Da última vez que fui a Carmo do Rio Claro visitei o Museu
Arqueológico Antônio Adaulto, um
verdadeiro tesouro. Fui recepcionada por Suzana Leite, filha do Antônio, e que
nasceu junto com o museu, quando as primeiras peças foram encontradas. Sempre
tive curiosidade de saber como tudo começou. Então, com simpatia, ela contou:
Foto de Fábio Silva |
“O primeiro achado foi de Seu
Zeca Ferreira, do Barreiro. Na região do
Carmo existem cerca de 170 sítios arqueológicos”. O museu tem 45 anos e foi
guardado por todos estes a nos na Fazenda Panorama, da família, por Antônio
Adauto, um verdadeiro guardião. “Furando uma cerca no Barreiro” – continuou –
“achou um pote (que está no museu), com
um buraco no fundo. O primeiro sepultamento era feito em um pote furado para
drenar os líquidos, alguma coisa relacionada com o espírito. Eram enterrados
com todos os pertences; em posição fetal. O tempo passava, tiravam os ossos e
faziam um segundo sepultamento, em igaçabas menores, aproveitava-se a urna funerária para outros corpos. Os índios eram chamados Catuauá, homem bom;
outros os chamavam Guararapes. O arqueólogo Edson Luis Gomes registrou tudo em
fotos e fez do museu matéria para sua
tese de mestrado. Catalogou mais de 3 mil peças, entre urnas, machadinhas, mãos
de pilão, ponta de flecha, cachimbos, ponta de lança, fundas, quebra coco.
Segundo Suzana, tem ainda muita coisa guardada.
Foto de Fábio Silva - Veja na parede, as fotos de Renato Soares. |
A maior parte do tesouro
arqueológico do Carmo está submerso no Lago de
Furnas. Os vestígios da civilização indígena estão em várias fazendas de
Carmo do Rio Claro. Na Fazenda Água Limpa foi encontrada uma igaçaba que está
no museu, além de machadinhas. Suzana conta que sua avó Flavita tinha 3
machadinhas. “Meu pai pensava, todo
mundo acha, por que eu não? Começou a procurar. E começou a achar. Quando a
terra era arada, onde tinha vestígios arqueológicos a terra ficava mais escura,
então, ele cavava. Também costuma haver pedaços de cerâmica. “Nasci e cresci
dentro do museu. Quando ele começou a encontrar, eu tinha um ano. Ele me
colocava dentro das igaçabas para ver o tamanho dos índios ali colocados, minha
mãe se preocupava de pegar alguma bactéria. Ficava lá em posição fetal e ele
analisava”..
Na região de Carmo do Rio
Claro – segundo Suzana – tem dois sítios arqueológicos Tupi Guarani, seus
vestígios estão em cerâmicas trabalhadas, achamos que eles vieram do mar
fugindo para o interior. “Existem sítios
de acampamento dos Guararapes ou Catuauá, oficina, habitação, cemitério e cerimonial. Na Fazenda Panorama ficava a oficina de
flechas, muitas pontas de cristal foram encontradas na região. Segundo meu
primo Ricardo Pereira, na verdade, elas são de sílex, o cristal é muito duro,
não dá para ser moldado.
Suzana começou a sair com seu
pai para achar também. Só ele encontrava. Então, passou a ir à frente e
encontrou a sua primeira ponta de flechas, tinha 13 anos. “Fiquei tão feliz,
achei tão importante”.
Visitar o Museu Arqueológico
Antonio Adauto é uma verdadeira viagem. No acervo: fusos de rede, brincos de
orelha, adornos de cabeça, pingentes, objetos cerimoniais e utensílios de uso
cotidiano; tem até um meteorito. Suzana
contou que uma vez foi visitar o museu um índio Kraô, diante de uma das peças
ele cantou. Perguntei por que cantou?
Ele disse que a peça traz o
equilíbrio para a aldeia dos opostos, o frio e o calor, a seca e a chuva e só
cacique e o pajé podem pegá-la. Enriquece
ainda mais o museu a fotografia do mestre Renato Soares, que mostra cenas dos
índios do Xingu.
https://www.facebook.com/museuarqueologico.antonioadauto?fref=ts
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