terça-feira, 26 de outubro de 2010

FURNAS DA NOSSA HISTÓRIA


Eu já contei na literatura toda a história da chegada da água, do impacto sobre nós ribeirinhos do Rio Sapucaí, Rio Grande, Rio Claro... no livro Hortênsia Paineira - Inventário das Águas. O Job Milton me contou como tudo se passou. Foi assim: Juscelino Kubitscheck sobrevoando a região com dois engenheiros, observou uma curva e o estreitamento do rio em determinado lugar na altura da "corredeira", pras bandas de Alpinópolis, carinhosamente, Ventania. A idéia de Furnas nasceu dentro da campanha "Energia e Transporte", desencadeada pelo então governador. Mas foi como presidente, em 1956, em abril deste ano, que ele assinou o decreto para o início da construção da Usina de Furnas.
O "progresso chegou". Com ele, máquinas imensas e mais de sete mil homens, que migraram de todo o país para trabalhar na Usina. No Carmo, houve uma total invasão da privacidade e tranquilidade da pacata cidade no sul de Minas. Além da perda de cerca de 212,12 km quadrados, as suas melhores terras, a sociedade tradicional ainda teve que conviver com homens rudes, que criavam brigas de facas, engravidavam as meninas desavisadas. Uma vez vi o nosso Jé (do Bar XV) contar que -nessa época - ele criou o reservado do XV para acolher a sociedade acuada. Outra providência foi não vender cachaça.

A água foi mudando tudo, transmutando. Mais ratos - fugiram das águas para as cidades, mais pernilongos, mais chuva e a natureza toda em transmutação. Nadávamos no aterro, de uma árvore morta para outra e, em alguns lugares, a paisagem era como de um pântano. A Elisa e nossas mães tinham razão de ficar com o coração na mão quando íamos nadar no aterro.
- Meus Deus! Podia voltar morta.
Quantos voltaram! Quantos afogados enterramos! No começo, desavisados, mal sabiam nadar... e o chão, ah! o chão era um perigo. Podia ter buraco de tatu, cerca de arame farpado, redimunho...

Muitos partiram para outras terras. Muitos foram para São Paulo. O rádio convidava - São Paulo é São Paulo. Terra do dinheiro. O povo de São Paulo é muito hospitaleiro. Eu vim para São Paulo e não vou sair daqui, São Paulo conte comigo enquanto eu existir...
Na cidade, ficou o banzo...A perda..
Ali cresci, numa Carmo naufragada, ressurgindo. Hoje, olhando para as águas azuis, agradecemos a água que nos trouxe um ar de mar, de Guanabara. A visão da Serra da Tormenta é magnífica!!!

Nenhum comentário:

Postar um comentário