domingo, 30 de novembro de 2014
Janelas Janelões
"Poesia é quando a tarde está competente para dálias.
É quando
Ao lado de um pardal o dia dorme antes.
Quando o homem faz sua primeira lagartixa.
É quando um trevo assume a noite
E um sapo engole as auroras."
(Manoel de Barros)
Viva a Poesia!
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas
mais que a dos mísseis.
Tenho em mim
esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância
de ser feliz por isso.
Meu quintal
É maior do que o mundo.
Fui criado no mato e aprendi a gostar das
coisinhas do chão –
Antes que das coisas celestiais.
Eugen Emerik - Entardecer na Fazenda Água Limpa |
Ando muito completo de vazios.
Meu órgão de morrer me predomina.
Estou sem eternidades.
Não posso mais saber quando amanheço ontem.
Está rengo de mim o amanhecer.
Ouço o tamanho oblíquo de uma folha.
Atrás do ocaso fervem os insetos.
Enfiei o que pude dentro de um grilo o meu destino.
Essas coisas me mudam para cisco.
A minha independência tem algemas.
Foto "Prece" - Ed Figureido |
"Face" a Face
Paulo Jacob, Pedro Augusto Correa, Juca (Antônio Damasceno) e Nemércio Ávila no Bar Pinguim. Foto gentilmente cedida por Clarice Vieira D Avila - cedida ao Coró e repassada por mim, com a licença de todos.
O Bar Pinguim e tradicional reduto dos carmelitanos. Antigamente era uma bar, hoje foi revitalizado pelas filhas do Zecão - segundo o Coró - e promove eventos. Mas está na memória de todos.
O Bar Pinguim e tradicional reduto dos carmelitanos. Antigamente era uma bar, hoje foi revitalizado pelas filhas do Zecão - segundo o Coró - e promove eventos. Mas está na memória de todos.
Foto do acervo do César Marinho - seu pai, no Bar Pinguim. |
domingo, 23 de novembro de 2014
Neblinas da Água Limpa
Hoje o dia está para esta foto. Uma chuvinha gostosa e continuada. A chuva sempre me lembra meus tempos de criança. Logo depois da chegada da água, chovia cântaros. Dias enfiados e sem luz. Era relampear para a força cair. Dias inteiros dentro de casa. A criançada jogava dama, ping pong, dicionário... Ou líamos debaixo das cobertas. Era a chuva começar e os trovões a retumbar, para a Elisa, nossa mãe mulata, ir acender palha benta e rezar para Santa Bárbara! São Jerônimo! Meu avô paterno, pai da minha mãe, o português Pedro Pereira tinha pavor a tempestades e raios e se escondia debaixo da cama.
Quando a chuva era na fazenda, aí sobrava para os casos ao pé do fogão de lenha, de preferência, de assombrações. Na fazenda, grande, dava para brincar até de pique. Os dias era mais tristes. Eu sempre gostei do dia de cara emburracada, sempre achei mais inspirador.
sexta-feira, 21 de novembro de 2014
Saudades gustativas
É TEMPO
É tempo de goiabada
De Marmelada
De Pamonha
É tempo de saudade!
Pau a pique
Biscoitão
Pão de ló
Goiabada no
prato de leite.
Omelete com
cebolinha verde
Limão china
Doce de leite.
Queijo Minas.
Carmo do Rio Claro
Terra de sabores
Requintes.
Educação italiana para os homens.
Educação Francesa para as mulheres
Na foto, Dona Nicotinha Paiva, um ícone da cultura carmelitana. |
Carmo do Rio Claro
Em palavras:
Cultura
Beleza
Hospitalidade
Estava fazendo este post, quando passou na rua de casa, aqui em Belo Horizonte um carro de som gritando: olha a pamonha, o milho verde, o bolo de milho, o suco de milho....
