quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Crônicas de viagem a Carmo do Rio Claro

Amanheci em Belo Horizonte, mas cheguei com olhos de carmelitana. Vi estas ruas, tão familiares, com olhos outros. Uma parte minha ainda está no Carmo. A experiência ali vivida em férias de duas semanas, vista de outro lugar se reveste de importâncias. Tantas vidas vi e vivi nestes dias. Experiências interessantes. Acordei às 7h e subi para a praça disposta a ir para qualquer lugar que o coração e a liberdade das férias sugerissem. Vislumbrei as lindíssimas palmeiras da praça, que fizeram parte da minha adolescência como pequenos arbustos ainda jovens. Portanto, ao olhar da Igrejinha de Nosso Senhor dos Passos para a cidade, elas se deslumbram em bloco, em frente a igreja. Caminhar em volta da praça é muito prazeroso. Em cada curva, nos deparamos com a Serra da Tormenta, majestosa, a 1.250m do  nível do mar. Um tesouro verde que se dá a cada amanhecer.

Badaladas do tempo

Ouço o sino da igreja matriz e  me faz mais retroceder no tempo, batendo as horas em badaladas. Para nós, que moramos fora dos seus ritmos, em ritmos bem mais acelerados das grandes cidades, o som do sino repercute no nosso ser.
A igrejinha de Nosso Senhor dos Passos está aos pés da Tormenta. Hoje, em marrom e bege, guarda a imagem de um Cristo barroco, igual aos de Ouro Preto. Sempre tive medo desta imagem, coberta de capa roxa. Para mim Cristo é vivo. Gosto mais da igrejinha em cores mais fortes. Nesta pracinha, há muitas casas grandes e bonitas. Mas uma se preserva intata e, assim, mantém o passado bem agarradinho no presente. Um casarão antigo de janelas azuis, as mesmas árvores no  quintal, as vacas ao lado. Esta família é a guardiã da chave da igrejinha de Nosso Senhor dos Passos e, não sei se ainda é, a guardiã da chave da igrejinha do alto da serra. Muitas vezes, nas madrugadas, entre neblinas, subíamos a serra. Antes, batíamos à porta para pedir a chave. A igrejinha de Nossa Senhora Aparecida, no alto da serra, é guardiã de retratos, ofertas, pedidos, agradecimentos, votos em gessos de inúmeros peregrinos que ali sobem buscando Deus.




Soltem os doidos

Próximo à Igrejinha de Nosso Senhor dos Passos, subindo em direção a serra, está a ermida da Mãe Rainha, cuja guardiã é minha irmã, Tata. Fomos lá numa agradável tarde azul e nos encontramos com o Benedito, o Dito, irmão do Tim e do Paulão, filho da Penha e do Valadares, que era irmão da minha segunda mãe, Elisa. E nos revelou que há 20 anos sobe a serra uma vez por semana para levar uma vela de sete dias. Disse que subiu uma vez e viu que não havia velas. Então, resolveu cumprir sua humilde e, antes anônima, ação. Que esta luz ilumine os seus dias e os da sua família. O Paulão, seu irmão, é um personagem atual das ruas de Carmo do Rio Claro, não faz mal a ninguém. Ele, no seu entender, é rico e empresta dinheiro até para o Antônio Carlos Pereira, o maior fazendeiro da região. Anda benzendo os espaços, andando de um lado para o outro, cumprindo a sina de “louco”. Eu, que coleto histórias de outras personagens do Job, acho que os loucos devem enfeitar as ruas. Alguns, são pontos de lucidez, como era o caso da Represa, resposta espirituosa na ponta da língua.

Onde comer?

O Carmo oferece inúmeras opções, em alguns quesitos. Restaurantes, há dois restaurantes a quilo ótimos – o Casarão e o Bom Prato. Grande parte dos carmelitanos já não cozinha em casa. A Celenice se esmera nos pratos e oferece um agradável ambiente no casarão, que fica na Wenceslau, na esquina da praça debaixo. Conta com a presença simpática do Omar. Pode-se comer na varanda vislumbrando a cidade e a Serra do Tabuleiro, também majestosa. A paisagem do Carmo é sempre de montanhas, vales e águas. Fui conhecer a Pousada da Teia, próxima aos cânions do Lago de Furnas. Minhas irmãs, Alice e Cláudia, viciadas em caminhada, foram conhecer e contar a distância, dispostas a irem a pé em outra ocasião. Contaram 7 km da ponte torta até lá. O que eu mais gostei é que, além da água, tem galinha, vaca, marreco, um clima de fazenda. Tem aquele cheirinho de bosta de vaca que só quem é da roça conhece e gosta.

