domingo, 16 de fevereiro de 2014

Crônicas de Belô - Os escritores que conheci

Uma vez entrevistei Roberto Drumond e fiquei sua amiga. Ele estava para lançar ´Sangue de Coca Cola´ e nos encontramos num bar da Savassi, onde ele me deu um livro. Era vaidoso. Era a cara da Savassi. Muitas vezes cruzei com ele por lá. Uma vez, estava indo para a Savassi, quando vi lá longe uma blusa laranja brilhando ao sol. Era ele. Que linda blusa Roberto! - Comprei em Amsterdã.

Outra vez,  no mesmo lugar, Contorno esquina de Cristovão Colombo,  quis contar para ele o princípio do meu livro Hortênsia Paineira. Comecei: “Esta história é e não é mera coincidência. Não se preocupe...Ele interrompeu e  pediu:  Para, para, se não corro o risco de copiar. Vê se pode! Hoje ele virou estátua de pedra e vê a Savassi revigorada, com uma fonte logo à sua frente. Tem também a companhia da escritora Henrique Lisboa, que carrega um livro aberto do outro lado da praça
Eu tive a honra de conhecê-lo vivo e exuberante!
Olhando esta foto, fiquei com muita saudade da energia gostosa de Wander Piroli.
Estudei na FAFI-BH, atual UNI-BH. Faço parte das primeiras turmas de jornalismo e muitos colegas estão hoje ocupando lugares nas editorias. A escola era ali na Av. Antônio Carlos, em um prédio de dois andares. Ao redor, havia lojas, oficinas e o meretrício da famosa Lagoinha. Lagoinha me lembra o escritor Wander Piroli, uma figuraça que tive a oportunidade de conhecer e de trabalhar. Foi chefe da assessoria de comunicação da Belotur. Formado em Direito, tornou-se um dos mais talentosos contistas mineiros da segunda metade do século XX. Mas foi jornalista por toda a vida.


 Eu ia a pé pela antiga Lagoinha, o crack ainda não existia e não estava debaixo dos viadutos. Aquele bairro, tradicional na história de Belo Horizonte, vim a  a conhecer mais de perto no convívio com  escritor Wander Piroli e outros colegas frequentadores da boêmia de BH:. Trabalhei com Alencar Abujanra, Roberto Araújo, Bea Morais, Lenora Rolf, Caio Martins, Tião Martins, Fernando Rabelo (filho do José Maria Rabelo e fotógrafo), Irene Vucovix, Gilberto Menezes, Lauro Diniz (depois foi para a Globo), Tom Zé, Bandeira de Melo... e outros que agora não me recordo o nome. Eles passaram ao longo do tempo nos dez anos em que trabalhei como estagiária e depois jornalista.
Meu caminho da roça era o Maleta, aonde ia religiosamente todas às noites, nos tempos da pensão. Era quase a minha casa a Cantina do Lucas. Levava sempre a última poesia no bolso e ali lia para Paulinho Assunção, que gostava de ouvir, tomando o seu whisky. Na mesa ao lado, um poeta todos os dias ficava escrevendo nos guardanapos. Por ali passavam os meus professores da FAFI, intelectuais, artistas, estudantes, vagabundos da madrugada. Todas as noites passava por lá o escritor Murilo Rubião. Numa destas, autografou um livro seu para mim. Muita honra. A Rosângela Lemos Pereira, minha amiga Rô era amiga chegada de Murilo Rubião. Contou-me que uma noite dormiu na banheira da casa dele, forrada por um colchão. Era um homem solitário e morava em um apartamento na Rua Goitacazes, perto do Maleta.

Carlos Herculano Lopes com França Júnior, que faleceu em um crime terrível na Prudente de Morais. Herculano foi meu namorado. Estudou na FAFI BH também. Hoje trabalha na Editoria de Cultura do Jornal Estado de Minas.

Carlos Herculano Lopes (Coluna MG 1956). Romancista, contista, cronista e jornalista. Com 11 anos muda-se para Belo Horizonte, forma-se em jornalismo em 1979 e inicia sua carreira no jornal Estado de Minas. Estreia na literatura com o livro de contos O Sol nas Paredes, publicado em 1980, com recursos próprios, e vendido de mão em mão em bares e faculdades da cidade e lança seu primeiro romance, A Dança dos Cabelos, em 1984. Em 1989 desliga-se do jornal e muda-se do Brasil, vivendo alguns meses na Argentina e na Espanha. Volta a Belo Horizonte e em 1996 retorna ao Estado de Minas, onde mantém uma coluna semanal dedicada à literatura.

Conheci Adão Ventura na década de 70. Fez poesias de protesto contra o preconceito.
Adão Ventura Ferreira Reis nasceu em Santo Antonio do Itambé, Distrito do  Serro, MG, em 1946. Advogado, formado pela Universidade Federal de Minas Gerais, autor de livros de poesia, sendo os primeiros: Abrir-se um abutre ou mesmo depois de deduzir dele o azul,(Belo Horizonte: Edições Oficina, 1970), As musculaturas do Arco do Triunfo (Belo Horizonte: Editora Comunicação, 1976). Já participou de antologias poéticas em vários países. Teve um de seus poemas incluído na antologia Os Cem Melhores Poemas Brasileiros do Século, organizada por Italo Moriconi ( Editora Objetiva - SP).

 Adão Ventura morreu em Belo Horizonte, em junho de 2004, quando preparava a edição de suas obras completas, reunindo todos os livros publicados e dezenas de poemas inéditos. Viveu os últimos dias em Passos, cidade vizinha de Carmo do Rio Claro.


PARA UM NEGRO

para um negro
a cor da pele
é uma sombra
muitas vezes mais forte
que um soco.

para um negro
a cor da pele
é uma faca
         que atinge
muito mais em cheio
         o coração.



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