domingo, 16 de janeiro de 2011

ESTÁ DEBAIXO D´ ÁGUA.

(No Carmo também teve uma gruta com desenhos rupestres? Alguém tem fotos ou desenhos dessa gruta? Essa da foto não é da Gruta de Itapecerica)

" O sol se escondia lentamente atrás da colina, naquela tarde quente, quando Castro e Gonçalo regressavam da beira do Sapucaí. O mormaço do vale era insuportável, mas no alto do morro, já próximo da fazenda da Grama, o vento vindo da serra dos Balbinos soprava, amainando o calor sufocante.
Os cavaleiros silenciosos e cansados sentiam-se empolgados com a beleza panorâmica daquele local, e observavam atentamente os acidentes geográficos que contornavam o vale do baixo Sapucaí.
Castro, além de observar a paisagem serrana,não conseguia desligar-se da gruta de Itapecerica, das suas inscrições rupestres em perfeito estado de conservação. Os desenhos bisonhos gravados nas paredes de pedra, as letras exóticas, fazia lembrar dos fenícios, dos navegadores asiáticos que guardaram, zelosamente, o segredo de suas rotas, o conhecimento das correntes marítimas, dos ventos e dos novos conhecimentos.
Perturbado com a escrita exótica de um povo desconhecido o inquieto funcionário de Furnas, que tanto admirava Lineu, Heródoto e Champollion jurou voltar à gruta e enfrentar os morcegos com uma lanterna na mão, fotografar, pesquisar as inscrições rupestres e levar ao local um antropólogo. Conseguiu, mesmo no meio da escuridão da gruta, atormentado e sentindo o cheiro de urina dos mamíferos voadores, copiar em um pedaço de papel, alguns desenhos intrigantes. Pretendia ao chegar na fazenda da Grama conversar mais com Lenita sobre o assunto e estudar o procedimento de uma tribo que povoou a gruta de Itapecerica há seis mil anos...Pensou em fazer um relatório minucioso para as Centrais Elétricas de Furnas, objetivando resgatar as relíquias do importante sítio arqueológico."
Um dos compradores de Furnas, Pereira de Castro, se sensibliizou, buscou mais informações, pensou em falar com Darcy Ribeiro, então na Casa Civil, quando foi chamado por Carlos Mário Faveret (Chefe do DSR) a seguinte advertência:

"Você para com essa palhaçada de sítios arqueológicos na bacia do rio Sapucaí. A sua obrigação é desapropriar terras e não criar problemas para Furnas". Ele ainda defendia a Gruta de Itapecerica, quando Faveret bateu com as mãos na mesa e berrou:

- Pára com essa frescura de arqueologia! Você, com essa idiotice, está prejudicando Furnas. Daqui a pouco os defensores do meio ambiente, dos passarinhos e até dos insetos vão querer interditar os serviços da barragem.

Pereira ainda gritou:

- Inundar a gruta sem fazer um levantamento é um absurdo, Dr. Faveret, é um crime ecológico!

- Se você insistir nessa palhaçada eu lhe ponho no olho da rua!

(História contada no livro Mandassaia - Ildeu Manso Vieira)

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