sábado, 17 de novembro de 2012

Os Malaquias - Nas terras do Buracão



Ganhei um livro do meu amigo escritor, Régis Gonçalves, segundo ele, de uma conterrânea, Andréa Del Fuego. O seu  romance, Os Malaquias, lançado em 2010,  ganhou o prêmio José Saramago, em Portugal. "O livro foi traduzido para o espanhol, na Argentina, e ela foi com marido e filho para Frankfurt, participar da maior feira de livros do  mundo. Com tudo pago. Sucesso absoluto!", relatou o meu amigo.

Sua família é do Buracão  e fala em seu livro da Serra Morena, que eu não conhecia, mas que, segundo ela, fica atrás do Buracão.  No seu livro, ela faz menção à chegada da hidrelétrica, chama a fazenda de Rio Claro, cita a Serra da Tormenta e ainda coloca um dito totalmente carmelitano: vai lamber sabão! Também coloca os ditos da nossa bandeira na cidade fictícia > Fluctua, não afunda. 

Achei que ela se aprofundaria na tragédia da chegada de Furnas, mas foca na tragédia familiar que matou por raio o avô e a avó e deixou 3 filhos órfãos, entre eles, um anão. Este, já morreu, os outros dois ainda estão vivos. No livro, ela envereda por caminhos do realismo fantástico e coloca o mar e um navio nas proximidades do Vale da Serra Morena, que aguardava a água chegar para levar algumas pessoas, remontando à arca de Noé.

O Buracão

Saindo do Carmo, vá em direção ao Aterro de Santa Quitéria;chegando lá, vire à direita na rua de restaurantes e siga direto até o Buracão. Quando eu era adolescente, tinha meus 12/13 anos fui convidada para cantar no Programa 4 S - saber sentir saúde servir, não me esqueço. Era cover da Silvinha e cantei: Eu sou tão menina para namorar, então porque será que eu fui gostar, de um menininho tão mal pra mim... Tempo de Jovem Guarda. Lembro-me de uma tarde quenta e poeirenta. E eu, ainda menina moça, saboreando o momento, era a atração da festa.

 O Tião da Lola, meu irmão, gosta muito do povo do Buracão. Lá, tem uma família que fala de uma forma muito típica, quase um dialeto. Eles falam tão rápido, cortando palavras pelo meio e falando um amontoado delas onde falamos a metade de palavras... Estava hospedada na fazenda, numa casa que fica perto de uma paineira, mais distante da pousada da Mavi, quando o Tião chamou-me para a casa do vizinho, um dos seus ajudantes. Ele disse: Escuta. Os parentes do Buracão falavam, um cortava o outro numa conversa animada. A pinguinha e o tira gosto de carne de porco com pepino davam o tom da animação. O Tião virou pra mim e perguntou: Entendeu alguma coisa? Eu, nada nada.

Eles são Pereira, descendentes de portugueses. Pensei,  teriam preservado um pouco do sotaque de Portugal? A Evelise, esposa do Joaquim José, mais conhecido por Quinzé, também é de família do Buracão e ela imita suas tias que falam cantado, também uma característica do Buracão.

 É tudo  o que sei sobre o Buracão. Agora sei mais uma coisa,  que uma descendente da família do Buracão, que, segundo o Tião, é uma só, todos são parentes, brilha na literatura brasileira - Andrea Del Fuego. E que fez do núcleo familiar, Os Malaquias, um livro que passa do íntimo, particular e regional e percorre os corredores mágicos da literatura. Com ele ganhou prêmios. Parabéns à nossa conterrânea!

Ela tem um blog www.andreadelfuego.wordpress.com

Dele, retirei as explicações sobre Os Malaquias, da própria escritora.

