terça-feira, 8 de janeiro de 2013

A tragédia que aconteceu em Passos em 1909.

 

Eu me lembro que a cidade de Passos era vista como terra de jagunços. Acho que se deve a este fato marcado em negrito no texto abaixo quando, numa emboscada foram assassinados os principais líderes políticos adversários do então governador Wenceslau Brás. Depois do ocorrido, conta-se que Passos ficou sem uma governança e na mão dos jaguços. Hoje, é uma cidade próspera e muito agradável. Conheça um pouco mais. Minha irmã, Alice mora lá com a família (o marido João e o filho Gabriel). Reside lá também meu genro, William Jonathan Monteiro,  que me indicou este site. Ele faz parte de um grupo que trabalha pela preservação da história passense.

 Encontre informações detalhadas sobre este crime no site da família Lemos.

http://familialemos.org/index.php/Casos-e-Historias/Neca-Medeiros-de-Passos 

 

 

O Golpe de 26 de setembro de 1909 : Assassinato do Coronel Manoel Lemos de Medeiros ,
(Coronel Neca Medeiros ), Presidente da Câmara Municipal de Passos


A Historia Política de Manuel Lemos de Medeiros : O Coronel Neca Medeiros da cidade de Passos
Extraída da Edição de 1998 ,Comemorativa do Sesquicentenário da Câmara de Passos , por Antonio Grilo
Aos 28 de novembro de 1889 , as 7 horas da noite , na Casa da Câmara Municipal , o Coronel Neca assistiu a sessão comemorativa da adesão que a Câmara e o povo prestavam `a Republica , nova forma de governo proclamada a 15/11/1889 no Rio de Janeiro. Nesta mesma sessão foi aprovada a nomeação de uma comissão que ficaria responsável pela organização de uma guarda cívica . Dentre os escolhidos para esta comissão estavam Caetano Machado Curvelo e Francisco Lemos de Medeiros . Foi também aprovada a criação de uma Guarda Noturna . Foi lavrada uma ata que foi assinada por varias pessoas presentes , entre as quais , Caetano Machado Curvelo e Manuel Lemos de Medeiros .
Em 11/04/1893, em sessão ordinária da Câmara Municipal, Manuel Lemos de Medeiros toma posse como vereador eleito pela primeira vez .
Em 1894 , os Irmãos Medeiros (
Manuel Lemos de Medeiros e Francisco Lemos de Medeiros ) eram importantes figuras entre os diversos líderes rurais do grupo conhecido como "lavouristas" ,onde predominavam os interesses agrários . No grupo contrario , chamado de "governistas" ou "gomistas" , capitaneado pelos recém chegados Irmãos Gomes (Francisco Gomes de Souza Lemos e Jayme Gomes de Souza Lemos), predominavam os interesses comerciais , industriais e urbanos.
Originou-se aí os dois grupos politicos famosos , os "patos" (gomistas) e os "perus" (lavouristas).
Em 24/01/1898, os vereadores demonstraram sua preocupação com a demora da chegada dos trilhos da Estrada de Ferro de Muzambinho (e ainda demoraria mais de 20 anos para a primeira locomotiva chegar a Passos).
No dia 08/06/1901 , o Cel. Neca Medeiros renuncia ao cargo de vereador e publica o texto no "Comércio e Lavoura" do dia 9.
Nos dias seguintes governistas e lavouristas travaram violentas batalhas através de jornais e folhetins .
No dia 30/06/1903 foram roubados e destruidos por jagunços , os livros de alistamentos de eleitores .
Os governistas acusaram a oposição lavourista pelo roubo dos livros insitindo que os alistamentos lhe eram desfavoráveis.Os lavouristas revoltados acusavam os da situação de manipularem os alistamentos.
O Governo do Estado aceitou as reclamações dos Gomes , anulou todos os alistamentos e prorrogou os mandatos dos Gomes (governistas) e as eleições até 1904.
Em 1904 as eleições encerram a tradição dos governistas : a Câmara em sua quase totalidade , torna-se representação do lavourismo , com Manoel Lemos de Medeiros , o Neca Medeiros , na Presidência e como seu Agente Executivo,tomando posse no ultimo dia do ano de 1904.
Em 1905 aparece em Passos o primeiro automóvel.
Neca começa em 01/01/1905 a sua gestão , que teve aspectos extremamente positivos e cuja administração foi considerada boa até por alguns de seus adversários:
Criou a primeira escola pública no Córrego do Ferro (hoje Itaú de Minas) e varias escolas rurais no município.
Em 1906 implantou a primeira linha telefônica com Guaxupé .
Em 27/10/1907 , a Câmara fazia editar o primeiro número do jornal Cidade de Passos , nas oficinas do extinto Comércio e Lavoura.
Ampliou o fornecimento de água com a substituição de boa parte da rede de canalização de água.
Participou na construção da Casa Paroquial,em importantes modificações no Matadouro e nas ações permanentes de reparos e ampliações de estradas , pontes e ruas em todo o município.
Sua maior realização foi o Grupo Escolar , conforme o próprio Cel Neca relata no Relatório do Triênio 1905-1907 :"Ante a obra grandiosa da reforma do ensino iniciada neste Estado pelo ilustre mineiro e notável estadista Dr. Carvalho Brito , afaguei desde logo a idéia de trabalhar tenazmente para que a nossa terra , onde tanto se faz sentir a necessidade das escolas ao lado do amor que este povo vota `a instrução , pudesse também , cidade importante e populosa que é , imitar o exemplo de suas co-irmãs , onde já se vão fazendo sentir os benéficos efeitos dessa notável instituição de ensino que se chama Grupo Escolar."