Agora, tenho pamonha na geladeira e um autêntico bolo de milho verde mineiro na geladeira.
quinta-feira, 20 de novembro de 2014
A paineira da Fazenda Água Limpa
Esta é a famosa paineira da Fazenda Água Limpa. Quem a conheceu, sabe que ela tinha um tronco enorme. Nas fotos, ela está protagonizando uma morte bela e lenta. Veja que numa das fotos ela se tornou um portal. Em uma outra, que infelizmente não localizei, ela fez um coração. Mas a sua morte tem histórias que passam pelos planos da fantasia e da realidade.
Há muitos anos, na década de 80, decidimos limpar a casa. Uma casa antiga devia guardar muitas energias negativas, espíritos escuros. Enfim, várias mulheres toparam enfrentar a empreitada de limpar a Fazenda Água Limpa.
Eu comecei a maratona de limpeza varrendo a casa toda, enorme...Depois varrendo o ar com vassourinhas de alecrim. Aí veio a Toninha, dona da casa, jogando sal bento por um padre nos quatro cantos da casa. Minha irmã, Tata, rezou o exorcismo católico - arrepiando-se - em todos os quartos. Enfim, Elisa, minha mãe mulata, veio com uma frigideira queimando palha de alho.
Foi muita "bruxa" junto. Havia que transmutar aquilo tudo.
Tata foi embora para casa - sua fazenda fica ao lado - cheia de arrepios e presságios. É um pouco sensitiva. À noite, ela sonhou que de todos os cômodos da casa, dos porões e das casas dos camaradas saíam espíritos e sombras entravam dentro da paineira e saíam por cima.
Passou um tempo, caiu o primeiro galho. A paineira morreu. Transmutou aquela energia toda? Creio que sim, deu a vida pela Fazenda Água Limpa.
As paineiras sempre fizeram parte da família Figueiredo. Meu avô Pipoca, pai da Vó Alice plantou uma paineira em frente a casa do Job, que deu abrigo a muitos namorados, amigos nos tempos mais antigos. Também no Porto Carrito, onde Vó Alice e Vô Soares viveram, à beira do Sapucaí, conta o Job, que havia uma imensa paineira, onde a criançada almoçava. No tempo ainda do Vapor Francisco Feio.
Na foto acima do banner do blog se vê a paineira do Vô Pipoca.
Há muitos anos, na década de 80, decidimos limpar a casa. Uma casa antiga devia guardar muitas energias negativas, espíritos escuros. Enfim, várias mulheres toparam enfrentar a empreitada de limpar a Fazenda Água Limpa.
Eu comecei a maratona de limpeza varrendo a casa toda, enorme...Depois varrendo o ar com vassourinhas de alecrim. Aí veio a Toninha, dona da casa, jogando sal bento por um padre nos quatro cantos da casa. Minha irmã, Tata, rezou o exorcismo católico - arrepiando-se - em todos os quartos. Enfim, Elisa, minha mãe mulata, veio com uma frigideira queimando palha de alho.
Foi muita "bruxa" junto. Havia que transmutar aquilo tudo.
Tata foi embora para casa - sua fazenda fica ao lado - cheia de arrepios e presságios. É um pouco sensitiva. À noite, ela sonhou que de todos os cômodos da casa, dos porões e das casas dos camaradas saíam espíritos e sombras entravam dentro da paineira e saíam por cima.
Passou um tempo, caiu o primeiro galho. A paineira morreu. Transmutou aquela energia toda? Creio que sim, deu a vida pela Fazenda Água Limpa.
As paineiras sempre fizeram parte da família Figueiredo. Meu avô Pipoca, pai da Vó Alice plantou uma paineira em frente a casa do Job, que deu abrigo a muitos namorados, amigos nos tempos mais antigos. Também no Porto Carrito, onde Vó Alice e Vô Soares viveram, à beira do Sapucaí, conta o Job, que havia uma imensa paineira, onde a criançada almoçava. No tempo ainda do Vapor Francisco Feio.
Foto de Ed Figueiredo. Fazenda Água Limpa. |
Na foto acima do banner do blog se vê a paineira do Vô Pipoca.
"Sou uma doce paineira
e teço espinhos e painas
às vezes me tinjo de rosa
cor rosa nas minhas vestes
ou espinho
e seco.
