terça-feira, 3 de maio de 2011

AS MADRUGADAS



(Na porta da casa da Nivalda, à noite, ponto para serenatas)
NA DÉCADA DE 50
Quando a noite caía, o sereno molhava as pacatas ruas de Carmo do Rio Claro. Não tinha televisão. A opção eram os filmes do Cine Guarani e o teatro. Job Milton fez teatro no Carmo em 1944. A diretora foi Nicotinha Paiva. A peça de Oduvaldo Viana Vilho "Feitiço". Dona Nicotinha era auto didata. O pai era músico, violonista (Seu Quinzinho-Joaquim Paiva). Ela frequentava o Rio de Janeiro, as peças e operetas do Teatro Municipal. A banda Carolina Jazz do Tetelo animava os bailes carmelitanos. A cidade tinha então três bandas de música.

AS SERENATAS

E quando a noite cobria a cidade, saíam para as ruas, os seresteiros. Que saudades das serenatas! Como éramos muitas meninas, ganhávamos muitas serenatas. "Boa noite, dia ao menos boa noite, abra ao menos a janela, porque eu canto é pra você... Era uma delícia acordar com as serenatas. Uma vez, por volta de meia noite, estava voltando para casa, tinha meus 23 anos. Ouvi de longe "Lua, manda a tua luz prateada despertar a minha amada..." Uma lua cheia cobria o céu do Carmo. Quando cheguei ao alpendre da casa, vi que a voz era do Fordinho, que cantava sob a cadência do Luis Pandeiro. Desde já, sabia que presenciava ali um dia histórico. Breve, o Luís morreria e muito depois, o Fordinho. A serenata era para minha irmã, Ana Maria.
Hoje fico pensando, que as serenatas em nosso alpendre, quase diárias, eraM também uma forma da turma esticar mais um pouco no alpendre da Casa da Nivalda, num tempo em que não tinha o que fazer nas madrugadas.
Uma vez, minha mãe levou um susto ao abrir a porta às seis da manhã e dar com o Big Boy e o Duda - nossos queridos amigos - comendo o pão do Joaquim Pio, que era deixado na lata... Começava mais um dia na Casa da Nivalda.

Nenhum comentário:

Postar um comentário