domingo, 26 de agosto de 2012

Deliciosas Histórias do Coró - A família JACOB

Uma das melhores contribuições da cultura sírio-libanesa é a culinária. Ela faz parte da culinária carmelitana. Toda a população consome pão de chapa, chancliche e quibe em seus cardápios diários. O melhor pão de chapa da cidade é o da Dagraça. Ela distribui para as padarias e supermercados da cidade. O meu querido Coró tem escritos histórias deliciosas no Facebook. Ele é descendente de sírios-libanesas e conta aqui a historia da sua família. Ele é filho do Tãozinho que vestiu nossos pés durante toda a infância, tinha uma sapataria e da Dona Iracy, tão doce e tão querida! Deixo para vocês as lembranças do Coró.
Histórias do Carmo

Da Síria, do Líbano, de Jorge e Ássima Jacob, de Alberto Jacob e de Norzinho

Havia no Carmo uma relevante colônia de sírio-libaneses. Começaram a vir para o Sul-de-Minas na década de 1890, fugindo da falta de perspectiva econômica da região, então dominada pela política turco-otomana e também porque o império turco-otomano estava dizimando aquelas populações, estuprando as mulheres, saqueando as cidades e obrigando os cristãos do norte do Líbano - origem daqueles que vieram para o Carmo – a servir o exército turco-otomano. São denominados até hoje de sírio-libaneses, pois a Síria e o Líbano faziam parte de um único país e estiveram por muito tempo ligados; compunham juntos o Império Turco-Otomano, passando a pertencer a França após a Primeira Guerra Mundial, quando foram administrativamente separados. Os sírio-libaneses são erroneamente chamados de “turcos”, pois quando emigravam, recebiam passaportes turcos, mas tinham ódio mortal por este povo. O filme “Lawrence da Arábia” conta uma parte desta história.

O Brasil, na época, atravessava a sua primeira fase de urbanização e industrialização, o que propiciava um clima muito favorável a novos negócios. Diferente dos imigrantes europeus, que vinham em busca de terras para cultivo, os libaneses encontraram nas cidades um local para a criação de indústrias e casas de comércio. A maioria deles começou a sua vida no país vendendo mercadorias de porta em porta como mascates (do árabe “Masqat”, cidade no golfo de Omã). Muito disciplinados com dinheiro, enriqueceram e foram responsáveis pela abertura de pequenas confecções e lojas de tecidos. Vários dos libaneses que vivem ou viveram no Brasil colaboraram inclusive com o desenvolvimento do próprio Líbano, com envio ao país de recursos que propiciaram a construção de hospitais, escolas e bibliotecas. E, claro, ajudaram o Brasil em seu desenvolvimento também. E no Carmo, como no restante do país, muitos são os descendentes de sírio-libaneses que conhecemos e com quem convivemos, somos parentes, casamos, somos amigos e que tem uma grande história, que acabou se misturando com a história do Brasil.

Vindos da cidade de Basbina, estado de Akar, norte do Líbano, onde nasceram, também vieram para o Carmo Jorge Jacob e Ássima Calilio Jacob. Chegaram a se mudar do Carmo para Honduras, mas acabaram por retornar a esta terra de que tanto gostavam. Aqui formaram família, e seus filhos, Nemésio Jacob, Tunito Jacob, Suraia Jacob, Alberto Jacob, Zecão Jacob, Julieta Jacob, Júlio Jacob, Olga Jacob, Iracy Jacob e Paulo Jacob, são bastante conhecidos. Alguns são mais conhecidos, pois moraram no Carmo suas vidas inteiras. Tunito Jacob, pai de Dimas Jacob, Zecão, marido de Inês Agostini, Olga Jacob, esposa de Emídio Marinho (Didi) e Iracy Jacob, esposa do Tãozinho, do Cine Guarany. Tunito, diminutivo de Antônio, tem seu apelido originado em Honduras onde nasceu, e também vem de Honduras o nome do loteamento, hoje bairro Honduras, que Suraia fez juntamente com seu marido, Antônio David.

E essa grande família fez muitos amigos no Carmo. Um deles, o saudoso, memorável e muito espirituoso Norzinho, que era considerado “de casa”. Honor chegava e saía conforme sua vontade. Tinha liberdade de chegar em horários de refeições, se sentava e comia como qualquer um da família. Tecia por Dona Ássima um respeito singular. Ela não se adaptou ao português e não conseguiu aprender bem a língua, mas transmitia a todos as regras da casa, e Honor entendia muito bem do que ela não gostava. E ela, por seu lado, gostava do Norzinho, pois o achava engraçado, mesmo não entendendo bem as brincadeiras que ele vivia fazendo com todos.

