domingo, 8 de março de 2015

Casa dos Espíritos



Eles viveram ali, dentro das mesmas paredes, debaixo do mesmo teto. No casarão da Fazenda Água Limpa. A foto abaixo mostra mulheres de saias longas, homens elegantes de chapéu. Na foto acima há algumas imagens dos antigos moradores, os Vilelas. A fazenda tem cerca de 200 anos. Foi construída pelos escravos.
Como em todas as fazendas antigas, há lendas, histórias, visões. A sala acima é chamada por alguns de 'sala dos espíritos'. Uma prima vidente lá esteve e disse que todas as noites uma senhora e quatro  homens ali se reúnem. Chegou ao ponto de seu filho, também médium, sair do quarto vizinho à sala por causa do 'conversê' à noite. 
Mas tem um 'asa' (voador de asa delta) que não duvida destas histórias. A pouco foi à fazenda. Entrou e viu um distinto senhor sentado com sapatos envernizados. No resto da visita ele procurou alguém com aquele sapato. Disse que nunca mais volta ali.

Uma das histórias mais antigas eu me lembro. Tinha um quarto assombrado. Nós, crianças, tínhamos medo de olhar lá dentro. Diziam que ali havia um corpo seco. Na verdade, dois empregados morreram numa queimada, em dia de São Lourenço, não recomendável. O vento fez o fogo pular neles. Eles foram velados naquele quarto que, hoje, virou uma capela.

Os sobrinhos já ouviram batidas no portão do porão, meu irmão encontrou suas roupas no terreiro e o Sô Joaquim, pai da Toninha, jurava que via uma mulher na escadaria, toda de branco, toda a noite.
Contar casos de assombração era o melhor programa das noites da Fazenda Água Limpa da minha infância. Não tinha luz, apenas sombras de velas e lamparinas. Era bem mais mágico, hoje, com a casa reformada, os quartos escuros vitalizados - um virou biblioteca, outro, sala de TV - parece que até os fantasmas levaram uma pá de cal. Nós, crianças, não andávamos em suas escuridões noturnas sozinhas, onde ia um, ia uma renca de meninos. Uma vez uma  prima, ao ir embora, perguntou: e aquele preto véio lá na cozinha? Dizem que eles protegem a casa, que os antigos moradores foram bons patrões. De vez em quando, andando por lá sinto cheiro de cigarro de palha daqueles ardidos.

Um comentário:

  1. Como é bom não ter mais aquele medo que eu tinha quando morava lá. Na certa não dormiria na casa com menos de 10 pessoas,claro! Vivas!
    Adoro essas estórias, que emolduram nossa existência.

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