segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

MEMÓRIA VIVA!



Gente, olha quem achou o blog...Ela nos presenteia com um relato emocionante da chegada das águas.


"Oi Cleise da "Donivalda"! Aqui é a Ângela do Zé Ganguinha! Que saudade! Te achei pela Nana de Minas que acompanho, li seu blog e revivi tudo aquilo que está nele.
Lembro-me da igreja antiga, eu vestida de anjo, metida em um nicho na parede ao lado da imagem de Nossa Senhora, coroando-a. Depois me lembro da igreja no chão, eu na bicicleta da Tuza, irmâ da Dedete, caindo dentro de um monte de cal, afundando inteira, eu e a bicicleta.
Você me levou a aquele tempo bom de fazer os tapetes de Corpus Cristi, eu e minha família, em frente à casa do vovô Agripino. Odiei quem fez aquilo tudo acabar.
Você fala de sua família, inclusive do Joi. Até levei susto. Ele foi um dos meus primeiros namorados, pelo menos, o primeiro que meu pai permitiu que namorasse.
Quando você fala sobre a chegada das águas de Furnas, achei que tinha um pouquinho prá te contar. O papai era leiteiro, lembra? Nas férias eu ia com ele quase todos os dias "fazer a linha" que era pelo Barreiro, até perto de Ilicínea. Por isto, lembro-me claramente do antes e do depois. O Rio Sapucaí, oferecia uma das mais lindas paisagens que já vi. Suas águas, na seca, passavam sobre muitas pedras e espumavam muito. Morria de medo na hora de atravessa-lo, no barco do Sr.João Delmonte, puxado por cabos de aço, dirigido pelo Chiquinho barqueiro ( acho que era esse o nome). Que pena estar em dúvida, pois, gostava muito dele. Passávamos pelas fazendas do Sr. Paulo Aires, Sr. Oto, Sr. Zé Murilo, Sr João Delmonte, Sr. Zé Leite e vários outros e íamos até a fazenda da Dona Araci Palacine.
Depois, quando tudo virou só água e ruínas, ainda consegui ver, não sei como, nem quando, uma ponta do telhado, acho que da casa do Sr. Paulo Aires. Como você disse, a geografia mudou tanto, que não sei mais por onde passávamos. A impressão é de que estava em outro lugar muito diferente.
A última coisa de que me lembro, foi de atravessar no caminhão, na nova balsa. Quando chegamos do outro lado, já de volta pro Carmo, encostou uma lancha de bombeiros trazendo uma família de sitiantes, que tinha ficado ilhada em algum lugar. Estavam doentes, com feridas pelo corpo, magros e o que mais me marcou, estavam atônitos, parados, sem saber o que fazer. Suas vidas estavam ali na lancha, em pequenas trouxas amarradas. Pediram, os bombeiros, que meu pai os levasse atá a cidade e os despejasse no asilo. Lembro-me da tristeza deles e principalmente do meu pai. Ele ficou calado e nunca mais quiz me levar com ele.
Cleise, desculpe-me pela escrita desenfreada, mas fiquei feliz de poder falar com você, e poder lembrar tanta coisa da nossa querida Carmo. Um beijo com muita saudade.

2 comentários:

  1. Angela querida,
    Que bom falar com você. Quantas saudades! Quantas lembranças! Fiquei verdadeiramente emocionada com seu relato. Você presenciou fatos que ouvi o Job contar e o drama de perto. Vá puxando o fio da sua meada e vá dividindo conosco as suas histórias. Obrigada pela participação.
    Cleise

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  2. Angela, que coisa incrível você vivenciou! Lembro-me tanto dos flagelados das águas, dos pedintes que batiam, diariamente, em nossas casas, da pobreza daquelas pessoas e sua falta de assistência. Que momento triste aquele, não?
    A cidade não se preparou e não se organizou para receber as pessoas que vinham sem trabalho e sem terra. Parece que tudo aconteceu de repente, sem planejamento. Imagino que essas pessoas que vc encontrou nem sabiam o que estava acontecendo. Felizmente, o Carmo mudou e aquela miséria toda parece ter acabado. Assim espero.
    Foi um prazer enorme ler o seu relato e "rever" os personagens de nossa estória.
    Continue contando o que viveu (lembra da esquina?)

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