Carmo Zen

Impressionou-se a quantidade de lojas no Carmo, a Teia mesmo tem uma loja na cidade. Tem nutricionistas, Pilates e um fisioterapeuta maravilhoso, conhecido por Butina. Despojado, atende a muita gente e com muito carinho as velhinhas, como pude constatar em conversa com a Tia Rita e com a Bebel, irmã da Elisa. Todos o amam. O preço é hiper camarada, R$ 17,00 e proporciona acesso a todo. Um achado! Já me tratei com ele e também a Carla, minha irmã. Tem ótimas meditações, promovidas pela minha irmã, Ludi, psicóloga, que também atende pelo SIM. Veio acrescentar ao Carmo, traz grande conhecimento adquirido no Instituto Renascer da Consciência, do qual fez parte por muitos anos. É também formada pela Universidade Cidade da Paz.

Filé de lambari?

No quesito comida, vou falar das que experimentei. Fui ao Tempero de Minas. Não conhecem? Na Kátia e no Mané, agora sabem onde é. Ele é meu primo e um exímio pescador e cozinheiro de peixe. Come-se lá o inédito Filé de Lambari, o delicioso quibe com molho da casa e um especial escondidinho de frango ou carne. Kátia contou que atendeu a uma cliente do Hotel Varandas, com duas filhas muito bem trajadas. Ela experimentou vários pratos. Ao final, disse que adorou o peixe e o escondidinho. No outro dia, o Hotel reservou para mais 10 pessoas. Cada um já disse o que iria consumir, para adiantar o serviço, mostrando o profissionalismo da Marly, proprietária do hotel. Ao final, chamaram a Kátia. Ela foi aplaudida de pé. Acharam, também, baratíssimo! Ospreços no Carmo são convidativos.

Pra quem gosta de vinho...

Temos agora uma opção muito interessante. Para aqueles  que, como eu, não gostam da música sertaneja atual – curto as modas antigas – o Marco Túlio oferece uma ótima opção, em um bar na Rua Nova. Não guardei o nome do bar. Mas as músicas são da melhor qualidade, popular brasileira e, muitas, dos anos 70. Ele disse que sentia falta de um lugar assim no Carmo. Na parede, imagens de Elis Regina, Chico Buarque, Os Beatles. Ele também inovou, oferecendo a Casquinha de Tilápia, tudo de bom! De sobremesa, brigadeiro de cachaça, delicioso! Ele é muito educado e o tempero da sua companheira, muito bom. Só uma crítica, já levada a ele e recebida com atenção, o vinho, precisa ser de boa qualidade. Eu e a Valerinha, minha sobrinha, que viu o Ian, seu filho, degustar duas casquinhas de tilápia, sugerimos nomes de bons vinhos. Marco Túlio disse que já havia recebido esta demanda da Marta. Enfim, teremos a opção de tomar um bom vinho no Carmo, onde é mais tradicional a cerveja.





Nova opção: a velha Fazenda Água Limpa

Na primeira semana, fiquei na Fazenda Água Limpa. Ela se abriu para visitação pública, oferecendo também almoço com a culinária mineira rural e o café colonial. Os visitantes são convidados a fazer um “tour” pelo casarão, guiados pelos proprietários, Toninha e Joaquim José. Andam pelos cômodos, salões e porões, um verdadeiro museu vivo, com móveis da época. É uma experiência única conhecer a Fazenda Água Limpa, entra-se dentro do tempo, em outro tempo. Ali fui criada, portanto, para mim, é entrar no tempo da infância. Casa de pé direito altíssimo,  39 janelões, com enormes toras de madeira na fundação, totalmente preservada. 

Minha sobrinha Valerinha está entregando os produtos “Dagualimpa”, ovos caipiras e queijo frescal.  Contato visitação: 35 | 9902.4479 35 | 9992.0402 (com Valerinha).

Profissionalismo

A Pizzaria Gerbeli é uma ótima opção no Carmo, oferecendo cerca de 40 tipos de pizzas. Entre elas, a de abobrinha, muito gostosa, massa leve. Atende em casa com presteza e agilidade.Segundo o Joaquim, meu irmão, o melhor delívery do Carmo é de cerveja. Eles atendem até nos ranchos, há até um Tele Sanduiche. Mercado promissor, já que há 1.600 ranchos à beira d´água, sem contar as fazendas.