Sou paineira
tempo
tempo."
quarta-feira, 12 de novembro de 2014
Casos do Coró
A Churrascaria Tocha, do Moacir Campista César. |
(Mensagem '"Face" a Face)
sábado, 8 de novembro de 2014
A Ação Combinatória - Movimento tentou deter Furnas
\O livro 'Mandassaia', escrito por um funcionário de Furnas, Ildeu Manso Vieria, retrata exatamente a situação da região do Carmo e demais cidades diante da 'tragédia' de Furnas. É um documento histórico que eu divido aos poucos com vocês.
JK visita Furnas |
"Alfenas, Campo Belo, Carmo do Rio Claro, Guapé e Pium-I, os municípios mais belicosos da beira do rio Grande e Sapucaí, entram em 'Ação Combinatória' movida contra a União, a Central Elétrica de Furnas, demais interessadas e diretores da empresa.
A ação, firmada por Noé Azevedo e João Franzen de Lima, encaminhado ao Juízo de Direito da 1ª Vara dos Feitos da Fazenda Pública de Belo Horizonte, pretendia impedir os réus de executarem as obras, abstendo-se das expropriações. A ação considerava nulo todo o empreendimento, e ainda condenava os réus ao pagamento de custas por vários danos causados.
Os advogados dos municípios contestadores encerraram a petição encaminhada à Vara dos Feitos...
A entrada da ação em juízo a 28 de maior de 1958 esquentou o inverno montanhês. Manoel Taveira não perdeu tempo. Voltou a inflamar seus pares na Assembleia Legislativa de Minas Gerais.
"A barragem de Furnas senhores deputados, não foi idealizada, na verdade, como tenho dito nesta casa; unicamente para gerar energia elétrica na própria barragem e somente nela. Furnas tem como escopo beneficiar os trustes internacionais, as companhias estrangeiras que exploram outras usinas no rio Grande, situadas abaixo do canyon escolhido para esta barragem".
O advogado Geraldo Freire, de Boa Esperança, interessado no aumento da clientela e nos votos para futuras campanhas políticas, já não discursava somente na sua cidade. O eloquente orador subia nos barrancos dos vilarejos de beira rio e pregava inflamado:
"Com a Ação Combinatória impetrada pelo professor Noé Azevedo, Furnas não poderá prosseguir as obras, dar continuidade ao ato criminoso que vem colocando o nosso povo em polvorosa".
movimento dos mineiros contra Furnas foi se avolumando e Alfenas, Campo do Meio. Carmo do Rio Claro e Guapé projetaram-se no noticiário nacional. Os pacatos serranos ganharam manchetes nos jornais:
"Furnas será detida pela ação combinatória"
"Furnas vai paralisar as obras"
O prefeito de Alfenas, João Januário Magalhães, o Janjote, médico dos mais ilustres e culto, sorridente, como signatário da Ação Combinatória, visitava os formadores de opinião de sua cidade e presenteava-os com um livreto de autoria de Noé Azevedo e João Franzen de Lima, intitulado "O Caso da Central Elétrica de Furnas".
Na capa cinzenta do livreto o professor Noé Azevedo sintetizava a história de Furnas:
'Não se trata de um caso comum de desapropriação, em que o interesse público prevalece sobre o particular, mas de um empreendimento colossal que afeta toda uma região, determinando o deslocamento de mais de trinta mil pessoas, a submersão de algumas cidades e supressão de vários municípios. Tem-se conflitos de interesse igualmente públicos, que, em bom direito, só o pode ser dirimido por via de plebiscito. O mínimo de garantia exigido pelo interesse da região, seria o de uma Lei do Congresso Nacional prevendo sobre todas as consequências de ordem social, administrativas e econômica desse empreendimento. Envolvendo a desapropriação de bens públicos dos municípios, dos Estado e da própria União, a mesma só poderia ser feita mediante leis do Congresso Nacional e da Assembleia Legislativa, de acordo com expressas disposições do decreto-lei 3.365 de 1941, que disciplina a matéria. Nulo, portanto, é todo o empreendimento baseado exclusivamente em decretos do poder executivo".
terça-feira, 4 de novembro de 2014
A VIDA SOCIAL NO CARMO DOS ANOS 60
Está é minha eterna professora de Português - Literatura e que me ajudou a iniciar nas letras. Ela dava diferentes temas para que escrevêssemos livremente, eu viajava, sempre gostei de escrever. Ela me valorizava. Lúcia Carielo, na foto com meu primo, o genial, Gabriel Vilela.
