vieira)





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