A casa da família Jacob era enorme e parte dela ainda existe. Fica onde hoje é a farmácia São Geraldo e na casa mora atualmente Dona Fiinha, doceira. A casa, na verdade, fazia parte de um pequeno sítio que ia daquela esquina até o córrego. Tunito tinha um pequeno retiro de leite e havia a casa e o ponto de comércio na frente, na esquina. Nos fundos da casa havia um jardim, belíssimo, com fonte e todo ladeado de hortênsias. Esta residência de Jorge Jacob foi a primeira a ter banheiro dentro de casa no Carmo. Antes, todas tinham os banheiros no quintal. Os carmelitanos o criticaram muito por isto na época, mas sabia o que estava fazendo, pois como viajava sempre para o exterior, incorporou essa comodidade facilmente. Havia também um pomar com muitas frutas, desde peras até uvas. Tudo muito bem cuidado. Jorge Jacob cuidava especialmente do parreiral e quando as uvas estavam maduras chamava toda a família e amigos e dava a cada pessoa uma pequena tesoura para cortar dos cachos de uva, não podia arrancar, e todos se deliciavam. 

Na mocidade, Norzinho era amigo inseparável de Alberto Jacob. Aos 20 anos tinham os mesmos gostos: pouca bebida, muita dança, muitos bailes, dançavam bem, muita farra e muita conversa com amigos até altas horas. Só uma coisa preocupava Alberto: a hora de chegar em casa. Dona Ássima era rigorosa com horários, pois como toda mãe, se preocupava. E se havia algo que aquela libanesa robusta não gostava mesmo era de se preocupar. E naquele dia os dois amigos erraram a hora e Alberto já sabia que o clima não estaria bom em casa. Resolveu chamar Norzinho para dormir em sua casa, pensando que estando com Honor, sua mãe não externaria sua insatisfação com o seu deslize com o horário. E Alberto sabia muito bem como era Dona Ássima quando estava contrariada... Norzinho aceitou sem pestanejar, afinal, que problema poderia haver em dormir na casa de pessoas tão queridas? Pois bem, chegando em casa, todos dormindo, Alberto ofereceu sua cama para Norzinho, que também aceitou de pronto, e foi dormir em um quartinho que havia perto da copa da casa. Cansados, rapidamente dormiram... 

Honor nunca teve um acordar tão intenso. Sem entender nada, debaixo de cobertores, acordou com alguém lhe batendo fortemente e gritando palavras que ele não sabia o significado, mas sabia muito bem que vinham de alguém muito irritado. Era Dona Ássima dando o devido corretivo em Alberto, que ela pensava que estava na cama. Já tinha batido o suficiente quando notou que quem estava na cama era o amigo de seus filhos, de quem ela muito gostava. Ficou muito acanhada, mas deu de ombros e saiu resmungando, afinal já tinha batido mesmo, ele era como um filho e Honor também merecia o corretivo.
Muitos anos se passaram e Norzinho de vez em quando perguntava a Alberto se ele sabia que a mãe iria na sua cama lhe bater. Alberto nunca respondeu nem que sim nem que não... apenas esboçava um leve sorriso... e até morrer, Honor nos contava esta história e de como eram pesadas as mãos da bondosa Dona Ássima Jacob e de como ela batia bem...

6 comentários:

  1. Olá, minha mãe é uma carmelitana decendente de libaneses tmb, mas perdeu o contado com seus parentes paterno quando seu pai morreu.
    Será que vc como moradora da cidade e jornalista conseguiria nos ajudar a encontra los?

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  2. Olá, minha mãe é uma carmelitana decendente de libaneses tmb, mas perdeu o contado com seus parentes paterno quando seu pai morreu.
    Será que vc como moradora da cidade e jornalista conseguiria nos ajudar a encontra los?

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  3. Rosana, só hoje vi sua postagem. Claro que posso ajudá-la. como se chama sua mãe? Diga que vou pesquisar para você. Mora onde?

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  4. Olá Cleise, vou falar com a minha mãe e pegar todos os nomes certinhos, o que eu me lembro são o do vô Nicolau Jorge, ele era sapateiro, minha mãe conta que ele ia a todos os enterros na cidade em sinal de respeito e que quando ele morreu aos 40 anos a cidade inteira compareceu em seu enterro, os tios de minha mãe eram Nazir, Samir, Calixto e Abrãao e as tias eram Nazira e Samira, acho que o nome da bisa era Maria Pampanini, ela era italiana, e o Biso acho que era Jorge Abrão, A minha mãe é Maria da Penha Abrão outro detalhe que lembro dela me contar era que eles moravam em uma grande casa no centro da cidade, assim que obter mais informações eu te falo, bjs e muito obrigada

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  5. Estou pesquisando para você com os meus amigos do Carmo.

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