sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

O TIO TONINHO - 1

Na foto, em pé Tio Toninho e ao lado: Jair e Joaquim José, na festa de 90 anos da vó Alice, na Fazenda Água Limpa.

Toninho Soares era irmão do meu pai Edmundo, filho da Dona Alice Figueiredo e Sebastião Soares. Pai do Jair Soares. Era uma peça rara! Daquelas que fizeram e quebraram a forma. Ele era de uma total espontaneidade e transparência! Sua história hoje vira lenda na família Soares. Em qualquer roda, história do Tio Toninho vêm à tona. Ele é personagem do meu livro - Hortênsia Paineira/Inventário das Águas, onde ganhou o nome de João Garavião.
Ele criou um urubu desde pequenininho. Ganhou o nome de Pepita. Segundo o Job Milton, "o Toninho tinha uma força hipnótica nos olhos, ele atraía os passarinhos em sua mão. A Pepita andava atrás dele, quando ele ia ao açougue pegar carniças. Ora voava baixinho perto dele, ora pousava em seus ombros. Quando estava de Fordinho, ela pousava na frente do carro. "

ARTEIRO QUE SÓ VENDO
Quando era pequeno, era um verdadeiro Malazartes. Vivia fazendo travessuras. Vovó Alice contava. Num carnaval, ele fantasiou todas as suas galinhas e soltou pela rua. Guardava bichos no armário mudo para jogar na perna das comadres que vinham da missa. Um dia, solene almoço de domingo, ele soltou morcegos, pois sabia que a vovó tinha pavor. Para a mamãe, que tinha medo de sapo, ele soltou um saco de rãs na cozinha da fazenda Água Limpa.
Minhas irmãs mais velhas presenciaram o tio Toninho nos bons tempos, quando andava pelos campos da fazenda ao lado da sua Maria. Ele levava os meninos para fazer a ceva. Iam para o meio do mato no final da tarde, construíam uma plataforma sobre a árvore e deixavam alimentos embaixo. A noite caía e os bichinhos silvestres iam chegando. Era preciso ficar quietinhos!
Tio Toninho era um menino. Ficava o dia inteiro amassando visgo para os passarinhos ou pão para a pescaria. Era "porco" e só pra chatear a vovó, limpava o dedo sujo no copo d´água e bebia. Ai, que nojo! Uma vez, queimei o dedo na goiabada quente, seguindo o irreverente gesto do meu tio.

CHEGOU A ALEGRIA!
Quando ele chegava na fazenda, primeiro chegava o seu grito, que varava a casa toda e levava a novidade, o Tio Toninho chegou e a noite virava baile. Ele chegava com a calça arregaçada e cantando - vem cá cintura fina, cintura de pilão, cintura de menina, vem cá meu coração...os camaradas do meu pai e as ajudantes da minha mãe vinham para a sala e dançavam o forró.
E ainda tinha o seu lado caridoso e desapegado. O Manézinho (da Kátia) lembra-se que um dia eles estavam pescando, o Mané era menino, tio Toninho enfiava a mão na água, quando tirou o seu relógio de "ouro" e deu para ele. E A vovó contava, se um mendigo pedisse esmola, ele tirava a blusa do corpo e dava.
Sobre a paixão pelas mulheres, é assunto para outro momento. Uma coisa ele foi, um pai presente para todos os filhos que teve, de várias mães.

IRREVERÊNCIA
Quando pegou o câncer na garganta, ainda brincava : estou cultivando um cancerzinho! Uma vez chegou na casa da Claudete (em frente a antiga SOC) no seu fusquinha. As pessoas chegaram e ele bateu na garganta, dando a entender que havia perdido a voz. Todos ficaram arrasados! Alguns choraram escondido. Ele entrou, pediu um papel e escreveu: quero mingau. Eles fizeram conforme ele gostava. Tomou e saiu. Já no fusca, gritou:
- Ô cambada de gente boba!
Outra história que mostra sua irreverência, minha tia Maria contou. Ele chegou à casa da vovó no dia de sexta feira santa, dizendo: - Comi um frango com quiabo esplêndido na viagem!
Vovó: mas, Toninho, hoje é sexta feira santa. No sábado, ele chegou e ela o convidou para comer um frango. - Não, obrigada mamãe, hoje estou de jejum.

VÊ SE PODE!
Quando Tio Toninho estava para morrer em São Paulo, Vó Alice foi à casa paroquial e pediu para o Padre Mário para confessar no lugar dele. Disse que sabia todos os seus pecados! Ao final, Pe. Mário foi à São Paulo e ouviu suas últimas palavras.


Um comentário:

  1. Gente, esse aí é meu avô, e meu pai também está na foto. Foi muito bom encontrar isso aqui, é emocionante. Quando ele morreu eu tinha apenas 5 anos, mas me lembro de muitas coisas, mais do medo que sentia dele. O grito dele também chegava primeiro na minha casa em SP, e eu, em pânico me escondia embaixo da mesa e era apelidada por ele de "bicho-do-mato".

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