As duas grandes mesas foram colocadas, uma ao lado da outra, na cozinha do casarão, na Fazenda Água Limpa. Ares de 1.900, mobiliário de época, museu de histórias. As mulheres decidiram: a festa será na cozinha. Escreveram uma faixa: "Sala de visita de mineiro. Alguém sentiu falta da sala?
No natal de 2012, não sabíamos que estávamos nos despedindo da prima Maria Alice. Neste reveillon, de Tom Figueiredo. Compartilhamos com ele o melhor de Minas, a sagrada mesa de alimentos, o amor da família, os causos, as músicas, o fogão de lenha, as histórias de todos nós naquele casarão, que também fez parte da sua infância, no tempo do Joaquim, meu irmão.
Ao final, ele voltou às origens. E nós, tivemos a oportunidade de conviver com ele. Seu sorriso ficará eternamente nas nossas lembranças. Que Deus o tenha! Meus sinceros sentimentos!
A família - avós, pais, filhos, sobrinhos,primos, amigos, agregados, em volta da mesa. E foi na cozinha, numa noite memorável e inesquecível, que ele passou o seu último reveillon, cercado pela família.
Meu primo, Tom Figueireiro, que nos deixou.
Depois de andar o mundo, de galgar os maiores degraus da Publicidade, ser premiado. Quem se lembra do cotonete que morria de cócegas, com esta propaganda, ele ganhou prêmio internacional. Casou, teve filhos, netos. E, aos 70 anos, voltou às origens. Passou a ir ao Carmo, para nossa alegria. Pele clara, olhos azuis e um sorriso iluminado, lembrava o seu pai, Coronel Job Figueiredo, irmão da Vó Alice. Job Figueiredo é nome de rua em Campinhas, onde foi o fundador da hípica.
Um primo "idoso", mas jovem, inteligente, engraçado. Foi o brilho do carnaval de 2011, quando nos reuníamos no Bar do Caruncho, que virou o reduto dos músicos. Ele tocava cavaquinho, mas não nos deu uma canja, infelizmente. Ele no meio, ao seu redor, reunia-se a família, tios e sobrinhos para ouvir os seus casos, muito engraçados.
Neste dia, ele comentou:
Depois de velho, deixei de ser perigoso. Com essa barba, na ditadura eu era um perigo! Parado em todas as blitz. Hoje, vejo uma blitz, faço cara de mau, desta vez eles me mandarão parar, eles me mandam passar. Primo, disse-lhe, experimenta ficar nu no aeroporto e você será preso. Que nada, não adianta, prima, eles vão perguntar cadê o remédio de Alzheimer do velhinho.
Ainda no Bar do Caruncho, ele reclamou para os sobrinhos:
- Velho é invisível. Já entrei no elevador com uma mocinha e ela mal me viu. Uma delas quase trombou comigo na praia. Não adianta. Velho é invisível.
Contestei veementemente: "Primo, posso lhe garantir que você ainda é bem visível!
Porque conservava a sedução que o levou, na juventude a ser chamado de GaTom.
Policena de Jesus
Ele teve no Carmo uma vivência transcendental. Era ateu convicto. Perdeu seus documentos e passou a dar baixa nos cartões, preocupado. Encontrou com a minha irmã, Tata, que pegou em suas mãos e disse: vamos rezar para Policena. Policena é a mais nova santa da família. Ela foi descoberta em uma caminhada de minhas irmãs, no Caminho da Fé. Encontraram uma galeria de santos negros. Entre eles, Policena de Jesus.
Rezaram sua oração: Das profundezas do escondido /
Policema trás a luz / Encontra
o objeto perdido / Policema é de Jesus. Estavam na esquina da Madrinha Tata. No outro dia, ali mesmo naquela esquina, um homem vira a esquina, depara-se com ele e grita. Você é jornalista? É Tom Figueiredo? Estou à sua procura desde ontem. Aqui seus documentos. Esta experiência rendeu ao ateu até um artigo para o Expresso Carmelitano. Depois comentou, ele me encontrou na esquina que fizemos a oração e era negro. E o taxista disse que nunca vira aquela esquina para ir para casa.
Um noite inesquecivel!
Depois, o vi mais uma vez no Tião, na Pousada da Mavi, quando do lançamento do livro Genealogia da Família Vilela, de minha irmã, Ana Maria Vilela Soares, grande amiga do Tom. Havia passado por um enfarte, estava de sobreaviso, por isto, viajando pouco. Quando foi no fim do ano, ficamos sabendo que ele passaria o reveillon conosco. Ficamos super felizes. Eu faço um oráculo com frases e coloquei pedacinhos da história da família. Ali rememoramos os tios, os avós, os ancestrais. Depois, fomos à hortinha da Valerinha e pegamos folhas de alecrim, mirra, hortelã, orégano, curry etc e fizemos um festival de aromas, passando as folhas pela mesa. Não me lembro com qual oráculo o meu primo saiu, disse depois que analisaria para compreender o significado, mas que guardaria a caixinha em um lugar especial em sua casa.
Vinho rolando, ele declarou: o médico disse que posso beber de vez em quando. Elegeu aquele dia e, boêmio de uma vida, se embriagou na delícia daquela noite. Contou casos, riu, falou poemas no reveillon da Fazenda Água Limpa. Beto, meu sobrinho, puxou no violão o hino da família: viver e não ter a vergonha de ser feliz....Então, solenemente, ele retirou uma caixinha do bolso e disse: agora vou fazer uma coisa que há muito tempo não faço, eu mereço. Tirou um fino charuto e tragou com uma expressão de supremo prazer. Ele que tanto amou os prazeres da vida! A caixinha vazia, ele me deu.
Vai com Deus!
Agora, a Carla me conta ao telefone. Ele foi embora. Seu e-mail se calou, onde trocamos contos, conversas, considerações. Silêncio no Linkedin...Antes de partir, há cerca de dois anos, lançou um livro, O Perseguidor. Achava seu jeito de escrever muito parecido com o meu.
No natal de 2012, não sabíamos que estávamos nos despedindo da prima Maria Alice. Neste reveillon, de Tom Figueiredo. Compartilhamos com ele o melhor de Minas, a sagrada mesa de alimentos, o amor da família, os causos, as músicas, o fogão de lenha, as histórias de todos nós naquele casarão, que também fez parte da sua infância, no tempo do Joaquim, meu irmão.
Ao final, ele voltou às origens. E nós, tivemos a oportunidade de conviver com ele. Seu sorriso ficará eternamente nas nossas lembranças. Que Deus o tenha! Meus sinceros sentimentos!
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