domingo, 30 de novembro de 2014

Viva a Poesia!

      Homenageio neste post a Manoel de Barros, falecido recentemente. Acima de tudo, homenageio a poesia. Por volta 1978/1979, participava ativamente dos movimentos poéticos de Belo Horizonte. Fazíamos Varal de Poesias na Praça da Liberdade, onde distribuíamos folhas em branco para as pessoas escreverem poesias, depois dependurávamos. Tínhamos megafone e tudo para convidar os passantes a participar da intervenção.
    Muitas vezes fazíamos sarau nas praças. Um deles foi em Diamantina e, entre outros, estava meu amigo poeta Régis Gonçalves. Esta foto acima mostra uma intervenção que fizemos em bares de BH no Dia Internacional da Poesia. Chegávamos de máscaras e recítavamos trechos de poemas, selecionados na casa de um dos poetas, salvo engano de Wanderlely Batista - a foto abaixo mostra o momento em que fazíamos a seleção. Eu me lembro que a minha fala, aí nesta escada, ao tirar a máscara foi: " e neste momento, os homens da minha cidade amam suas mulheres sem nem ao menos saberem do que é feito o amor". Ganhamos de tudo - de palmas a vaias - mas éramos a transformação, estávamos agitando a cidade. Tempos bons da FAFI BH, onde estudávamos jornalismo. Eu não sabia que havia sido documentado, até que meu amigo escritor José Alexandre Marino postou estas fotos que registram um momento muito especial na minha vida. Na foto, Wanderley Batista (em pé, de barba) e Sérgio Fantini (agachado à direita).  Viva a poesia! 



Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas
mais que a dos mísseis.
Tenho em mim
esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância
de ser feliz por isso.
Meu quintal
É maior do que o mundo.




Fui criado no mato e aprendi a gostar das 
coisinhas do chão – 
Antes que das coisas celestiais.

Eugen Emerik - Entardecer na Fazenda Água Limpa


Ando muito completo de vazios.
Meu órgão de morrer me predomina.
Estou sem eternidades.
Não posso mais saber quando amanheço ontem.
Está rengo de mim o amanhecer.
Ouço o tamanho oblíquo de uma folha.
Atrás do ocaso fervem os insetos.
Enfiei o que pude dentro de um grilo o meu destino.
Essas coisas me mudam para cisco.
A minha independência tem algemas.


Foto "Prece" - Ed Figureido

Nenhum comentário:

Postar um comentário