domingo, 25 de novembro de 2012

A chegada da hidrelétrica, por Andrea Del Fuego...

E relendo devagarzinho Os Malaquias vi desenrolar o drama da chegada da hidrelétrica de Furnas à região, igual ao meu livro. Vou passando aos poucos trechos para vocês.


"Timóteo veio com um envelope. Geraldo abriu.
- É pra todo mundo se encontrar na capela hoje à tarde. Aviso geral, veio da cidade. Você vai em meu nome, Timóteo. Não deve ser sério, vai ver é médico novo que ele vão apresentar pro povo. ...
Casas fechadas, foram chegando crianças, mulheres,  homens, os cachorros atrás. Encontravam-se no caminho e especulavam. Nunca antes um aviso para todo mundo e com urgência.
Com a capela cheia, um homem de fala clara deu o recado. Para o desenvolvimento da região uma hidrelétrica seria criada. Para tal, era preciso represar a água. O melhor lugar envolvia a maior parte das fazendas e isto incluía o Vale da Serra Morena. A empresa compraria as posses e facilitaria a construção das suas novas casas na cidade.O futuro tinha chegado!.
- A água vai vir de onde
- Quanto de água cabe no vale?
- Vai cobrir nossa casa?
- Da minha casa saio nem morto.
O homem deu o endereço onde poderiam negociar o preço das casas e deu boa tarde.
- Eu me afogo antes, sou mais baixo - disse Timóteo.
A capela foi se esvaziando e ficou Eneido, antigo vizinho de Donana e agora de Nico. A casa onde nasceu e se criou ninguém ia derrubar, bater martelo, deixar poeira. Se tivesse que subir água ia ser cobrindo ela inteira, com ele dentro. Com todos os móveis, os filhos e a mulher, roupa no varal....

Aí está Carmo do Rio Claro e, lá longe, a água da represa, que hoje nos encanta.
Achei impressionante como as histórias reais da chegada de Furnas repercutiram na literatura e, algumas se repetem, em minha própria memória e escritos. Como este caso de que muitos deixaram a água vir sem tirar os móveis ou os que se suicidaram após as águas. Vale à pena mergulhar em Os Malaquias!




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