domingo, 13 de novembro de 2016

Chove chuva!

A foto é da nossa colunista Nana de Minas. 

Como chovia em Carmo do Rio Claro nas décadas de 60/70, efeito da chegada das águas. Era chover, apagava a luz. Nesta poesia, relembro um dia muito especial, onde vi a lua mais maravilhosa da minha vida, após um temporal. Este tempinho de chuva inspira nostalgia e poesia.

CHUVA E LUA

Janelas batiam com violência
surrando taramelas
e a chuva de nuvens negras
pesadas
insinua-se no céu .

Queimadas as folhas do ramo bento
O missal está aberto no Apocalipse
combatendo o dilúvio com as previsões do fim.

A luz foi embora aos primeiros relâmpagos
e as velas iluminam as sombras
e os cantos da casa antiga.
E como ela é alta em ecos
instala um ar de pânico.

Ela veio primeiro sorrateira
Gotejando em telhas
com pingos grossos e esparsos.
Aos poucos, cobre a casa, o mundo, as pessoas.
Medrosos, todos correm para debaixo dos cobertores
Coçando terços nos dedos
Ou gritando em desespero:
- Santa Bárbara Milagrosa!
- Oh, meu São Jerônimo!

Permanece um bom tempo
Devassando as ruas
Derrubando barracos
E deixa o globo da morte do Circo da Ivonete
armado
Reinando no descampado.

E surge uma lua imensa
A maior da minha vida
Cheia, imponente, ocupa o céu todinho.
A cidade
ainda às escuras
E o povo sai às ruas comentando as novidades.


Durante a chuva
Morreu um santo,
José Maria
E uma parede da sua casa também caiu.
- um sinal?

A mãe era um só lamento. Ai ai ai ai...
E todos comentavam ao pé da lua:
Ele era um justo.

 Choveu em sua honra.

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