segunda-feira, 23 de maio de 2011

OS NOSSOS PORÕES...



"O passado é uma ameaça. A memória é o porão da alma. Todo mundo tem um porão dentro de si. E todos nós temos medo de um porão. O dos outros e o nosso próprio" (Tarde da Noite/Luiz Vilela)


Esse livro remontou-me a meus porões, os avessos das casas. Nós, crianças, frequentávamos naturalmente os porões. Os lá de casa eram de vermelhão e usados para passar roupa e para brincar de pique. As janelas eram largas e serviam de esconderijo. O porão da casa da minha amiga era tão antigo quanto a casa. Havia nele um chão de terra batida e uns tocos de madeira, onde ficávamos sentadas, conversando ou fumando escondido... E tem os porões da Fazenda Água Limpa, de pé direito alto, com toras imensas de madeira de lei. Num deles, papai guardava o arroz colhido, os sacos empilhados ou guardados em enormes reservatórios de madeira. O cheiro é inesquecível, assim como o ventinho fresco que corre nos porões. No outro, meu tio Toninho pegava morcegos, desorientando-os com uma vara. Ou, pegava passarinhos pelo puro prazer de soltá-los no porão e tentar pegar de novo na porta... Coisas desse homem menino tio da minha infância.



No tempo do meu pai, coisas de arreios e de cavalos ficavam num dos outros porões. Alguns são forrados com madeira, acredita-se que fossem usados como senzala. Meu sobrinho já achou moeda antiga no chão do porão. Isso sempre me encantou, pressentir as presenças que ali habitaram, o cheiro de naftalina, guardados...



E há ainda porões que não entrei e que conheço só de esticar o olho, sabendo que tudo ali é histórico e dá testemunho do tempo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário