quinta-feira, 7 de abril de 2011

AINDA SOBRE A PAINEIRA!

Celeste Noviello Ferreira, autora do livro Quadro de Saudades, também fala sobre a paineira, que ilustra este blog. Ela informa que esta foto foi tirada em 1920.
Veja o que diz:
"Os antigos recordam e os retratos contam.
Uma velha paineira, defronte a casa do professor Milton de Araújo Pereira. Pertencia ao Sr. Antônio Alves de Figueiredo (Sr.Pipoca) meu bisavô. Abrigava na sua enorme sombra hospitaleira a reunião dos carmelitanos para as conversas costumeiras de um povo, suas fazendas, suas façanhas políticas.
O Largo da Matriz era em areia, circundado por algumas árvores. No seu centro, ficava um grande chafariz em pedra sabão, com duas enormes torneiras, onde o povo buscava água potável, quando não havia, ainda, água encanada nas casas. O outro chafariz foi construído na "Praça Capitão Américo".
Havia, também, dois coretos. Um deles, servia para leiloar prendas e o outro para a Banda de Música alegrar os festejos religiosos. Em volta do largo foram construídas as primeiras casas. Início do povoado.
As casas urbanas eram maiores ou menores, simples, mais modestas. Sobrados duplos ou sobradinhos aconchegados uns aos outros, minguados, escuros, alinhados ao longo da rua ou ladeiras, com patamares de pedra, conforme a inclinação da rua, subia por degraus. Mais tarde, aparecem acentuado progresso no gosto e modificações nas linhas, com tendências a suntuosidade.
Sacadas eram de guarnições de cedro e jacarandá, algumas de ferro. O emprego de pedras foi constante em igrejas e casas solarengas (Séc.XVIII - 1740-1750)

Celeste Noviello também publica um texto "Evocação à Paineira", destinado à Dona Corina (minha bisavó) escrito por Léo Carmelitano, que eu não conheço. Segue o desabafo:

"Cortaram a Paineira plantada no coração da cidade. Rasgaram-se as sombras de uma tradição secular do Carmo. Nós todos choramos, comovidos, em presença dos outros, a perda irreparável. É um pouco da alma da cidade que se abate. Uma lembrança querida que recordava os antepassados.

Uma reunião à sombra da paineira era o que havia de maior simplicidade democrática. Todos, sem distinção, se mostravam acolhedores e afáveis.

Aos domingos, era o conforto dos roceiros, a sombra benfazeja. Um quadro tipicamente carmelitano do roceiro à espera dominical. Quando alguém ficava triste, recorria à intimidade da árvore amiga. Quando se ficava agastado, moído da rotina da cidade, não havia remédio melhor do que dois dedos de prosa à sombra da paineira. Quando se queria molestar o próximo, também a paineira sugeria coisas que fazem rir. Se os namorados cochichavam , fazendo segredos dos seus madrigais, agarravam-se à paineira, que sabia fazer silêncio de tudo. Se havia um negócio a fazer, uma piada a contar, um acontecimento a comentar, ninguém duvidava: corria à paineira amiga e punha boca no mundo. Era o clube popular da cidade.

Quando se está ausente, todo mundo se lembra do Carmo com a paineira na rotina. Todos sentem saudades pensando na paineira. Todos a veneram sendo ciente dos olhos o seu colorido pitoresco na quadra da florescência. Não houve geração que não encontrasse agasalho à sombra da paineira.
Sol a pino. Meia dúzia de gente apinhada no banco da paineira. Um cavalo amarrado. Um largo deserto. D. Corina à janela. Uma moça que passa de uniforme para a Escola Normal - bom dia! Um olhar de simpatia para o atelier da Nicota. Um dedo de prosa com o vizinho do banco. Que tentação! Todo mundo que passa é obrigado a parar. Tudo isso é o Carmo na sua originalidade tipicamente Carmelitana.

O momento mais carmelitano da vida da cidade. O momento mais bonito para a minha sensibilidade.

Ventos maus sopraram lá foram. Mas a chama simbólica permanecerá sempre acesa. Viverá para s empre a paineira como um adeus distante. Nota: a transcrição supra, extraída de "O Carmo do Rio Claro", de 1 de outubro de 1938.

Assim comemoramos a saudosa d. Corina Isaura de Figueiredo na homenagem que lhe prestou o articulista, lamentando o corte da bela Paineira à cuja sombra nasceu a cidade.

Gente, às vezes tenho saudades de um tempo que nem vivi. Mergulhei fundo nessa história e pude ver e sentir esses dias de 1920, quando a paineira do meu bisavô foi abaixo. Mas ela vai existir sempre aqui no meu blog, em homenagem a meus antepassados e a todos os carmelitanos que curtiram a sua sombra benfazeja.


Um comentário:

  1. Cleise, sempre gostei de ver os contos de antigamente, gotei muitooo do seu blog, ta de parabens ! Não entendia o porque de gostar de contos antigos, mas vc cita uma coisa que é a mais pura verdade; " às vezes tenho saudades de um tempo que nem vivi. "

    Sou novo no Blog, mas ja ta nos meus favoritos, entrarei sempre, sou Carmelitano, mas moro em Poços !

    Grande Abraço

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