Abaixo, transcrevo um artigo seu, publicado no Expresso Carmelitano de 12 de junho de 2014. Uma verdadeira viagem aos anos 60. Fiz uma mesclagem com fotos. Dá uma saudade! Degustem!
" A década de 60, conhecida como anos rebeldes ou anos dourados, foi rica em todas as áreas do conhecimento e marcou, definitivamente os rumos da humanidade. O mundo já não era o mesmo. Novo tempo, nova mentalidade e muitas mudanças. Quem viveu nos anos sessenta tem muitas histórias para contar. Histórias que trazem saudade!
Nessa década, a estilista britânica, Mary Quant inventou a mini-saia. O mundo conheceu o monoquini e a pílua anticonceptiva. O movimento hippie ganhou força. Os Beatles gravaram o primeiro disco. O homem foi à lua. Realizou-se o primeiro transplante do coração. Em 1965 foi transmitido o primeiro Festival de MPB. Fatos importantes como a construção do Muro de Berlim, a Guerra dos Seis Dias, os acirrados protestos contra a guerra do Vietnã e os assassinatos do ativista americano Martin Luther King e de J.F.Kennedy marcaram essa época. No Brasil, teve início a ditadura militar e a capital do país foi transferida do Rio para Brasília.
Para os carmelitanos, o início dos anos sessenta foi uma conturbada época que marcou a história, modificou a paisagem e a vida. Com a força de um vulcão, impetuoso mar azul invadiu nossas melhores terras e se alojou tranquilo por sobre verdes pastagens. Os corações encheram-se de medo de incertezas, de desesperança e de revolta contra o inevitável. A razão pós-se à frente, tentando convencer o homem de que não lhe deveriam faltar pespectivas e confiança no futuro; o progresso chegaria através de rodovias asfaltadas e o mercado de trabalho estaria aberto ao carmelitano. O êxodo rural fez com que muitos se desesperassem e partissem rumo a outras terras, em busca de melhores dias.
O Itaci, do lado do Rio Sapucaí, antes das águas. |
O Vapor Francisco Feio cortando as águas do Sapucaí, aportando no Porto Carrito, no Porto Belo, no Porto Ponte (Itaci) |
E chegou o tal progresso!
Não bastasse tudo isso, um incêndio destruiu a sede do único clube recreativo da cidade: o Grêmio Esportivo Carmelitano. No pouco que sobrou, por algum tempo, ainda foram realizados muitos bailes.
Naquela época, bailes eram marcados com muita antecedência e aguardados com ansiedade. Havia um ritual de preparação. As moças iam atrás de costureiras para confeccionar seus vestidos. Parentes e amigos que moravam fora eram convidados, e a cidade ficava movimentada. O salão do clube era decorado para cada baile. Obra do talento e da criatividade do artista carmelitano, Antônio Adauto Leite. Tudo era feito com muito requinte.
Bel Azevedo, modelito anos 70. |
Para sair da rotina dos finais de semana, a mocidade promovia brincadeiras dançantes em casas de família. Bastava que na casa tivesse um aparelho de som, bons discos, e alguém que gostasse de dançar que ela era solicitada. Estava armada a brincadeira. Uns avisavam aos outros e logo todos ficavam sabendo. Muitas brincadeiras foram realizadas na casa da Zirica, uma casa antiga na esquina em frente ao Colégio das Irmãs. Havia bons dançarinos naquele tempo. As músicas italianas (de Sérgio Endrigo, Peppino de Capri, Nico Fidenco e de Rita Pavone) e as orquestradas (de Ray Connif, Billy Vaugh e Paul Mauriat) eram as mais apreciadas.
