sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

MORREU A POESIA!

(a foto é do acervo do blog www.soudalaiacultura.blogspot.com)

A cidade de Alpinópolis chora um dos seus cidadãos mais ilustres. Em Ventania recentemente morreu a poesia. OMAR CABRAL KRAUSS. Faleceu em 13 de fevereiro de 2011, aos 83 anos. O prefeito Edinho do Osvaldo decretou luto oficial de três dias.

Eu o vi uma vez, foi numa feira no GEC, ele estava de boné xadrez e um charmoso cachecol e o achei muito bonito. Daquelas pessoas que passam e deixam rastros. Emanava uma aura, um magnetismo. Debruçada sobre o excepcional livro de Jose Eglair Lopes – “História da Ventania”, deparei com a história de Omar. Ele nasceu em Alpinópolis em 11/10/1927. Filho de Abrelino Cabral Krauss (Seu Bilico) e Dona Anna Gonçalves Krauss (Sinhaninha).

A cidade o premiou como cidadão honorário. Foi acadêmico da Academia Taguatinguense de Letras e músico da Ordem dos Músicos do Brasil. Fundou o Grupo de Teatro Krauss e 12”. Escreveu e publicou livros de poesias, romances, memórias, autobiografia, adaptações para teatro, contos, crônicas...É impressionante o peso da sua obra. Fiquei impactada! Eu, que sou escritora também. Como ele escreveu e desenvolveu projetos ano a ano e criou livremente por anos a fio! Como ele se deu pelas palavras. Quanto destemor... Quanta entrega! Quanto amor! Gerou 9 filhos. Entre eles, a nossa querida Naina, filha da carmelitana, Maria Cesarina Paiva Krauss.

SUA OBRA

Rua Coronel Rosendo – 1983 – memória

Barulho do Silêncio – 1984 – conto e crônica

Lê com Lê... Clé com Clé – 1985 – tragicomédia

Retalhos D´Alma- 1985 – poesia e conto

Dona Rita Viúva Ladina – 1985 – melodrama

O livro do Padre Vicente – 1989 – memória

Nova Rezende “1937” – 1989 – memória

Trovas da Latinidade – 1989 – antologia (participou com 1 poesia)

Sonata a 4 mãos – 1992 – coautoria com sua esposa, Maria Helena – conto e crônica

A Flor dos Cafezais – 1990 – romance

Vida minha em livro aberto – 1991 – poesia

Circo pavilhão felicidade e entrevista – 1991 – memória

Poemas em letras vivas – 1993 – poesia

Íris, a sobrevivente – 1995 – romance

Padre Aníbal – 1995 – poesia

Brados de Amizade – 1996 – poesia

Rosa dos Ventos, Rosa dos Ventos – 1996 – antologia (com dois poemas)

Pequena História da Paróquia de São Sebastião da Ventania – 1996 (colaborador)

Recheios do Meu Balaio – 1998 – autobiografia com poesia

Florilégio dos meus poemas – 1998 – teatro bíblico

A voz das Letras – 1999 – poesia

Feliz andarilho – 1999 – poesia

Divina Júlia – 1999 – adaptação para teatro de um conto de Danielle Queiróz

Antologia Romântica – 1999 – antologia (participação com poesia)

Versos a Diversos – 2000 – poesia

Em 2001 e 2003:

A Morte do Justo – adaptação para teatro

Desejos de Felicidade – poesia

Segredos da Ventania – memória


Poltrona 4 – conto

Poltrona 4 era a poltrona do ônibus da Santa Cruz que o levava diariamente para Passos, onde Omar fazia academia. Enquanto olhava a paisagem e conversava com os outros do ônibus, fazia tudo virar literatura. A poltrona 4 era reservada para um jovem ancião – Omar. Morreu um menestrel. Com certeza o céu se encherá de poesia!

