Vejam que engraçado o texto que o Cesar Marinho (Boquita) enviou para o blog, vocês conhecem esses personagens?
"Nos nove dias do mês de abril de mil novecentos e cinqüenta, nesta cidade de Carmo do Rio Claro, Estado de Minas Gerais, na Casa Lagartixa, de propriedade de meu particularíssimo amigo – o barrigudinho Fernando Macedo, aonde vim a chamado, compareci, eu, Satanás, Tabelião do Vigésimo Quarto Ofício do termo e comarca do Inferno, perante mim compareceu Judas Iscariotis, essa figura impoluta, de caráter sem jaça, da nobre e seleta família dos Iscariotis e Lombricóides – num preito de grande amizade e saudade eterna, lança aqui aos seus diletos amigos e companheiros o seu testamento, esperando assim agradar todos os seus capangas que ansiosos estão para ver a sua caveira.
Então perante as testemunhas incapazes e mesquinhas Osvaldo Alves da Silva, José Severino da Costa, Mozart Gonçalves, Nicanor de Castro e Joel Pereira – me declarou ele testador que queria fazer seu testamento, pelo que me foi ditado, eu o escrevi e é o seguinte:
Eu, Judas Iscariotis, hipócrita, covarde, desclassificado, vacinado contra a peste, o tal que as creolas preferem, porque dizem que eu tenho it, o bilu-bilu da mamãe, o teteinha do papai, enfim o gostozão, deixo aqui o meu precioso testamento, cujos herdeiros serão os meus companheiros de cachaçadas, serenatas e de bailes no Quitandinha. Espero que meus companheiros de traição não se zanguem com os presentes.
Lá vão eles:
De canela forte e dura
Deixo meu par da caçamba
E a minha dentadura.
O meu chapéu Panamá
Que veio da Guatemala
Pro cabelo atrapalhá
Deixo ao Dempsey do Balla.
Ao meu amigo Marcelo
Deixo meu terno amarelo.
Ao gostosão Luiz Palacini
A camisa de tricoline.
Ao Zé Alexandre de Oliveira
Os piolhos da cabeleira.
Aos estudantes de Guapé
As minhas meias com chulé.
Ao Miguel Rosa e ao Ladico
O meu adorado penico.
Ao simpático Rubinho
Deixo o meu colarinho.
Ao Fernando e ao Paulo Junqueira
O Antonio Jacinto Ferreira.
Para o Lolô que me ama
Deixarei o meu pijama.
Ao Zé Joaquim o portento
Recomendo o casamento.
O Totó e o Zeca
Repartam a minha cueca.
Para o Marcílio Vilela
O poder de tagarela.
Não posso jamais esquecer
Do meu amigo Siluca
A ele deixo um abraço
E um beijinho na nuca.
Ao meu amigo Ari Balla
Meu companheiro de troça
Prá ele se divertir
Deixo a minha sarna grossa.
A minha chuteira novinha
Que eu ganhei do Zébedeu
Ficará uma gracinha
No pezinho do Amadeu.
Ao René e ao Renato
A cada um um sapato.
Ao amigo Abrão Elias
Deixo minha covardia.
Aos torcedores do Flamengo
Uma Nêga cheia de dengo.
A todos os estudantes
Oito doses de purgante.
Ao simpático Nen Cabral
A morte quando o sol raiar.
O Zico que é chauxfer
Ficará com minha mulher.
Ao Vicente Barbeirinho
Vulgo bigode de arame
Prá engordar um pouquinho
Três bexigas de salame.
Agora chegou a vez
Do Francisquinho e Anício
Deixo minha barrigueira
Meu peitoral e rabicho.
A corda que me enforcou
E que muito me dá saudade
Servirá para enforcar
O amigo Sebastião Trindade.
O meu terninho surrado
Com cheirinho de suor
Prá andar bem alinhado
Ficará para o Nabor.
Ao 1° ano normal
Minha fantasia de carnaval.
Ao Abrão almofadinha
A pose e a gravatinha.
O gracioso Paulo Jacó
Ficará com minha avó.
Ao gorducho Dininho
Deixo todos os meus filhinhos.
Ao Alfeu e ao Domingos
O meu moderno cachimbo.
Para o Corsini e o Abel
2 garrafas de mel.
Ao Mario Vilela Pereira
Uma porca parideira.
Ao Zé Flávio amigão
Deixo todo o meu coração.
Ao Valter que é muito sério
Uma cova no cemitério.
Aos torcedores do Fluminense
Um purgante da água venense.
Ao José Augusto Ribeiro
A profissão de fogueteiro.
Para o Orlando Peres
Deixo o título de alferes.
Ao amigo Abel do Tino
Deixarei meus intestinos.
Ao Miro que é um colosso
Prá fazer bife no bar
Deixo a carne de pescoço
Pois todos hão de gostar.
Recordações, abrações e beijos
Ás alunas da Escola Normal
E uma bomba no fim do ano
São os meus votos sem igual.
Ao barbeiro da elite
O simpático Tetelo
Prá sarar de apendicite
5 quilos de farelo.