O sonho da juventude era o ter um clube recreativo novo. O povo logo começou a se movimentar, promovendo festas com o objetivo de arrecadar fundos para a construção de uma nova sede para o GEC.
Joaquim e Toninha com seu irmão e prima, no GEC. |
O tempo passou, o que um dia foi apenas uma ideia, um projeto, ganhou forma, tornou-se tradição e ponto de referência: o Grêmio Esportivo Carmelitano, orgulho do povo desta terra.
Muitos eventos programados para serem realizados à noite, deixaram de acontecer porque chovia, a cidade ficava sem energia elétrica e só no dia seguinte ela voltava. Por esse motivo, os bailes foram cancelados e muitas festas adiadas. As moças choravam de raiva e de decepção.
Edinho e seus Brasinhas |
A vida social da cidade, aos poucos, foi se tornando mais intensa. No Cine Guarani, conhecemos os grandes sucessos do cinema. Às vezes, o filme era interrompido por algum defeito técnico, mas nada disso importava, apenas aumentava a ansiedade. Se alguém estivesse atrapalhando a ordem, vinha tal qual um vagalume, o 'lanterninha' , chamar a atenção. Havia um intervalo rápido, no meio da sessão, para quem quisesse se levantar e ir até o hall de entrada comprar balas.
Nas imediações do Cine Guarani fazia-se o 'rela', nos finais de semana. Moças de braços dados desciam e subiam , num eterno vai e vem, flertando com os rapazes que se alinhavam um e de outro lado da rua. Muitos namores começavam ali.
Foto do acervo do César Marinho, seu pai e um amigo, no Bar Pinguim. |
O Bar XV era lugar agradável. O bom atendimento e a simpatia da Família Barbosa cativava
os clientes, que eram muitos. Lá eram tocadas as músicas que faziam sucesso no momento. Serviam aperitivos e bebidas para todos os gostos. Foi no tempo da Cuba Libre, do Hi-Fi e do wisque com guaraná.
os clientes, que eram muitos. Lá eram tocadas as músicas que faziam sucesso no momento. Serviam aperitivos e bebidas para todos os gostos. Foi no tempo da Cuba Libre, do Hi-Fi e do wisque com guaraná.
As roupas e os acessórios usados são lembrados, hoje, nos bailes 'Anos Sessenta'. São desta época a camisas de fios sintéticos da marca Valisére , as camisas 'Volta ao Mundo', os conjuntos de 'ban-lon' e as blusas de bouclê; depois vieram as calças de tergal, as calças de nycron, as calças jeans da marca Lee e as calças de boca de sino.
A MODA DOS ANOS 60
A MODA DOS ANOS 60
As batas e as roupas de tons extravagantes (verde limão, laranja, azul turquesa e rosa shocking), sempre combinando com os sapatos faziam sucesso. NO final da década de 60, já estavam na moda as saias midi e maxi usadas com meias pretas. Brilhantina nos cabelos, correntes grossas no pescoço são algumas das marcas desta época.
Vestidos Tubinho |
As mini-saias das graciosas garotas dos anos 70. |
CIDADE DA MÚSICA
Faziam sucesso por aqui os conjuntos musicais: Ases do Ritmo (Job Milton e outros músicos carmelitanos); Robertinho dos Santos, Edinho e seus Brasinhas (hoje, Edinho Santa Cruz) de Passos. As orquestras Laércio de Franca e Cassino de Sevilha.
Na cidade havia muitos seresteiros. Com voz e violão, ou com eletrola portátil era possível fazer uma serenata. Nas tardes sem fim dos domingos havia sempre uma eletrola e um papo amigo.