O blog www.soudalaiacultural.blogspot.com publicou esse artigo de Omar Krauss:

Antes que o Mundo acabe

Um dia eu vou morrer. Vou. O Mundo com suas coisas maravilhosas, o firmamento azul que chamamos de céu, as verdes matas, o mar, os rios, os córregos, os prédios...tudo irá ficar para trás.
Das coisas que irão ficar, as mais importantes são os animais.
No meio dos animais ficarão homens amigos, mulheres amigas, crianças amigas. Sempre foi assim com os outros que deixaram o Mundo nosso, então, vai aí minha confissão:
Quando eu era criança, para mim, nada melhor do que o Circo. No Catecismo do Padre Vicente, da Anita, da Antoninha, da Tia Olegário, minha catequista amada, da Samira, da Ruth, aprendi que nós viemos ao Mundo para conhecer, amar e servir a Deus e gozar d’Ele lá no céu. Que beleza! Eu com 7 anos pensava que era fácil ir para céu, um paraíso lindo, lugar dos bons, eternamente. Esse eternamente, não dá para ninguém compreender. É mistério!
E, um dos meus mistérios é a bondade do céu.
Veja se me entende, caro leitor.Eu amava Circo, nada melhor do que Circo, isso, não só quando criança, mas até hoje vibro com Circo, ainda amo: a entrada solene ao Circo, bancada ou cadeira, a entrega ao porteiro fardado, do bilhete amarelo ou verde, chamado ingresso, o cheiro do quentão, da pipoca, a bandeja de pirulito de várias cores...uma olhadela ao longe, para ver que estava ali para assistir “O céu uniu dois corações”, a Terezinha rola-rola, o palhaço “Bigola, meu nêgo”!...ou Chupim, ou ainda o Bambolim e o Cherêta, a voz impostada do Diretor: “Respeitável público, o meu cordial boa noite!” Ah, como é bom o Circo! É uma saudade...dor gostosa!...
Bem, e o Céu? Claro que o lugar que nos está preparado por Deus, sua bondade é única, inigualável!
Permita-me concluir a minha confissão:
Por mais que eu leia, por mais que eu saiba o absurdo do meu pensamento, sem censura nenhuma, sem medo de crítica, pois cada pessoa tem o seu Céu na imaginação. Como é o seu Céu???
O meu é um Circo, com lona, bancada de tábua, picadeiro de palha de arroz, no palco, uma cortina de chitão de estampas vivas com iluminação elétrica muito forte, o povo, com roupas normais; não vejo alminhas de fumaça, não.
Muita gente da Ventania, de outros lugares também, mas não está lotado e há silêncio e expectativa.
Toca uma sineta e começa um desfile nos chamados santos; muitos Anjos; em seguida, atravessa a picadeiro, uma senhora linda, vestida de branco e azul. Minha tia me cutuca e diz baixinho, aquela é a Nossa Senhora, a Maria, ela abana a mão direita e o povo bate palmas. O silêncio fica profundo e uma música suave; o meu corpo arrepia. É Jesus, o Salvador. Que beleza! O povo canta o Tantum ergo, o tão sublime Sacramento! Bate um cheiro de incenso. A cortina do palco se abre e ali dentro, no palco, Deus Pai e Deus Espírito Santo, juntamente com o Cristo, os três salientando a Trindade Santíssima, abençoa o povo que está ajoelhado, contrito e muito feliz.
Meus Deus! Se for assim, será assim. Acho pensar que o Céu, para onde quero ir, é como meu Circo dos meus tempos de criança pura!
Sempre tive vontade de deixar escrito essa minha...inocência.
Não penso estar escandalizando meu leitor. Por mais que eu queira criar outra imaginação, não consigo.
Por enquanto, fico pensando assim, “Antes que o Mundo acabe”.
Tomara que a Misericórdia de Deus me conceda o Céu como ele é: Resplendores de Luz, Perpétua!

Fonte: Dener Moreira de Souza

Nenhum comentário:

Postar um comentário