Comi, e não vou citar o nome, em dois restaurantes à beira do lago. Em um deles, chegamos às duas da tarde e já não havia saladas. Em feriados, devem se preparar mais.  No outro, o azeite era misto com soja e ainda estava rançoso.  Disse à proprietária que era preciso caprichar no azeite, que o Carmo sempre recebeu e, agora, mais ainda, um público exigente. Hoje, todos prezam um bom azeite. Mas é sempre maravilhoso comer com a vista para o lago e as montanhas.

Antônio Adauto, um verdadeiro arqueólogo.

Tesouro arqueológico

Visitei desta vez o Museu do Indio Antônio Adaulto  um tesouro para o Carmo e para a humanidade. Igaçabas, urnas funerárias, algumas com ossadas, utensílios domésticos, inúmeras flechas de cristal. O acervo conta com cerca de 3 mil peças. Nas paredes, fotos do Xingu, do primo Renato Soares. Um banner mostra as primeiras escavações no sítio arqueológico na fazenda do Antônio Adauto. Uma boa opção para os turistas. Ouvi dizer que o promotor cobrou do atual prefeito o retorno do museu para o Antônio, nada mais justo. Este homem é um verdadeiro arqueólogo e teve o respeito de um índio preservando sua história e retirando do seio da terra, os preciosos pertences de outros povos, dizimados pelos bandeirantes.

Recordações

Encontrei com a Carmelita do Ari do Bala...e ouvi lindas histórias de amor. De sua janela, ela vê o GEC antigo e relembra as inúmeras vezes que ali bailou. . Ela, de cabelos bem arrumados, óculos escuro, moderna, conservada em seus 80 anos. Lembra-me muito minha mãe, elas são primas. Atualmente, ela vive de boas lembranças.

Casos do Job

Adiantei com o Job o livro de casos. Fui lá e me deparei com os primos – Milton Luiz, Dito e Job Milton, que trio! O Milton Luiz conserva ainda aquele vozeirão e aquela presença! O livro, por recomendação do Job, vai se chamar “Risos do Carmo – A Farsa alegre de uma cidade centenária”. Ainda, como se diz, no prelo.

Solidariedade e mistério

Fui à Festa da APAE e, pela primeira vez, ganhei doces no bingo. É bom para encontrar outros carmelitanos. Uma festa de solidariedade!  Na Fridoce, encontrei com o primo Dilton, que mora na casa da serra. Levava duas fotos na mão, em uma, via-se um objeto voador não identificado perto da serra, em outra, crianças estavam sendo fotografadas e a máquina registrou bolas de luz. Mistério! Ficamos de algum dia ir ver o arquivo que ele tem, pesquisador de UFO há muitos anos.





Sonhar pode

Voltando ao começo da conversa, subi às 7h e, da praça, ouvi a missa, que me chamou. Fui, comunguei e gostei de celebrar com meus irmãos carmelitanos. Lembrei-me da minha mãe, Nivalda, que era ministra da eucaristia. O coro estava bonito e contava com a voz do Jair Soares, meu primo.  Só gostaria que as músicas fossem mais alegres. Há sempre uma tristeza pairando sobre a igreja de hoje, sombras da igreja antiga. Por isso, o Papa Francisco tem chamado à alegria. Será que as palavras do Papa repercutiram na igreja do Carmo, transformando em ação para os pobres a sua missão?E em alegria o discipulado?

Enfim, acho que eu moraria tranquilamente em Carmo do Rio Claro, Mas tenho ainda coisas a cumprir por aqui, Belo Horizonte, minha segunda cidade, muito amada! Mas venho tecendo sonhos para o futuro, não tão distante!

3 comentários:

  1. Nasci em Carmo do Rio Claro, MG, filho de Mozart Gonçalves e Ana Freire Gonçalves. Ainda tenho parentes lá. Amo aquela cidade e a majestosa Serra da Tormenta.
    Feliz 2017 carmelitanos !!

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  2. Caso algum carmelitano ou apaixonado pelo Carmo, queira entrar em contato comigo, o meu e-mai; robertogoncalves547@gmail.com
    Grato! Roberto

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  3. Roberto, obrigada pela visita. Do que se trata as Crônicas de uma Viagem a CRC? Pode mandar mais informações para divulgação. Você mora onde? Morou no Carmo até que idade? Um abraço.

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