Quando teve início a construção da barragem de Furnas e das rodavias adjacentes, o Carmo renasceu. Funcionários de Furnas frequentavam a cidade e nos finais de semana as noites tornaram-se mais movimentadas. Foi nessa época, também, que o Carmo recebeu as mãos de obra do progresso: os candangos. Vindos de diferentes lugares, acamparam-se no bairro que ainda hoje é chamado de 'Acampamento'. Desfilavam pela cidade de sandálias havaianas, de óculos escuros e radinhos de pilha colados ao ouvido. Grandes sucessos da época. Eram funcionárias da companhias de pavimentação, Alcindo Vieira, Sotenco e Servienge, encarregadas de construir a rodovia que liga Passos a Alfenas.
A cidade não estava preparada para receber tantas pessoas: faltava água, faltava luz, mas não faltava hospitalidade. Animados frequentadores dos bailes da garagem do Zé Matildes, os candangos foram contagiados pelo sonho de um grupo de carmelitanos que queria construir um clube para os operários, a SOC.
Um dos idealizadores da Sociedade Operária Carmelitana. |
Era o momento de começar a luta. Trabalhar, angariar fundos e concretizar o sonho. Foi nesta luta que encontramos a Maria Teixeira, a Maria do Chicão, a Ifigênia e a Dona Olívia a fazer tira-gostos e o Zé Matildes e outros a promover bailes e a pedir, aqui e ali, material para construir o clube. Não lhes faltou a ajuda do povo e das companhias de asfalto. E assim foi surgindo, pouco a pouco, na rua Cel. José Bento, com o suor do trabalhador, a Sociedade Operária Carmeleitana (SOC), cuja história é a história de um povo que batalhou para a realização de um sonho. Os dois clubes da cidade, o GEC e a SOC eram adversários nos estádios de futebol, mas unidos na mesma responsabilidade: a de promover a vida social de Carmo do Rio Claro.
EDUCAÇÃO EUROPÉIA
A educação também movimentou a cidade. O Carmo era polo cultural da região. Difundia a melhor cultura, vinda da França e da Itália, através das irmãs da Providência e dos Irmãos de São Grabriel. Aqui estudavam, além dos carmelitanos, alunos vindos de outras cidades da região que moravam nas escolas, em regime de internato. Nessa época, chegavam ônibus lotados, vindos de longe trazendo jovens para prestar exames de Madureza, no Colégio dos Irmãos. Da cidade de Caconde, interior de São Paulo, vinha muita gente. A maioria hospedava-se no hotel do Marcílio.
Havia o Seminário de São Gabriel, que ficava na rua Getúlio Vargas. Em regime de internato, jovens ali se prepararavam para um dia serem Irmãos de São Gabriel. Todas as manhãs subiam, em fila, rumo ao Colégio Montfort onde estudavam.
Havia uma grande liderança jovem, idealista e atuante no Carmo dessa época. Muitos desses jovens faziam parte da União Estudantil Católica - a UEC - e promoviam muitos eventos no meio estudantil. Para quebrar a monotonia da cidade, mal a tarde caía e a noite chegava, começava a funcionar, no antigo ponto rodoviárioa, o serviço de alto-falante da UEC, que tocava os sucessos musicais do momento.
O FUTEBOL
O futebol carmelitano ganhou destaque na região. O Centro Esportivo Carmelitano Montfort (CEM), incentivado pelos irmãos de São Gabriel, especialmente pelo irmão Alberto, pelo Milton Luís e Leonardo Carielo (técnicos e treinadores) e Chico David (massagista), revelou muitos jogadores de talento. A escola promovia ora manhãs, ora tardes, ora noites esportivas, e a animação era grande.
Havia também o time do GEC e posteriormente, o da SOC. Domingo à tarde, vindos dos quatro cantos da cidade, torcedores desciam para o Campo do GEC, para assistir as animadas partidas de futebol.
Foi neste tumultuado contexto que vivemos os melhores dias da nossa juventude. Hoje, as lembranças são tantas, uma puxa a outra, se atropelam, provocando uma grande saudade. Foi um tempo bom que marcou a história do Carmo e a história de nossas vidas".
Maria Lúcia de Oliveira Carielo
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