Para o amigo estimado
O mimoso Zé Ganguinha
Um arroto perfumado
De conhaque com caninha.
Ao simpático Manuel Prado
Amigo do coração
Deixo minha camisola
E o meu rasgado roupão.
Aos brotinhos do Carmo
Que eu adoro com fervor
Um lugar no Purgatório
Reservarei com amor.
Ao Laudarci Tomaz Elias
A minha cabeça vazia.
E para o Nelson Marinho
O meu lindo bigodinho.
Para o Nenzo e sua amada
Deixo a minha barrigada.
Ao Zé Rita e ao Zecão
O meu cavalo alazão.
E para o Geraldo Cardoso
Pinga com vinho amargoso.
Ao Nadim que é brigão
Deixarei um mosquetão.
Para o ilustre delegado
Uma tigela de melado.
Para o Cine Guarani
Dez filmes abacaxi.
Para o Lú e o para o Breno
Duas doses de veneno.
Ao Nelson Jacinto Ferreira
Deixo toda minha sujeira.
A Apriginho Vieira
Uma gauchinha faceira.
Ao distinto Biésinho
Deixarei um nenêsinho.
Ainda para o José Jonas
Um rabicho e uma sanfona.
O Toninho do João Tito
Ficará com meu cambito.
Ao Bartôlo que é muxiba
E me vendeu o paletó
Deixarei minha barriga
Prá comê-la com jiló.
O Nelson Trindade Pereira
Que é um leal companheiro
Prá tomar uma cachaça
Deixo meus trinta dinheiro.
Para o amigo Rachid
Rapaz esbelto e granfino
Prá fazer a toalete
Uma escova e um pente fino.
Ao Benedito “criatura”
Rapaz correto e distinto
Deixo com toda ternura
Um suspensório e um cinto.
Aos meus amigos malucos
Fernando e Paulo Junqueira
Além de um bom trabuco
Deixo ainda a cartucheira.
Ao Coluci apaixonado
Prá curar a sua sina
Deixarei com muito agrado
Um envelope de guaraína.
E para o Gerson e o Salomão
Minhas calças e o cinturão.
Para o Geraldo Marinho
Deixo dois lindos BROTINHOS.
Ao Luiz Gonzaga Vilela
Deixo o osso da canela.
Ao Fidélis e ao Coringa
Duas garrafas de pinga.
E a calça que é do Rubinho
Devolverei direitinho.
Ao amigo Barrilinho
Deixo o Fernando e o Paulinho.
Ao Domingos Jacinto Ferreira
Uma cinta e uma barrigueira.
Para o Antonio Damasceno
Uma carroça de feno.
O Nilson e o Moacir Vilela
Repartirão minha costela.
Aos torcedores do Glorioso
Um ano bem venturoso.
Ainda ao Fernando Macedo
Três litros de leite azedo.
Ao amigo Nenê Santana
Deixarei uma balzaquiana.
Para o Luiz Soares e o filho
Duas quartas de milho.
Ao Saul cheio de bossa
Uma bengala e uma carroça.
Ao Chiquinho da prefeitura
Deixo um par de ferradura.
Ao Zé Francisco ou Zé Chico
Que está querendo casar
Deixo a tampa do penico
Prá assim poder começar.
Ao Fernando contador
Contador só de potocas
Meu anzol que é um amor
Com caniço e a minhoca.
E ao Zé Ranulfo bancário
Que também já quer casar
Deixo-lhe o titulo de otário
Por tal atitude tomar.
Eu agora me dirijo
Com toda liberdade
Ao Edmundo Soares
O brotinho da cidade.
Prá esse viúvo “Dom Juan”
Que vive a enganar pequenas
Dou-lhe um conselho de irmã
Vá embora prá Alfenas.
A minha prenda d’agora
É para o Alberto Jacó
Deixo a ele minha espora
E uma cueca de filó.
Para o Paulo Magalhães
Que é rapaz apaixonado
Deixo a ele com amor
Meu retrato autografado.
E para toda mocinha
Que não sabe cozinhar
Reservo uma cadeirinha
Prá no Inferno assentar.
A minha viola de pinho
E meu formoso pandeiro
Deixo com todo carinho
Para o Roquinho barbeiro.
E agora para os brotinhos
E balzaquianas também
Um abraço apertadinho
E um beijo do Racém.
E agora prá terminar
Dou o meu adeus eterno
Havemos de encontrar
Nas profundezas do inferno.
Terminando muito bem
Escutem o que vou falar
Não deixo nada a ninguém
Pois foram me ver queimar.
Atenção
A sobra do dinheiro
Que a turma arrecadou
Deixarei ao testamenteiro
Que muito fosfato gastou.
E, assim, eu, Satanás, Tabelião, fiz este testamento, e confirmo ter nele escrito com fidelidade a vontade do testador Judas Iscariotis, que foi lido por mim em voz alta perante ele e as testemunhas presentes.
Assinado
Judas Iscariotis
Carmo do Rio Claro, 9 de abril de 1950
Osvaldo Alves da Silva
Jose Severino da Costa
Mozart Gonçalves
Nicanor de Castro
Joel Pereira
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