No mesmo dia 27/10/1907 , em que circulava o primeiro número do "Cidade de Passos" , foi lançada a pedra fundamental do Grupo Escolar.
Em 1908 , Neca Medeiros entra em atrito com Wenceslau Brás Pereira Gomes , advogado da parte contrária, num processo que envolvia patrimônios e heranças familiares , no Fórum de Monte Santo de Minas . A partir daí cortaram relações . Uma vez que logo depois , Wenceslau chega a Presidência do Estado , para tentar amenizar politicamente as coisas , Neca Medeiros resolve homenagear o governante e inaugura o Grupo com o nome de Grupo Escolar Wenceslau Brás (nome que permaneceu até 1998). Apesar disto Neca não conseguiu restabelecer as relações políticas para garantir a administração local . Wenceslau Brás , escudado no seu poderoso Secretário de Segurança , foi o artífice do Golpe de 1909 que levou Neca Medeiros `a morte trágica , na cozinha do quartel da polícia,em 26/09/1909. O estudo detalhado deste golpe se encontra no livro "Capanga e Jagunço" do Prof. Antonio Theodoro Grilo , previsto para publicação em 1999 .Foi também relatado de forma romanceada no livro " Chapadão do Bugre" de Mario Palmério.
Em 1909 , a vida da cidade era caracterizada por agitações políticas e manifestações de violência . Inquéritos e crimes conhecidos de todos e cuja identificação dos autores era de conhecimento público continuavam sem solução.
A Secretaria de Segurança do Estado envia um Delegado Militar , o Alferes Isidoro Correia Lima com o objetivo de desmantelar as milícias particulares e desmontar o domínio dos coronéis da oposição . O delegado se apresenta `a Câmara e ao Agente Executivo , Neca Medeiros .
Os coronéis Neca Medeiros , Chico Medeiros , Juca Miranda e outros ,acreditavam ter o Alferes inteiramente sob controle.
A edição do Cidade de Passos no domingo,05/09/1909,publicou ataques `a polícia e a Isidoro, chamando-o de "barriga de farelo" , um "bunda-mole" .
Os coronéis falharam de forma quase pueril ao não lembrar que a força policial pertencia ao quadro do Estado e não do município.
Em 26/08/1909, Juca Miranda mata seu cunhado Joãozinho Modesto por questões familiares. Todos sabiam disso e acreditavam que êle ficaria impune por ser um dos líderes mais influentes do lavourismo e braço direito de Neca Medeiros. O Alferes tem então o motivo que necessitava para um inquérito que permitisse reunir todos os chefes para serem ouvidos sem causar qualquer desconfiança com relação a algum plano secreto que êle tivesse.
O plano secreto era convocar para depor , um a um , os 18 principais líderes do lavourismo que seriam levados ao salão do pavimento superior da cadeia , onde funcionava a Câmara . Durante o depoimento, o soldado Furquim, a paisana, previamente escondido no "quartinho do pinico" , os enforcaria por trás , evitando ruídos e sangue .Para isso o Alferes tinha comprado boa quantidade de corda e uma machadinha, na venda do Vilobaldo,no Largo da Matriz.
O plano fracassou porque Furquim não conseguiu enforcar Juca Miranda , que lutou e quase teve sua cabeça decepada pelo Alferes , com a machadinha . Juca conseguiu fugir , e foi morto a tiros já perto da esquina,defronte da casa do Juiz. Houve pânico e um corre-corre desenfreado . O Alferes manda a tropa abrir fogo contra o grupo , forma-se um tiroteio na esquina da rua Direita , entre a cadeia e o quartel (hoje, entre o Fórum e a Casa Confiança) .
Quando a figura mais destacada do lavourismo e Presidente da Câmara , Neca Medeiros , saiu da Câmara em direção ao quartel , viu Jorge Davis caído sobre as pedras da calçada . Pegou no braço do Alferes e saiu andando e reclamando com êle sobre esta morte .O soldado veio por trás e atirou nas costas do Cel. Neca , que gritou alto , empurrou o Alferes para o lado e entrou no quartel já meio tonto. A polícia entrou junto . Neca correu para a cozinha e ia fechar a porta quando a polícia o empurrou para dentro com porta e tudo.Jogaram êle sobre o fogão e atiraram . Tiraram seus pertences de valor e suas botinas.
O Jorge Davis caído na esquina , não morreu , a bala acertou em cima do relógio .
O Alferes Isidoro Correia Lima e seus cinco praças : Miguel Furquim Machado , José Barroso , Theodoro Diamantino, Bertolino Octaviano Gomes e José Sebastião Moreira de Melo , fugiram para Santa Rita de Cássia . O relógio da Matriz marcava 13 horas quando cessou o Golpe em si , marcando para sempre esse distante domingo de 26/09/1909 .
Houve reuniões inflamadas. Houve concentração de jagunços na casa velha do Cel. Chico Medeiros .
No dia seguinte , sob o peso fúnebre dos sepultamentos , e talvez pela ação moderadora do Cónego João Pedro Ferreira Lopes , tinham serenado bastante os ânimos . Os jagunços foram dispersos já no segundo dia e nunca mais apareceram.
Uma semana depois chegaram os "cavalarianos", um batalhão de cavalaria, e houve uma "caça `as bruxas" na cidade . Qualquer denúncia era motivo de prisão. Prenderam o Alferes , o Chico Medeiros , e varios outros.
Depois da devassa , o processo e o júri avançaram até 1910. Ao final dessa agonia jurídica , a cidade assistiu a uma espécie de pacto : para não condenar os soldados , absolveram (quase) todos os outros ...

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