um passado de cujo presente eu faço parte


Os Malaquias é meu primeiro romance. Ele não surgiu de uma passagem natural do conto ao romance ou de um compromisso literário, um desafio de linguagem como me propus com os livros anteriores. O livro surgiu no seio familiar, uma cobrança interna de outra comarca, a da herança. Comecei a escreverOs Malaquias logo depois que minha avó morreu, no inverno de 2003. Meses depois, fui a Minas Gerais, onde ela vivia, enfrentar a ausência da grande mãe. Numa tarde, percorri com minhas tias a região de Serra Morena, um vale deslumbrante que fica atrás do bairro Buracão, onde minha avó criou os filhos. Voltei certa de que escreveria um romance chamado Serra Morena. O nome ficou na cabeça por bom tempo até que eu tomasse fôlego. A história se iniciaria no acidente natural que vitimou meus bisavós, deixando orfãos os filhos, entre eles, meu avô. Ninguém da família comentava o caso e, numa tentativa de saber mais, meu avô ficou fragilizado e desisti de especulá-lo, era uma memória a que eu não teria acesso. Cada vez que escrevia uma página era tomada por uma eletricidade, inventar um passado de cujo presente faço parte. Da cena real, a tempestade, eu inventaria o segredo dos sobreviventes. Um estado de ficção, onde se suspende a lógica da morte, por exemplo. Passaria uma mão de tinta em fatos, escreveria uma teoria provisória. A pretensão poética e o realismo fantástico, presentes no texto, foram amortecedores emocionais, já que eu estava me olhando no espelho, ocasião em que damos o melhor ângulo. Aos poucos, fui percebendo o que valia a pena e o que servia apenas como andaime para a construção do edifício. A questão, claro, era diferenciar o andaime da parede. Assim que terminei o primeiro tratamento, enlouqueci de emoção, realizada por ter escrito tantas páginas, por chamar aquelas folhas de romance. Não durou muito, fiquei insegura, qualquer peteleco me abalaria. Era um erro achar que a primeira versão seria a definitiva. Abandonei o Serra Morena e fui escrever alguns livros de contos e juvenis. Todos encontraram um caminho, o que me deu uma certeza: cada livro tem seu limite, seus problemas e sua estrada, feito uma pessoa que acaba de chegar ao mundo. Abri a gaveta num verão de 2007 para reler o Serra Morena, já distante emocionalmente da realidade familiar e mais próxima de um compromisso literário. Armada com facão, cortei o matagal, tudo o que camuflava a força da trama. Com a distância, pude perceber que havia sim um romance debaixo daquela montanha de metáforas. Aliás, não consigo me livrar delas nem nesse texto objetivo. Mas para cortar sem dó, negociei, já que a ficção fantástica inundaria de vez o livro, eu manteria os nomes reais. Nico, Júlia e Antônio são os nomes do meu avô e tios-avós. Assim que fiz uma boa reforma no texto, meu tio-avô Antônio faleceu, justamente a presença mais delicada no livro. Toda aquela distância diminuiu em segundos, fiquei novamente diante de um texto tão próximo que meu julgamento ficou abalado e acrítico. Não era só isso, Nico e Júlia são vivos. Júlia, como no livro, teve que voltar à Serra Morena e morar com o irmão. Soube que minha tia caçula leu trechos para o meu avô, ele ouviu em silêncio. Outra tia leu o original em algumas horas, foi seu primeiro livro aos 40 anos, talvez o último, ela não tem o hábito da leitura. O livro deixou-me em dia com a cobrança de fertilidade, de uma pegada no mundo que ligasse meu passo ao deles. Essa sanfona emocional, claro, não me parece o melhor estado na produção de um romance, produto digno de uma disciplina racional, de um cálculo estético, ou seja, de controle. Tive outra experiência similar, escrevi um infantil baseado numa vivência em um sítio, em Ilhabela, e igualmente mantive os nomes reais dos personagens, mas essa é outra história, o sangue não está envolvido, ainda que o real traga algo palpável como a gratidão e a amizade. Daqui por diante, pretendo sair cada vez mais do real, sem que eu me perca e o leitor perceba. Quando Os Malaquias chegou na editora Língua Geral, ainda não estava em seu ponto maduro, o editor, na época o Eduardo Coelho, disse que o Serra Morena tinha qualidades, mas podia melhorar. Eduardo sugeriu cortes precisos, a cada corte, mais evidente ficava a forma. Primeira mudança foi no título, depois ele enviou para alguns leitores e fizemos inúmeras revisões e versões. Em agosto de 2010, Os Malaquias foi lançado. Com muita alegria, venho recebendo resenhas positivas sobre um trabalho que, no meu universo portátil, é um inventário privado

Sobre ela, na Wikipédia:

É autora da trilogia de contos Minto enquanto posso (2004), Nego tudo (2005) e Engano seu (2007). Participa das antologias Os cem menores contos brasileiros do século e 30 mulheres que estão fazendo a nova literatura brasileira, entre outras. Publicou também Blade Runner, em 2007, pela editora Mojo Books.
Publicou em 2008 o romance juvenil Sociedade da Caveira de Cristal e tem um romance adulto inédito, Serra Morena.
Ao lado de outras autoras brasileiras contemporâneas, como ÍndigoCecília Giannetti e Carol Bensimon, teve um conto publicado na coletânea Histórias femininas (editora Scipione, 2011)[2].
Seu primeiro romance, Os Malaquias, foi lançado em 2010 e conta a história de três irmãos que ficam órfãos quando seus pais são atingidos por um raio[3]. A obra valeu à autora o Prémio José Saramago de 2011[4].
Atualmente Andéa del Fuego é colunista do programa Entrelinhas, da TV Cultura, já tendo produzido matérias de autores como Murilo RubiãoRoberto BolañoAnna AkhmátovaJulio CortázarEnrique Vila-Matas.

[editar]Livros

  • Os Malaquias (Língua geral, 2010, Prêmio José Saramago 2011)
  • Blade Runner (Editora Mojo Books, 2007)
  • Sociedade da Caveira de Cristal (Infanto-juvenil,Editora Scipione, 2008)
  • Quase caio Crônica (Editora Escala Educacional, 2008)
  • Crônica (Editora Escala Educacional, 2008)
  • Nego fogo (Editora Dulcinéia Catadora, 2009)
  • Engano seu (Editora O Nome da Rosa, 2007)
  • Nego tudo (Editora Fina Flor, 2005)
  • Minto enquanto posso (Editora O Nome da Rosa, 2004)
  • Irmãs de pelúcia (Infantil, Editora Scipione, 2010)


Um comentário:

  1. Gostei muito de tudo que,mas não vi nada sobre meu bisavô mané sapo figura muito popular na cidade,na década de 40 minha mãe ainda vive e esta com 85 ela se chama ALVARINA BATISTA e mora em Alpinópolis,Obrigada lizeth

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